XIV - Bolsa de estudos

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Foi em uma quinta-feira de sol. Ricardo me buscou logo cedo para irmos juntos para a escola. Eu tinha prova de química na primeira aula e o fato era, eu simplesmente era péssima em exatas. Eu era péssima em gravar fórmulas e péssima em contas. No dia anterior eu fiquei a tarde toda estudando. Fiz até um gravador de voz, comigo falando pra ver se enquanto dormia aquelas palavras entravam na minha cabeça, mas acho que não deu muito certo.

Queria poder estudar em uma daquelas escolas que a gente vê nos filmes em que o aluno escolhe a matéria que ele quer estudar, mas fazer o quê? Como dizia meu pai, eu tinha que arriscar.

No fim, acho que eu não fui tão ruim assim, pelo menos eu achava. Fiz a prova com uma menina da minha sala chamada Elizabeth. Ela era fera naquilo, não que eu me aproveitei da situação, era uma questão de troca. Eu a ajudava em português, filosofia e sociologia e ela me ajudava em matemática, física e química. Troca justa.

As últimas aulas eram as minhas preferidas. Elas me davam força para continuar ali. Ivone minha professora de língua portuguesa era um amor de pessoa. Não entendia como as pessoas não conseguiam entender sua matéria, como as pessoas não ouviam a linda música que saia de sua boca quando ela ensinava gramática?

Acordei da minha profunda concentração. Era meu celular, alguma mensagem havia chegado para mim.

Pietra,

A biblioteca central acaba de confirmar sua participação no concurso literário que ocorrerá nos dias 20 e 21 de dezembro. Lembramos que todos participantes devem enviar seus textos até o dia do 21 deste mês. O prêmio para os ganhadores do segundo e terceiro lugar será um par de ingressos para uma peça no teatro municipal e o primeiríssimo lugar ganha uma incrível bolsa de estudos no exterior .

Desejamos uma boa sorte.

Atenciosamente,

A Diretoria."

Mas eu nem me inscrevi neste concurso — pensei — deve ter ocorrido algum engano. Mais tarde eu passo na biblioteca para ver o que houve.

Não consegui mais prestar atenção na professora e fiquei imaginando como meu nome foi parar na lista de inscritos. Será que dona Leonor tinha feito isso? Mas ela sabia que eu não havia me interessado. Aquele concurso era para pessoas mais experientes do que eu. Não consegui tirar aquilo da cabeça.

Assim que deu o sinal, sai da escola às pressas. Nem esperei Ricardo, fui direto para a biblioteca. Avisei minha mãe com um torpedo e disse que não iria almoçar em casa.

Ao chegar à biblioteca, fui direto ao balcão onde dona Leonor ficava, mas ela não estava. Tentei avistar mais alguém e nada. Subi as escadas até o segundo andar, onde ficavam o acervo. Era o andar todo só com livros e em cada repartição um tema diferente. Talvez dona Leonor tivesse ali, repondo os livros. Comecei andar entre eles para ver se a encontrava. Ate ouvir um som. Era como se alguém mastigasse chiclete ou sei lá. Fui em direção ao som, mesmo sabendo que não era dona Leonor, essa pessoa poderia me dar alguma informação.

Ao virar uma estante me deparei com Bianca e Alex se beijando. Fiquei toda quadrada, sem saber onde enfiar minha cara e sem querer soltei um.

— Ai meu Deus!

Eles me olharam na hora e se desgrudaram sem jeito. Estavam quase ficando roxos de vergonha. Eu não queria estragar o momento deles eu juro, fiquei toda desconcertada.

— Meu Deus Pietra — falou a menina limpando a boca — o que você está fazendo aqui nesse horário?

— Eu... eu... — gaguejei.

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