Romênia, 20 janeiro de 2007
Vladmir sempre viveu sozinho. Seus pais adotivos faleceram quando ele tinha apenas dezoito anos, o que o forçou a cuidar da empresa que herdara em total solidão. Acostumado a viajar, o empresário vistoriava sua cadeia de hotéis espalhados pelo mundo, colecionando carimbos no passaporte e mulheres por onde passava. Dotado de um charme que elas adoravam, Vladmir era alvo dos olhares de homens raivosos e esposas derretidas. Entretanto, em breve sua vida tomaria um rumo diferente.
Caminhando pelas ruas de pedra da velha Transilvânia, um homem corcunda e velho se rastejava para chegar ao seu destino. Farejando o ar como um animal, o estranho encontrou o cheiro desejado. Subiu os degraus da pequena entrada e bateu fortemente na porta. Vladmir estava no banho; enrolou-se na toalha e desceu para a sala. Ele abriu a porta, sentindo o vento frio que assolava a cidade.
— Pois não? — Sempre educado, o rapaz não conseguia ser grosseiro com as pessoas, inclusive os mais necessitados. O velho retirou o capuz, revelando seu rosto enrugado. Os dentes amarelos surgiram em um meio sorriso.
— Vladmir Notoryev? — o homem falou quase em um sussurro. — Igor. — Apresentou-se com uma reverência, caindo à sua frente.
Vladmir o colocou para dentro e o ajudou a se sentar no sofá, enquanto acendia a lareira para aquecê-lo. Foi até a cozinha, esquentou um pouco de sopa, pegou uma garrafa de vinho, acrescentando conhaque, e encheu dois copos. Igor prestava atenção nos passos do rapaz. Vladmir pôde notar que ele sorria quando se aproximou.
— Vim a mando de um parente seu. — Igor bebeu um gole da bebida. — Ele pediu-me que lhe entregasse isso quando lhe encontrasse...
Igor enfiou a mão na roupa maltrapilha e retirou um envelope amarelado. Vladmir o recusou, dizendo:
— Eu não tenho parentes. — Encarou os olhos acinzentados de Igor. — Acho que se confundiu, Vladmir é um nome comum na Europa, ainda mais aqui. — Sorriu.
— Leia. — Igor insistiu. — Apenas leia. — Pegou o prato de sopa e começou a sorver.
Vladmir respirou fundo e subiu para o segundo andar, pegando rapidamente uma camiseta preta e uma bermuda. Depois, desceu correndo os degraus, retirando o envelope das mãos do velho Igor e o abrindo. O lacre era um selo queimado a ferro; ele retirou um papel de seu interior, encarou Igor, que comia calado, e começou a ler.
Você é o único descendente humano de uma geração de aberrações e filho único de uma relação linda. Infelizmente, sua mãe não pôde lhe criar e deixá-lo no orfanato foi a melhor das opções.
Igor irá lhe servir sempre, mas antes, lhe dará um presente que o fará entender o motivo de seu nome ser parecido com o meu. Só lhe peço que espere, sua nova condição o deixará confuso e você enfrentará perigos. Deverá fazer alianças e honrar a sua família.
— Chega! — Vladmir encarou o velho. — Não entendo nada do que está escrito aqui. Eu não tenho família. E quem é este homem?
— Continue lendo. — Igor se levantou, era mais baixo que Vladmir.
O rapaz estava enfurecido, obviamente havia um equívoco na entrega daquela carta, por isso decidiu ir direto ao final e leu o nome do homem que assinara: Nicolai Draculea. Ele riu, dobrou o papel e entregou o envelope para o velho.
— Vá embora.
Igor sorriu para ele, pegando o envelope. Em seguida, segurou o pulso de Vladmir puxando-o para próximo de si. O rapaz puxou o braço, mas não foi rápido o suficiente, e o velho o mordeu acima de sua palma. Vladmir gritou, empurrando-o
ESTÁ A LER
A Fraternidade - Fernando Luiz
VampireDurante séculos o mundo crê nas lendas contidas nos livros, mas nunca acreditarão na verdade existente nas ruas da Romênia. Com a morte de Drácula a instabilidade entre vampiros e lobisomens tornou-se um ponto chave para a criação de leis, o Coven f...