"Cristo vive em mim"

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Rosana colocava os garotos para dormir, havia estendido dois colchões de solteiro no chão da sala e forrava-os com um lençol, em seguida abaixou-se e os entregava beijos de boa noite.

— Boa noite meus garotos e digam um boa noite especial pra Jesus... — dizia ela, tocando em seu coração e incentivando os filhos a fazerem o mesmo com os deles — Ele está morando dentro do coração do primo de vocês agora também, deem boa noite a Ele.

— Boa noite, Jesus! — repetiam as crianças tocando no peito de Pedro e sorrindo.

Ela queria contar a novidade boa e maravilhosa para a irmã mas eram quase meia noite e provavelmente Marcela estaria dormindo, esperou para o dia seguinte.

Pedro não havia dormido ainda, já devia passar das três da manhã, ele continuava olhando para o teto da sala, pensando em sua mãe e o quão orgulhosa ela ficaria em saber que agora ele tinha Jesus dentro do seu próprio coração, o que significaria que ele não era um garoto pequeno mais, agora ele era um grande guerreiro Davi com a força de Cristo dentro de si. Fizera uma oração pedindo que Deus cuidasse de sua mãe porque ele não podia mais, estando na casa da tia. Revirara por alguns minutos a mais e em seguida havia por completo dormido.

Nos dias seguintes, recebendo total atenção e carinho dos primos e tia, ele não tinha espaço algum dentro de si para sentir saudades da mãe nem tampouco sentir raiva por ela ter quebrado a promessa de ir visita-lo.

Rosana matriculou o sobrinho no mesmo colégio dos primos e o fazia aos poucos e sempre mais esquecer que sua mãe ainda existia, ela sabia que o pequeno nunca mais reencontraria sua mãe.

Ele criara laços fortes demais com a tia, quase podia se enganar e chamá-la de mãe, mas durante suas noites sozinho no banheiro banhando-se, ele ainda orava a Deus pedindo que Ele protegesse sua mãe e não permitisse que o padrasto fizesse mal algum.

— Antes de irmos para a escola eu queria que vocês soubessem o quanto nosso Deus é bom. — era Rosana quem dizia agachada abraçando os meninos com as portas do carro entreabertas — Ele sempre está pertinho da gente mesmo que a gente pense que Ele esteja lá longe, e basta a gente chamar assim "Meu Pai" — gesticulava com as mãos olhando ao sol enquanto continuava a falar aos garotos — que Ele virá até nós bem rápido e nos ajudará no que nós precisarmos.

— Aposto que foi assim que Davi fez antes de matar Golias... — sussurrava a criança. — Ele chamou Deus para ajudar a matá-lo, não foi tia?

Ele o olhou maravilhada, selou a testa do menino com um beijo e acenou positivamente com a cabeça, em seguida os colocava dentro de carro para seguirem a escola.

Naquele dia, ela havia recebido a notícia de que sua irmã teria sido morta pelo marido. Deixou os garotos no colégio e cruzou a esquerda da pista em direção à casa de Marcela, não sabia muito bem o que faria, mas tinha a certeza de que se visse o cara ainda na casa ela o mataria. O painel do carro pontuava mais de cem quilômetros por hora mas Rosana nem se importava com os radares da rodovia sua raiva minava por entre os pedais e quanto mais pensava em Carlos mais forte ela pressionava o acelerador, foi quando então um caminhão invadiu sua pista e seguia em sua direção, ela não acreditaria que ele pudesse colidir contra ela só pensou na possibilidade quando se restavam metros de distância, jogando então o seu carro até o morro abaixo, onde somente parou quando bateu contra um tronco de uma árvore. Sua cabeça doía em estrales e sua testa suava ela levou as mãos na cabeça e percebera que eram somente suor e não sangue. Rosana sofreu um acidente grave e sobrenaturalmente saiu ilesa. Retirou os cintos devagar e saltou pela janela quando percebeu que sua porta não abria. Observou o tamanho estrago do carro e ligou para seu amigo guincheiro resgata-lá. Ajoelhada ao chão ela não conseguia entender como fora livrada da morte e só sabia agradecer a Deus pelo livramento.

— Cristo, se um dia eu tinha dúvidas de que você morava em mim, me perdoe e te agradeço por me livrar dessa morte assustadora...

Ela prometera de que inventaria algo para contar a Pedro mas nao diria a verdade e nem contaria que sua mae havia sido morta pelo padrasto.

O guincheiro assustou-se quando chegou no local mas sabia que tivera sido Deus quem poupou sua vida, implorou que ela contasse o testemunho na igreja mas ela somente não o contaria em razão de Pedro assistir a todos os cultos com ela.

Ele a levou até sua casa e o seguro providenciou um outro carro pagando todos os serviços de conserto. Quando buscou os meninos no colégio foi que inventou uma desculpa mais ligeira e esfarrapada possível.

— Olhem o carro emprestado que eu ganhei do tio Guilherme?

Era o mesmo carro mas tinha a cor branca como uma pomba da paz. Os meninos bradavam de alegria enquanto adentraram o carro e Rosana pedindo perdão a Deus por ter mentido mas não estava pronta para contar ao sobrinho ainda tão novo tamanha desgraça em sua vida.

Todos os anos as ferias eram na casa do vovô Reginaldo, um justo fazendeiro que vivia na simplicidade com os teus cinco cães e mais uma porção de cavalos. Ele recebia a aposentadoria e procurou a vida mais pacata fora da cidade para passar sua velhice.

Rosana passou a visitar o pai com mais frequência quando percebeu que ele estaria ficando doente pela ausência da filha. Com Pedro contando com dez anos ela implorara ao pai para que não contasse nada para o neto ainda, pois ela mesmo contaria, mas a certeza era de se ainda não era o momento oportuno e quando o fosse, ela queria estar preparada para as centenas de perguntas que ele provavelmente a faria.

— Sabe que está sofrendo o dobro escondendo isso do menino, não sabe filha? — dizia Reginaldo, enquanto tomava café com a filha na varanda da imensa casa. — uma hora ele vai perguntar e você precisa dizer...

— Eu sei papai, mas não consigo ter forças pra isso ainda. A marcela entregou ele a mim pra que ele vivesse dias felizes e se eu contar uma tragedia dessas pra ele agora, do jeito que está tão pertinho dos caminhos de Deus e tão novinho. Dez anos de idade e perceber que a mãe morreu? Isso é uma degraça imperdoável. Eu ainda perguntei a ela, mas ela não dizia nada... Claro, não queria nos preocupar. Mas olha aí Marcela, você morreu por ficar calada demais! — resmungou olhando para o alto, como se falasse diretamente a irmã.

— Você precisa contar filha! Olha o que isso está lhe causando. Já pensou na possibilidade de Pedro odiar o fato de lhe ter escondido a verdade da mãe por tanto tempo?

— Eu vou pai, quando ele fizer dezoito anos eu conto. Então, se ele me odiar após isso, ele já teria idade suficiente para ir embora de casa...

— Oh, querida... — ele o abraçou forte e orou ao pé de seu ouvido, pedindo a Deus que confortasse a alma de sua filha e que lhe desse forças para confessar ao menino tamanha notícia de morte da própria mãe. — Deus estará com você quando for contar a ele, não precisa pensar no que falar, Ele falará por você. Agora vamos entrar, fiz uma canja de galinha do jeito que você gosta!

Reencontrando o Verdadeiro Amor Where stories live. Discover now