— Eu só estava mostrando um livro interessante para ela — Alex tentou se explicar.
— Na sessão de astronomia? — indaguei desconfiada.
Eles achavam mesmo que eu iria acreditar.
— É... — disse ela olhando para ele sem entender — eu estou me interessando por essa área agora. Estrelas, cometas, planetas... sabe?
— Não, não sei — respondi.
— Se quiser eu posso te mostrar qualquer hora — ela olhou para o Alex — ou melhor, o Alex vai te mostrar ele entende muito sobre isso.
— Não, obrigada — rir — vocês viram a dona Leonor por ai?
— Ela esta em horário de almoço — falou Alex e olhou o relógio — deve voltar daqui uns dez minutos. Pode esperar lá embaixo, ou aqui — gaguejou – se quiser.
— Ata — pensei em não atrapalhar mais — eu vou esperar lá embaixo.
— Ok! – confirmou ele.
Me virei, mas percebi Bianca dando um beliscão em Alex e dizer
— Astronomia? Que ideia brilhante — o repreendeu nervosa.
— Ai — gemeu o garoto.
Eu rir.
Não demorou muito para ela chegar. Assim que me viu, abriu um largo sorriso e os braços para me abraçar. Levantei e a abracei.
— Estou tão feliz por você. Sei que vai ser a vencedora desse ano. Você tem lido tanto, se dado tanto para este projeto. Este ano ele é seu.
— Mas dona Leonor eu não me inscrevi esse ano. Desde que perdi ano retrasado eu desistir desse concurso.
— Ficou entre as cinco, mostrando que seu potencial ia muito além. Nunca na história do concurso uma caloura conseguiu ficar entre as cinco finalistas. Esse ano ele é seu.
— Dona Leonor, ano passado foi a mesma coisa... — tentei convencê-la
— Mas ano passado você não se inscreveu. — me interrompeu — Esse ano eu te inscrevi.
— Eu sabia — suspirei — mas como você conseguiu um texto meu para o cadastro?
— No histórico da biblioteca — respondeu sorrindo e apontou para o Alex que descia a escada — o estagiário me ajudou.
Olhei para ele séria.
— Você a ajudou? — perguntei inconformada.
— Ela me forçou — apontou pra Eleonor em defesa — caso contrário teria que ficar na sala das crianças no fim de semana.
— Estagiário não trabalha nos fins de semana, sonso — disse Bianca dando um cutucão no garoto.
— A, é — lembrou — Droga!
Que situação, pensei. Respirei fundo.
— Ok! Mas e agora? Vocês vão me ajudar a elaborar e corrigir esse texto. — Apontei para cada um. — Vocês me colocaram nessa, agora se virem.
Meus tempo livre havia acabado de vez. Além de ter que estudar para o vestibular, tinha que me preocupar também com o concurso. Minha mãe dizia que a bolsa era sim, importante para mim, mas caso eu não conseguisse, era o vestibular que iria garantir meu futuro e disso eu não podia abrir mão.
Resumindo a história, voltei a minha antiga rotina. Ia para casa apenas para jantar e ainda assim, logo após a janta eu corria para o quarto para terminar de ler um livro ou praticar meu inglês.
Ricardo e meu pai pela primeira vez diziam a mesma coisa em relação ao meu tempo. Eu não tinha tempo de qualidade com ambos, na verdade, quase não os via durante semana. Pensando melhor, eu não via Ricardo e quando o via, nossas brigas se tornaram constantes devido a isso. Até ele conseguir um emprego temporário na oficina de um amigo dele. Ele se ocupava à tarde e a noite passava na academia. Os fins de semanas eram piores, porque ele ficava livre e eu não.
— Eu sou um jovem que tem uma namorada gata, mas que não pode curtir o sábado com ela, porque ela prefere os livros do que mim. — Reclamou zangado pelo telefone.
— Amor, já discutimos isso. É o meu futuro! — Falei na intenção de acalma-lo.
— Eu sei, Pietra. Mas isso já faz um mês. — Se calou, suspirando alto. — Pensei que isso acabaria quando você entregou a merda do texto.
— Foi apenas a primeira parte, Ricardo — tentei manter a voz firme e calma, porém já havia repetido isso para ele mil vezes — eu não vou falar novamente sobre isso.
— Só uma noite. É o que estou te pedindo, apenas essa noite — implorou.
Pensei bastante, olhando para a tela do computador a minha frente. E vendo que o silêncio se prolongava, acabei salvando o arquivo e fechando a página.
— Está bem. — Concordei — mas tenho que voltar antes da meia noite — Consegui ouvi-lo dando um "isso" do outro lado da linha. — E pra onde você pensando em me levar?
— Para festa do Gustavo. — contou animado.
— Logo o Gustavo? — suspirei.
— Sim. Quero te apresentar para os meus amigos.
— Ata.
— Porque disse "Ata"? — Perguntou desconfiado.
— Nada. É que a Bianca não me fala coisas boas desse Gustavo.
— Então diga para essa Bianca que ela é uma desinformada, já que não é chamada para nenhuma festa por causa do namorado mané dela.
— Ricardo! — O repreendi.
— O que foi? Só falei a verdade.
— Será que devo te lembrar que o namorado mané dela também é meu amigo?
— Já teve amigos melhores.
— Ah! Por favor, Ricardo. Não vai começar com esse ideia de novo de que a Bianca é culpada por eu ter aceitado participar do concurso.
— Ela e todo aquele "povinho" da biblioteca — respirou fundo — mas esquece. Daqui a pouco to passando ai. Beijo.
— Beijo, até logo.
Confesso que Ricardo havia mudando bastante desde que entrou no ensino médio. Sentia que ele era muito influenciado pelos amigos dele e como ele era bem comunicativo e fácil de pegar amizade com todos, certas amizades me desagravam bastante, porém quem era eu para falar alguma coisa? Era a namorada que ficava mais tempo estudando do que com ele. Sua desculpa era sempre essa, se não tem namorada, tem amigos.
Aquilo me irritava muito e acho que de certa forma me envolvia cada vez mais nos livros para ocupar minha mente. Hoje sei que esse foi o maior erro cometido na minha vida.
[>>]
YOU ARE READING
O que os olhos não podem ver ✔
Teen FictionAos onze anos, Pietra conhecia o amor através dos livros românticos que lia. Ao receber seu primeiro pedido para ser beijada, o recusou com a justificativa de que garoto não era o rapaz perfeito merecedor de seu coração, e foi assim que aconteceu. S...
XIV - Bolsa de estudos
Start from the beginning