—Pedacinho do céu, eu sou meio surdo, não meio cego. As bombas eram altas, não luminosas. Vi você e ele na festa. Estou preocupado que você não saiba o que está fazendo.

Me virei de frente pra ele e falei:

—Sei, estamos nos beijando. Se algo mais acontecer, vou saber também, um relacionamento precisa de consentimento de ambas as partes para existir. Relaxa pai, não vou quebrar se cair.

—Eu sei disso. — suspirou — É só um pouco difícil pra mim saber que um dos meus jogadores terá mais tempo com a minha filha do que eu nos próximos quatro anos. Se algo acontecer com você, quem estará lá é ele, não eu.

—Em compensação, você terá uma filha engenheira em nanotecnologia! Não é o máximo? — tentei anima-lo.

—É. Tenho a sensação de que você vai fazer muito bem para o mundo, mas isso não faz com que a saudade diminua.

Abracei ele apertado.

—Eu te amo, pai. Obrigada por não desistir de mim nas piores horas.

—Nunca. — me abraçou de volta — Nunca desistirei de você, não importa o que aconteça. Não foi no pior momento que desisti, agora que é o melhor vou jogar a toalha?

Puxei a cadeira para sentar, curiosa. Sempre me perguntei como foi que tudo aconteceu, mas nunca tive coragem de querer saber mais do que o básico. A hora de perguntar é agora.

—Pai, como foi que aconteceu? Sei que você não estava aqui, mas do que você sabe, o que pode me explicar?

Ele encostou na bancada se lembrando do dia, pela expressão no rosto.

—É genético o problema, não preciso explicar como ele surgiu. Mas, como você já sabe, eu estava treinando o Fire Eagles da época para a final do campeonato. Naquela noite cheguei mais cedo, pronto para fazer o seu lanche e dormir, mas havia algo errado na casa. O silêncio. Você está sempre fazendo barulho.

"Subi as escadas preocupado, achando que você tivesse ficado na detenção e eu te deixei sozinha na escola. Abri a porta do seu quarto, e não te vi em um primeiro momento. Só que sua mochila estava lá, você não estava na escola portanto. Quando entrei para colocar a mochila no lugar certo, vi você caída e entrei em parafuso. Gritei o Peter e nós ficamos gritando um com o outro."

Dei risada disso, sabendo bem como a cena é.

—O que vocês fizeram? — questionei.

—Nada. Eu tentei fazer alguma coisa, ele não deixou porque eu não era profissional nisso e poderia piorar a situação com alguma força desnecessária na massagem cardíaca, resultando em algum ferimento pulmonar. A emergência chegou pouco depois que o Peter ligou, eles te levaram e eu não pude ir junto porque estava desesperado. Eles não sabem exatamente quanto tempo você ficou desacordada, mas estimam meia hora.

Assobiei.

—Como descobriram o meu problema?

—Sua mãe. É genético, raro, mas bastou eu contar da sua mãe para o médico te levar para a sala de cirurgia. O problema é bem menor do que todos imaginam, os estragos é que são grandes. Um furinho microscópico que você não tem, e tudo para por causa da falta dele. Sabe querida, é por isso que o coração não é o órgão do amor. Uma falha minúscula na genética e na formação, e ele desiste de tudo. O amor não desiste fácil, principalmente por algo tão pequeno.

Amor Falso - Série Endzone - Livro 3Where stories live. Discover now