"A pedrinha de Davi"

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Na manhã seguinte o garoto acordara mais cedo que a todos e corria alegre pelo quintal, queria achar a pedra mais pequena de sua casa.

Vasculhou pelos cantos dos galhos, pegou uma porção de pedras na mão de uma única vez e comparara uma com as outras para perceber qual era a menor, mas todas eram muito padronizadas.

Sua mente criativa e emocionada não se cansara, procurara através das árvores e embaixo do carro do padrasto quando então percebeu uma pedra menor ao lado de uma gigante em proporção.

Era na verdade uma grande pedra que usavam para se sentar e olhar o sol, colado bem ao seu lado estava a pedrinha que ele visualizou quando estava agachado olhando por detrás do carro.

— Você é tão pequena que eu quase nem te vi. — disse feliz, guardando-a no bolso, assim como lembrara que Davi o fez.

— Moleque... — sussurrou o homem, saindo da porta da garagem, olhando o garoto dos pés à cabeça. — o que escondeu nesse bolso?

— Nada. — resmungou, voltando saltitante para dentro de casa.

— Espero que não esteja roubando nada meu por aqui! — ele gritava enquanto o menino corria para dentro da casa — Pestinha...

O garoto correu buscando por sua mãe, subia as escadas depressa e pulou na cama grande abraçando-a e beijando suas bochechas amassadas de sono.

— Ora, ora... Já acordou com essa corda toda? — dizia ela meio sonolenta, espreguiçando-se.

— Eu posso fazer o café da manhã hoje? Diz que sim. Por favor. Por favor, mãe... — ele a chacoalhava nos ombros com as mãozinhas. — mãe...

— Tá bom amor, deixa a mamãe levantar então.

Ele sentou no lugar quente que a mãe durmira e ela se preocupara em ajeitar os cabelos em um coque enquanto ia até o banheiro.

— Ovo mexido, café com leite, um pão com manteiga, bolo de cenoura, torta de frango e o que mais, mãe? O que mais podemos fazer pro café?

— Você não come metade disso tudo que falou, Pedro. — dissera ela, voltando ao quarto com a boca cheia de creme dental escorrendo ao queixo. — e além do mais, só temos ovos na geladeira e alguns pães no armário. Então... Sem bolo e nem torta. — finalizou correndo para cuspir o líquido na pia. 

— Tá bom. —respondeu ainda feliz, dando de ombros.

— Vamos descer mestre cuca?

Ela se trocara depressa, jogando um vestido por cima do pijama e pegando nas mãos do filho em seguida.

Pedro puxou um banquinho pequeno e subiu em cima, observando a mãe quebrando um ovo na frigideira, fazendo o mesmo logo após de o tê-lo sido frito. Despejou um pouco de café numa xícara e outro pouco em outra.

— Vou colocar os copos em cima da mesa mãe. — dissera ele animado, descendo do banquinho com cuidado, pegando os copos mais tarde.

A mãe olhava o filho orgulhosa e sonhava que ele nunca crescesse e que sempre ficasse do tamanhico que fosse. Serviu um pouco de ovo no prato pequeno que lhe era do menino, um pouco em seu prato e guardara a frigideira na pia com o restante de ovo para Carlos.

— Ficou esplêndido esses ovos mãe. — ele havia feito um gesto com as mãos como os italianos, quando aprovam uma comida, fazendo sua mãe gargalhar.

— Você e suas palavras novas.

Ele sorriu e mordiscou um pedaço graúdo de ovo engolindo o café devagar em meio a assopros.

— Bom dia, amor. — dizia Carlos, chegando na cozinha com os pés sujos de barro e lavando as mãos de graxa na pia.

Marcela revirou os olhos e suspirou fundo, não queria causar briga logo pela manhã. Pedro sussurrava a mãe contando o que o padrasto estava fazendo na pia, mas ela respondia levando o dedo na boca fazendo "xiu".

— Fez ovo frito? — perguntava mas já sabendo da resposta.

— Eu fiz com a mamãe. — rebateu depressa o menino mordiscando um pedaço grande de ovo.

— Nao gosto quando criança se intromete em assunto de adulto, estava falando com sua mãe e não com você, só fale comigo quando eu pedir ou se quiser me ver feliz nem fale comigo.

O garoto não se abalou, apenas retrucou o olhos com os de sua mãe e observou de relance o padrasto já saindo de casa novamente.

— Eu acho que ele não gosta muito de mim, né mãe?

A mãe suspirou fundo, levando-se para lavar a pia e as louças que se contaminaram com a graxa.

— Eu sei que ele não gosta de mim.
Mas eu nem ligo. Também não gosto dele!

— Pedro... — ela dizia enquanto se aproximava do filho, agachando-se a sua altura continuou a falar — Não fique pensando que ele não gosta de você...

— Mas ele não gosta de mim mesmo! — interrompia ele, resmungando e cruzando os braços já emburrado.

— Tudo bem, ele é desse jeito meio rude mas você não precisa ser assim também. Não precisa guardar ódio aí dentro de você e nem ficar achando que ele te odeia ou coisas do tipo... Deixa ele ser como ele é e você seja como você sempre foi, esse meu guerreiro doce, meu pequeno grande Davi.

Ele o abraçara forte e inesperadamente, quase que sufocando sua mãe, mas o carinho e o amor que ela o entregava era tão profundo e saciável que não deixava sentimento ruim querer por si só fazer morada. Apesar de sofrer, Marcela só sabia transmitir amor.

— A mãe te ama muito.

— Eu também amo muito você mãe.

— Você gostaria de ir passar uns dias na casa da tia Rosana?

— Se você for também, eu vou mãe.

— Não, a mamãe não vai. Eu quero saber se você gostaria de ir pra lá brincar com os seus primos e ver os filhotes novos de cãezinhos que nasceu...

— Sem você eu não vou a lugar nenhum, nem adianta insistir.

O garoto tinha um opinião formada desde muito novo, era esperto e muito carinhoso com a mãe. Só tinha a ela, já que o próprio pai havia os abandonado ainda quando Marcela o amamentava.

A mãe preferiu não insistir naquele momento, recolhera os pratos da mesa e pediu que o menino subisse para escovar os dentes.

Ela precisava achar um jeito de levar Pedro para casa da tia antes que as coisas piorassem por lá.

Carlos nunca pôde ter filhos mas sempre quis um, um que fosse seu, com teu sangue correndo nas veias. Quando havia conhecido a esposa não sabia que ela já fosse mãe, porque ela tinha receio de que se algum homem descobrisse que ela era mãe poderia nem iniciar um relacionamento, mas ele era diferente no início do namoro. Ele teria aceitado ela com a criança, mas só bastou saber que o bebê era um menino para desenhar raiva sobre ele. Implorou para que ela deixasse a criança com o pai mas ela dissera que nem o pai o aceitava. Era mentira. A verdade era de que o pai de Pedro não poderia sustentar os dois e ainda mais uma criança, estava perdendo a casa e ficando desempregado, e quando Marcela conheceu Carlos, e ele sabendo da existência de vínculo a fez prometer que ela nunca mais tentaria contato com ele. Então, ao se casar com Marcela, ele fingiu amar o menino, até ele começar a agir contra o jeito diabólico do padrasto. Um filho menino era o seu único e precioso sonho, mas como não teve, gradativamente não conseguia também amar a Pedro, pois ele não tinha o seu sangue nas veias...

Reencontrando o Verdadeiro Amor Where stories live. Discover now