|Capítulo 15|

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     Àquela altura, Isa já estava cheia de feridas, as quais cicatrizavam rapidamente. Descabelada, sangue por todo o corpo, arranhões e olhos roxos eram apenas algumas marcas. Mas o que impressionava era o seu sorriso. Ela sorria como se nada daquilo estivesse acontecendo. Como se sua boca não estivesse cortada ao meio. Como se ela já estivesse voltando para casa. Como se nada estivesse doendo. Como se ela quisesse ser forte, se mostrar forte.

  — Como pode sorrir em uma hora dessas? - Rayna perguntava, confusa e com raiva, pois ela queria dor, desespero, angústia, medo, choro. Mas ela não via nada disso naquela criança. Ela apenas via um sorriso. Um pequeno sorriso que era lindo apesar da boca estar cortada e sangrando.

  — Você não vê? - Isa respondeu. — Seus métodos de tortura não me afetam. Não mais. E eu estou feliz. Pelo menos minha família está segura e longe de você.

  — Então é isso? Eu devo mudar meus métodos? Que tal trazer sua família aqui para uma bela sessão de tortura coletiva, hein? - a garotinha riu ao perceber que suas palavras estavam afetando Rayna profundamente.

  — Boa sorte para encontrá-los. Eles estão bem escondidos.

  — Está duvidando das minhas capacidades?

  — Só estou dizendo que eu converso com eles todos os dias com a força da mente. - a mulher riu.

  — Isso não existe.

  — Se você diz... - claro que o que Isa falava não era completamente verdade. Seus irmãos e seu pai não estavam escondidos. Na verdade, nunca descansaram e continuaram a procurando. Mas a verdade era que, sim, Isa conversava com eles pela mente. Pelo menos assim eles podiam saber que ela estava viva. Uma daquelas conversas foi feita naquela noite, assim que Rayna foi dormir.

        *Conexão com a mente on*

       "Isa?" - foi Pedro quem começou.

      "Estou aqui." - ela respondeu.

     "Graças à Deus!" - disse Tae. - "Como você tá?"

    "Bom, as feridas cicatrizam rápido."

   "Quando eu achar essa desgraçada, eu vou..."  - pela primeira vez, Suga realmente parecia irritado.

   "Calma, papai... Tá tudo bem." - Isa o interrompeu. - "Aliás, como você voltou tão fácil assim?"

   "Isa, eu nunca desliguei." - Suga disse.

   "COMO ASSIM?!! Pera, que? Então por que nos tratou daquela maneira?" - Isa perguntou.

   "Eu tive que fingir desligar para o meu pai. Só assim ele deixaria eu voltar para casa. Ah, e aquelas coisas que eu disse à você... Era mentira, você sabe, né? Eu queria parecer convincente, te amo muito, minha pequena."

   "Eu sei, papai. Também te amo muitooooooo! Mas... e quando ele descobrir?"

  "Aí a gente pensa em outra coisa."

  "Isa..." - Pedro interrompeu. - "Tem certeza de que você não faz a mínima ideia de onde você tá?"

  "Tenho... Mas eu vou descobrir... Vou me soltar e vou reencontrar vocês. Eu prometo."

  "Nós vamos salvar você. Nem que seja a última coisa que a gente faça." - Tae disse.

  "Tudo bem... Vai ficar tudo bem..."

     *Conexão com a mente off*

     Isa tentou se soltar. Em vão. Ela acabou acordando Rayna com o barulho das correntes. Então ela teve uma hipótese: se a caçadora dormia ali, provavelmente ela tinha escondido Isa em uma casa, mas esta seria muito comum e fácil de ser encontrada. Então Isa pensou duas vezes: uma cabana. Uma cabana bem afastada de todos. Essa sim seria mais escondida e mais difícil de ser encontrada. A parte interior de uma cabana na floresta. Era isso! Era aonde Isa estava!

  — Eu já disse que não adianta tentar se soltar. - a mulher disse, descendo e, em seguida, andando em direção à garotinha. — Está com fome? - e ela ainda perguntava? Isa não sabia quanto tempo tinha conseguido ficar sem comer e ela não sabia como ainda estava viva. Estava pálida e fraca pelos efeitos da verbena. Precisava de sangue. Então a outra pegou uma bolsa de sangue de seu bolso e a jogou no chão. — Fique à vontade para comer. Ah, é mesmo, você não pode. - ela ria ao ver Isa presa. As veias e presas dela apareceram e ela se remexeu nas correntes, tentando se soltar. Aquele sangue era tudo o que ela queria. Rayna continuou rindo e subiu, deixando Isa sozinha olhando para aquela bolsa que ela não podia degustar.

  — VOCÊ VAI MORRER, DESGRAÇADA! - ela gritou pra ter a certeza de que a outra tinha escutado.

  — NÃO LIGO!! - a outra gritou de volta. — EU VOU REVIVER DEPOIS MESMO!! - ela continuou rindo e Isa fechou os olhos para tentar dormir e esquecer tudo aquilo. Depois de um tempo, ela conseguiu.

Criada por DemôniosWhere stories live. Discover now