Desaparecido

41 15 14
                                    


Os corpos foram encontrados e as mortes anunciadas, seguidas pelo anúncio do fechamento da área livre da floresta. Marcus chorou ao saber que dos três corpos encontrados, uma era de Miguel. Ele ficara totalmente retalhado, mas algo não estava certo. Como ele tinha ido parar na parte central da floresta?

Carla imprimiu fotos de Dimitri que encontrara em seu laptop e distribuiu pelo campus. As roupas e os pertences do rapaz foram levados para a delegacia, e depois de uma semana do sumiço do rapaz, as autoridades já cogitam que ele também fora morto por lobos.

— Miguel não pode ter ido à floresta. — Carla andava de um lado para o outro. — E Dimitri, por que e como desapareceu?

— Carla, eu vou embora, vou voltar para a casa dos meus pais. — Marcus estava tenso. — Essa faculdade não está mais tão legal.

— Mas e o curso? — Ela sentou-se ao seu lado.

— Desisto. Pessoas morrem, desaparecem, por que continuar? — Suspirou.

***

Uma semana antes.

Uma das gêmeas carregou sozinha o corpo de Dimitri e o deitou no chão, próximo a algumas pedras. As habilidades vampíricas lhe davam força o suficiente para fazer todo o serviço sem se cansar. Suspirou, erguendo a mão em formato de garra, e desferiu golpes pelo corpo pálido do rapaz, rasgando-lhe a carne e órgãos, e desfigurando o rosto. Olhou ao redor e sorriu.

— Um digno ataque de lobo.

As plantas e pedras ficaram sujas de sangue, e ela deixou o intestino para fora para parecer que Dimitri foi arrastado.

A loira virou-se e saiu correndo, desapareceu no horizonte. O vento aumentou sua intensidade e o corpo de Dimitri começava a chamar a atenção de animais. Um lobo negro surgiu acima de uma das pedras, farejou o sangue, pulou próximo ao corpo e lambeu o rosto do rapaz.

— Velcan! — uma voz fez o lobo recuar. — Outro corpo...

O lobo negro rosnou, voltando à forma humana. Velcan encarou o homem atrás dele, dando-lhe passagem; estava nu, enquanto o outro usava terno. Vladmir aproximou-se de Dimitri.

— Pobre rapaz. — Tocou seu rosto. — Está vivo?

— Impossível! — Velcan aproximou-se. — Meu Deus, o coração está... batendo? — Ele pôde ouvir as leves batidas.

— Acho que encontramos o que estávamos procurando. — Vladmir levantou-se, arregaçando a manga da camisa. Deixou o braço direito livre e o mordeu. As presas perfuraram a pele pálida. — Você vai nos ajudar, será leal.

Velcan observou a cena. As gotas de sangue de Vladmir pingavam no rosto de Dimitri, que, em seguida, direcionou o sangue para o corpo estripado. A pele começou a se movimentar, criando tecido; o intestino enrolou-se, retornando para dentro do rapaz. A pele cicatrizou-se. O rosto voltou a ser branco. Dimitri arfou e tateou o corpo, sentindo uma dor horrível. Gritou.

— Vamos Velcan, o sol irá nascer.

Vladmir afastou-se do rapaz, deixando Velcan o pegar no colo. O lobisomem o carregou até a estrada onde uma limusine estava estacionada. Vladmir abriu a porta, deixando o lobo deitar Dimitri no chão do veículo. O chofer entrou no carro, sentando-se no banco do motorista. Vladmir abaixou um pouco os vidros e observou o sol nascer.

— Sabe que o Coven não aprovará esta transformação, não sabe? — Velcan falou pelo sistema de áudio da limusine. Dimitri gemeu. — Meu pai será o primeiro. — Ele colocou os óculos escuros ao fazer a curva. O sol iluminou a estrada e entrou através do vidro aberto. Vladmir deixou o rapaz ser banhado pela luz, ainda era humano.

— Alder vai entender. — Vladmir aproximou-se de Dimitri, ele tremia. Tocou seu corpo, não se importando com a mão que queimava com o sol. — Não foi o meu veneno que o transformou, mas meu sangue que o salvou. — Fechou os vidros.

***

Dias atuais

— Senhorita Atlas. — O delegado chamou por Carla, que tinha recebido um comunicado para depor. Era seu segundo depoimento desde o desaparecimento de Dimitri e a morte de Miguel.

— Boa noite. — Carla estava tensa. — Encontraram meu namorado?

— Senhorita Atlas, peço que me responda somente uma pergunta. — O delegado levantou-se. Era um homem gordo, de terno azul marinho e levemente careca. Sua pele branca parecia flácida no pescoço. — Onde foi que viu seu namorado pela última vez?

Ela suspirou.

— Eu já disse isso antes. — Silêncio. — Dentro da fraternidade Dracul. Ele tinha ficado para trás para procurar pelo, Miguel que nós havíamos perdido de vista.

— Quanto tempo demorou a ida de Miguel ao banheiro?

— Uma... meia hora. — Demonstrou nervosismo na voz.

— Achamos vestígios de sangue no lado sul da floresta, quase doze quilômetros longe da Dracul. — Carla o olhou incrédula. — Fizemos um teste de DNA, era sangue humano. Solicitamos a embaixada Russa amostras de sangue de Dimitri o que possibilitará comparar o sangue, mas achamos algo....

— O quê? — Questionou, passando a mão nos cabelos.

O delegado levantou-se e deu dois passos até um pequeno armário marrom com apenas duas portas presas com um elástico. Abriu-o rapidamente e colocou a mão em seu interior, retirando um pequeno saco plástico que continha um objeto. o homem depositou o saco sobre a mesa, a uma distância razoável da garota, impedindo-a de tocá-lo. Ali estava a pulseira de couro com o crucifixo de prata de Dimitri manchada de sangue. Ela não conteve o choro.

— É dele. E o corpo?

— Provavelmente os lobos.... — O Delegado tentou encontrar as palavras certas. — Já faz duas semanas.

Carla saiu da delegacia em prantos e caminhou até a república, passando perto da fraternidade Dracul. Alira, a líder da fraternidade, viu-a e correu em sua direção, chamando-a.

— Faremos uma festa em nome do seu namorado e dos outros... — Alira usava roupas pretas, saltos altos finos também pretos e mantinha os cabelos soltos, deixando-os cair lisos até seus seios, que se evidenciavam graças ao decote. — Ele tem família?

— Não! — Carla suspirou. — Não precisa fazer nada. As pessoas morrem quando entram naquela casa.

Carla passou por ela, deixando-a sozinha na calçada. Alira ficou vendo-a caminhar e respirou fundo, controlando o impulso de matá-la. A vampira viu alguns jogadores de futebol olhando-a.

— Meninos. — Ela sorriu. — Espero vocês lá... — Caminhou até o capitão do time e passou a mão entre suas pernas. — Quero você no meu quarto.

Os rapazes festejaram. A mulher seguiu para dentro da casa negra, subiu até o segundo andar e viu as duas gêmeas bebendo sangue de um garoto vestido de branco. Ele ainda estava vivo e gemeu ao ver Alira entrar no quarto.

— Precisamos encontrar lugares mais afastados para deixá-los. — Ela pegou uma taça sobre a escrivaninha e a encostou no pescoço do rapaz, enchendo-a com sangue. —Vamos diminuir nosso cardápio.

— Mas...

— Um por mês. — Alira bebeu da taça. — Vamos estocar o sangue.

A Fraternidade - Fernando LuizOnde as histórias ganham vida. Descobre agora