"O amor cura"

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Receoso de que não pudera se controlar dentro do bar, Pedro orou a Deus no caminho inteiro de volta na casa da tia e um pouco mais quando chegou no pequeno quarto onde morava com Isabela. Prometeu a namorada de que não beberia nada e de voltaria antes que ela pudesse estar dormindo. Ela acreditou nas palavras e o beijou, abençoando sua saída.

Estava frio e Pedro caminhava depressa por entre as ruas e becos, sempre orando a Deus por sabia que ainda era muito fraco para seguir sozinho. Não encontrou ninguém estranho no estacionamento e adentrou ao bar.

Música alta, cheio de cigarros e outras drogas, afins, homens jogando algum jogo gritante aos fundos do bar e outros brincando de quem canta mais no karaokê velho. Ele sentou-se no balcão de pedidos, esperando ver alguém que pudesse reconhecer.

— Vai pedir o mesmo, chefia? — dizia o garçom sorridente, enquanto secava alguns copos com um pano sujo.

— Não, não, hoje não. Obrigado Juarez.

— Sem problemas.

Ele podia visualizar com mais clareza a nojeira que era aquele lugar. Os copos nos quais ele bebia com tanta frequência eram lavados na mesma água inunda que o Juarez enxaguava os panos de chão. Além, era secos por um pano esfarelado e sujo. O balcão era todo pintado com vomito, o piso faltando algumas partes e as cadeiras enferrujadas.

Sua visão estava totalmente tampada naqueles últimos dias.

Até o banheiro no qual ele ficava deitado por horas vomitando pôde perceber que era mais podre que o fundo de um caminhão de coleta em dias de segunda-feira.

Enojou-se em menos de horas.

Saiu então, indo até a porta central e em seguida partindo para o estacionamento.

Encostou-se em um dos carros e tentava mandar uma mensagem para a namorada, quando alguém surgia totalmente agressivo partindo para cima dele.

— O que pensa que tá fazendo? — empurrou-o para longe da lateral do carro e em seguida tentou socar o seu rosto, mas Pedro se esquivou.

— Qual foi?

— Qual foi maluco? Você vem num dia e me soca a cara e depois reaparece das cinzas e se encosta no meu carro? Tá pedindo pra morrer mano?

— Calma aí. Calma aí. — dizia, com as mãos na direção do rosto, impedindo que o homem descontrolando partisse para cima dele mais uma vez. — Você tá confundindo com alguém.

— Não. jamais poderia esquecer esse rosto branquelo que eu deixei todo roxinho! Agora você não foge e não conseguirá perturbar a mais ninguém nesse bar.

— Eu estava bêbado, não sabia o que fazia... — dissera, correndo novamente dos braços grande do homem. — me desculpe se machuquei você.

— Desculpa? — bradou o homem, que media quase dois metros de altura. — peça desculpas para o papai aqui.

Ele sacou uma arma da cintura, e cambaleando mirava o rosto de Pedro. Disparou uma vez, ainda mirando para ele e nada de bala saindo pelo cano, a arma estava descarregada e o susto quase matou Pedro.

— Salvo pelo Congo. — ironizou o homem, jogando a arma ao chão e agarrando Pedro pela blusa. — depois que virou crentinho acha que pode ficar se encostando nos carros dos outros e sair de boa? Não mesmo.

O homem fendeu os dedos formando um soco grande e aproximando-o do rosto de Pedro, disparou em velocidade por duas vezes seguidas, uma de cada lado. Novamente fendeu os dedos e para socar uma terceira vez, foi interrompido por um grito autoritário dizendo para que soltassem o jovem. A voz saia por detrás de alguns carros. O homem não quisera dar atenção e tentou esbofetear novamente o rosto de Pedro, quando foi impedido com alguém o puxando com tamanha força e o jogando contra uma parede.

— Eu mandei você soltar ele, não mandei? Você é grande mas não é dois. Devia ter cuidado de mexer com quem não conhece. Se manda daqui seu imprestavel!

Pedro quisera enxergar quem era o homem mas teus olhos estavam quase que fechados por completo.

— Consegue andar? — o homem que havia o salvado era quem dizia, enquanto o malandrão de dois metros fugia como um rato medroso.

— Eu estou com os olhos feridos, mas não estou cego.

O homem riu.

— E não estou bêbado também. — continuou.

Pedro tentou forçar a visão e conseguiu abrir um dos olhos com mais firmeza e visualizar o seu super herói.

— Você? Porque está fazendo isso? — dizia ele, assustado e maravilhado por ver seu pai pela primeira vez depois de anos.

Ele se calou.

— Porque está arriscando a vida por mim?

— Eu prefiro te mostrar amor e arriscar a ser rejeitado, do que te ver perdido para sempre.

Pedro abaixou a cabeça e tocou nas feridas de seus olhos, dois socos maravilhosamente bem planejados lhe foram entregues bem no rosto.

— Eu lhe devo minha vida. — dizia Pedro, depois de um silêncio de quase dez segundos.

— Não, deve a Deus sua vida agora.

— Sim. Eu devo. — ele respirou fundo, cuspindo puro no chão do estacionamento — pode parecer meio estranho mas... eu quero muito poder te abraçar, mesmo que tenha abandonado a mim e a minha mãe...

— Me desculpe filho, me desculpe.

Sem cerimônias longas.

Sem receio de abraços.

Sem um orgulho entalado.

O amor havia falado mais alto.

Pedro reencontrou o Verdadeiro amor, e Ele havia recolocado o teu pai em teus caminhos.

Abraçado ao peito do pai, ele parecia ter voltado a infância e como uma mágica parecia que evaporava toda sua mágoa e rancor do pai, do abandono inesperado do pai.

Mas antes que pudesse brigar com ele pela sua ausência injustificada, ele mesmo se justificaria.

Dissera que não tinha condições de sustentar a esposa e ainda mais uma criança recém nascida, não poderia prover todo o sustento necessário para que Pedro crescesse saudável. Marcela conheceu o padrasto e passou a morar com ele. Seu pai ainda confessara que tentou reatar o relacionamento com a esposa mas que Carlos o ameaçava e ameaçava matar Pedro.

A única segurança que manteve Pedro fora a fé avassaladora de Marcela em Deus.

— Eu peço desculpas por deixado vocês dois naquela época, mas eu sou imensamente grato por ter te reencontrado hoje.

Pedro pedira que ele o acompanhasse até em casa para que sua namorada não pensasse que ele fora procurar briga, mas sim que houve um acidente.

Assim ele o fez.

Isabela o esperava na janela e já temendo que o namorado chegasse bêbado. Atendeu a porta triste e se deparou com Pedro com o rosto inchado, antes que pudera brigar com ele, visualizou o homem logo atras do namorado.

— Ele é meu pai, Isa.

— Você apanhou? — dizia chateada, segurando os braços de Pedro e olhando atenta ao pai dele que seguia logo atrás adentrando no quarto.

— Ele não bebeu um gole, um jogador de basquete fuleiro tentou machuca-lo...

— Mas o meu pai estava lá, todo esse tempo. — concluira Pedro, chamando o pai para perto com um gesto com uma das mãos.

Ele o abraçou.

Reencontrando o Verdadeiro Amor Where stories live. Discover now