Capítulo 16: Inevitável

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Não. Não. Não. Aquilo só podia ser algum tipo de brincadeira. O que eu estava fazendo parada a um maldito hospital? Dei um sorriso, nervosa, apreensiva, sem saber o que pensar. Meu motorista me olhou, parecendo não saber o que dizer. Eu poderia fazer tantas perguntas naquele momento, mas só uma conseguiu sair de minha boca.

- O que tá acontecendo?

- Âmbar. – Ele pronunciou meu nome com seriedade. Ele nunca tinha falado comigo daquele jeito. – A sua tia não me pediu pra que eu te trouxesse aqui.

- Quem pediu, então? – Questionei, quase sem voz.

- Ele. – O motorista apontou para o advogado que vi outro dia na mansão. – Ele vai te levar pra casa quando tudo acabar.

- Tudo o que? – Perguntei com medo. – Eu não quero ficar aqui com ele.

- Ele vai te explicar tudo. – O motorista forçou um sorriso para mim e saiu em direção ao carro. Pensei em correr e ir com ele, mas não tive forças. Ainda não sabia o que estava fazendo ali.

- Âmbar. – O advogado forçou um sorriso para mim e se aproximou. – Vamos, melhor que a gente converse lá dentro.

- Eu não vou entrar em hospital nenhum com você. – Rejeitei. – Eu nem sei quem você é.

- Por favor, Âmbar, nesse momento sou a única pessoa em quem você pode verdadeiramente confiar. – O advogado insistiu. – Por favor.

- Eu sequer sei seu nome. – Continuava na defensiva. – Eu não quero ficar perto de você.

- Estamos rodeados de pessoas. – Ele apontou para várias pessoas. – Mesmo que eu quisesse fazer alguma coisa com você, nem teria como.

- Certo. – Concordei. – E o que eu tô fazendo aqui?

- Meu nome é Luís. – Ele ignorou minha pergunta. – E acho melhor a gente conversar lá dentro, senhorita Âmbar.

Não respondi nada e apenas o segui. Entramos no hospital e ele falou alguma coisa com a recepcionista. Ela entregou dois crachás e seguimos andando pelos corredores. O advogado parou de repente e apontou para algumas cadeiras da sala de espera.

- O que minha tia tem? – Questionei ao sentar.

- Eu não sei. – Ele respondeu. – Eu não queria que fosse dessa forma, mas terá que ser. Eu passei na sua casa pra te buscar e conversar com você, mas você não estava. O motorista disse que te traria até aqui, mas eu preferia que tivéssemos essa conversa na mansão.

- O que tá acontecendo? – Voltei a perguntar. – Ela tá doente? Eu posso vê-la?

- Âmbar... – Ele respirou fundo e segurou minha mão. O advogado olhou no fundo de meus olhos e apertou minha mão. – Eu quero que você seja forte. Não é fácil o que eu vou te dizer agora.

- Fala de uma vez. – Pedi. – Não adianta ficar enrolando, se é inevitável falar o que você vai falar. Prolongar sofrimento é só uma forma de sofrer mais.

- A sua tia... – Ele voltou a fazer uma pausa e apertou mais forte minha mão. – A sua tia Sharon estava muito doente, mas nunca quis me contar o que tinha. E de uns dias pra cá, ela estava se sentindo muito mal e eu a trouxe para o hospital.

- E descobriram o que ela tem?

- Já tinham descoberto, mas ela não quis me falar. A questão, Âmbar, é que a Sharon não resistiu e faleceu.

- O que? – Levantei da cadeira. – Isso é brincadeira, né? Ela tá bem, não tá?

- Não. – Ele negou. – Eu sinto muito, Âmbar, mas ela faleceu.

- Eu nem tive a chance de me despedir dela. – Protestei. – Por que não me disseram antes? Ela era a única família que eu tinha. Eu tinha o direito de me despedir.

- Ela não queria te ver, Âmbar. – O advogado tentou ser delicado, mas aquilo me atingiu em cheio. Ela não queria me ver. – Ela pediu que todo mundo escondesse isso de você porque ela não queria te ver.

- Isso não pode estar acontecendo. – Forcei um sorriso ainda sem acreditar na notícia.

- Eu sinto muito, Âmbar. – O advogado olhou para mim com piedade e eu balancei a cabeça negativamente. – Agora eu vou te levar pra casa e vou agilizar o processo de enterro. Amanhã de manhã será o enterro da Sharon.

- Eu nunca imaginei que escutaria isso. – Disse incrédula.

O advogado foi em direção a outro lado do hospital e eu voltei a sentar. Eu não sabia o que sentir ou o que fazer. Não podia ser hipócrita e dizer que estava devastada com a morte de Sharon, nunca criamos tal vinculo para isso, por mais que ela fosse a única família que eu conhecia. Também não podia ser tão cruel e dizer que estava aliviada por poder ser quem eu sempre quis. Sharon foi a única família que eu tive por dezoito anos e mesmo sendo tão ausente, era a única pessoa que tinha estado comigo. Nunca tinha parado para imaginar um mundo sem ela. Ela tinha me tirado de um abrigo quando meus pais faleceram num terrível acidente de carro. Ela não deixou que eu fosse adotada por qualquer um e voltou do exterior para me criar. E por mais que ela fosse uma pessoa fria, devia tudo a ela. Tudo que eu tinha era graças a ela. Sem ela, poderia estar morando sabe-se Deus aonde ou até já nem estaria viva. Peguei meu celular e vi as últimas chamadas: Jazmín, Delfina e Simón. O medo não me deixou ligar para nenhum deles. Não sabia o que fazer. Estava sozinha.

Levantei da cadeira e sai andando. Deixei o crachá na recepção e sai do hospital. Andei alguns quarteirões enquanto minha ficha começava a cair. As lágrimas caíram e não fiz nenhum esforço para contê-las. Eu estava completamente sozinha. Por que ela não quis me ver antes de ir? Por que não deixou que eu me despedisse? Minha visão ficou embaçada e me apoiei em um poste. Passei a mão pelo meu cabelo, desesperada. Algumas pessoas se aproximaram e eu juntei o pouco que sobrava de mim e continuei andando sem responder ás perguntas deles. Só tinha um lugar aonde poderia ir.

Crime Perfeito | SimbarTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon