Calouro

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Dez anos depois

O voo demorou, o carro demorou, a inscrição na faculdade de Direito demorou, a abertura da conta de universitário no campus e a aquisição da chave para seu quarto na república também demoraram muito. Já passava das seis da tarde e Dimitri não pôde andar pelo campus, paquerar ou tomar uma cerveja no bar mais conhecido do campus; ou seja, o panfleto era uma mentira.

A Universidade de Bucareste, capital da Romênia, era repleta de jovens que sorriam alegres com o início da vida acadêmica. Menos Dimitri, que estava exausto. Do seu prédio era possível ver a faculdade de Direito, ou como lhe foi apresentado, o Salão das leis. Enquanto ele pensava se lutaria contra o cansaço e sairia na intenção de se divertir um pouco, alguém jogou por baixo da porta três panfletos. Ele pegou os papéis, notando ser de fraternidades que buscavam novos membros.

— Uma fraternidade me livraria do aluguel.

Ele leu: Fraternidade Dracul, Ômega Ranger e Delta Alfa.

— Nomes bem sugestivos. — Falando sozinho, Dimitri sentou-se na cama, atento ao panfleto da fraternidade Dracul.

Aos vinte e seis anos, Dimitri decidiu largar sua família adotiva na Alemanha e seguir a vida sozinho. Felizmente o programa de bolsas da Universidade lhe garantiu 100% de bolsa, e ele conseguiria se formar tendo custo somente com os livros e o aluguel.

Ele deixou os panfletos de lado, tirando a roupa e seguindo para o banho. Molhou os cabelos loiros e ensaboou o corpo magro, porém, atlético. Saiu secando os cabelos e deu de cara com uma garota em seu quarto. Rapidamente enrolou-se na toalha.

— Quem é você? — Dimitri estava ofegante. A jovem fechou os olhos, ficando vermelha.

— Sou sua colega de quarto. — Ela passou os cabelos curtos para trás da orelha. — Carla Atlas. — Suspirou ao ver o abdômen definido do rapaz. — Qual o seu bonito.... quer dizer... Seu nome bonito. — Dimitri riu. — Ai, meu Deus!

— Dimitri Skapov — ele falou, forçando o seu inglês. — Americana? — Seu sotaque a fez derreter-se.

Ela não respondeu. Dimitri vestiu-se rapidamente Carla o olhava a cada passo; ele vestiu uma camisa branca e uma calça jeans. A jovem sorriu mordendo os lábios.

— Serão cinco anos. — Ele a fez rir. — Vai se acostumando a me ver sem roupa.

— Vou pedir transferência. — Ela se levantou. Dimitri a puxou pelo braço, impedindo-a de sair do quarto e seus corpos colidiram.

— Calma — ele falou em seu ouvido. — Só estou quebrando o gelo.

Ela sorriu. Ficaram próximos por alguns segundos, mas logo o telefone da jovem tocou. Ele a soltou, vendo-a pegar o aparelho cor de rosa, e riu de canto, sentando-se em sua cama. Carla atendeu o telefone.

— Oi Marcus — falou alegre. — Onde te encontro? — Dimitri abaixou os olhos "Tem namorado..."

Ela conversou com o tal de Marcus por um longo tempo. Ao encerrar a chamada, jogou uma almofada em Dimitri, que se perdera em pensamentos, chamando sua atenção. — Vou sair para beber algo. — Olhou-o de canto. — Quer conhecer a Romênia?

Carla estava no segundo semestre de Direito, então foi a guia de Dimitri pelo campus. A noite estava fria e Dimitri não usava luvas, suas mãos gélidas só deixavam nervoso. A garota aproximou-se dele, andando lado a lado, e sorriu ao notar que o rapaz tentava não olhá-la

— Eu não mordo. — Sorriu, pegando a mão dele. — Você vai congelar no primeiro mês.

— Seu namorado não vai gostar de te ver de mãos dadas com outro. — Dimitri falou lenta e suavemente no ouvido dela. O vento aumentou de intensidade. O jaleco de Carla flutuou e ela deu um passo atrás, escorregando no mármore de uma das calçadas. Ele a amparou. — Calma.

— Você é o tipo conquistador. — Ela ficou encarando os olhos azuis de Dimitri. — Cada frase sua serve para conquistar uma garota, não é?

— Estou conseguindo...

— Carla! — Um rapaz a chamou e ela soltou-se de Dimitri. — Quem é o seu amigo? — o olhou dos pés à cabeça.

Marcus era um rapaz moreno, pouco mais alto do que ele e mais forte. Tinha cabelos lisos e negros penteados para trás, usava jaqueta preta e calças jeans escuras. Trazia um cachecol vermelho enrolado no pescoço. Dimitri aproximou-se do casal e cumprimentou o rapaz.

— Dimitri Skapov. — Silêncio. — Colega de quarto da Carla.

— Humm. — Ele a olhou. — Se deu bem. — Riram juntos.

— Espera... — Dimitri estava confuso. — Você não é namorado dela?

Marcus sorriu, aproximando-se de Dimitri.

— Eu prefiro você. — Riu. Dimitri se afastou. — Calma, você é dela. — Marcus o pegou pelos ombros, colocando-o ao lado de Carla.

O trio seguiu pelas ruas do campus até encontrar um barzinho todo iluminado por uma luz roxa. Lá dentro, Dimitri sentou-se, sentindo a mão de Carla sobre sua coxa. Conversaram e beberam até altas horas. A música boa convidava-os para dançar, e Marcus puxou a garota, girando-a pelo salão; Dimitri observava tudo de longe.

— Ele é bonito. — Marcus falou para a amiga, olhando o forasteiro.

— Nem te conto como eu o conheci. — Carla balançava o corpo no ritmo da música. — Pelado, saindo do banheiro.

— Não! — Marcus suspirou. — Conte os detalhes...

— Não tem detalhes. — Ela ficou vermelha. — Um homem nu, nada que eu não tenha visto antes neste campus.

O rapaz a deixou na pista e caminhou até Dimitri

— Está esperando o quê para chamá-la para dançar? — Marcus o levou até o meio da pista, fazendo-os darem as mãos. — Por favor, pare de olhar e vai tirar uma casquinha.

Carla ficou envergonhada enquanto Dimitri a pegava pela cintura. O casal caminhou até o centro da pista e, ironicamente, a música tornou-se lenta; Dimitri gargalhou de nervoso. Após duas músicas, ele se mantinha calado, sentindo a respiração da jovem. Carla enrolava seus dedos nos cabelos dele, passando as unhas em sua nuca. O calouro se excitou e girou-a assim que a música terminou, puxando-a para si e beijando-a de supetão.

Marcus aplaudiu.

***

Dimitri acordou com o sol batendo em seu rosto; Carla gemeu quando ele se levantou e fechou a cortina. Em sua mente, os flashes da noite anterior dançavam. Passou a mão em seu ombro, sentindo uma leve pontada. Olhou-se no espelho, suas costas e ombros estavam arranhados. "Loucura". Riu, encaminhando-se para o chuveiro. Carla levantou-se logo em seguida e eles tomaram banho juntos.

Após o banho romântico, decidiram encontrar Marcus para que Dimitri conhecesse as fraternidades.

— Dimitri. — Carla estava sentada na cama. Ele saiu do banheiro, arrumando o cabelo com gel, e pegou sobre a cama uma pulseira de couro com uma cruz de prata.

— O que foi? — Ele a notou tensa. Vestiu a camisa e a encarou.

— Nós não usamos preservativo. — Ela suspirou.

— Você toma alguma coisa, remédio...?

— Não. — Dimitri ficou pensativo.

— Não vamos surtar. — Ele riu. — Pode não dar em nada. — Ela sentou-se a seu lado. — Vou comprar algumas camisinhas e deixar aqui.

— Ok. — Ela o beijou.


A Fraternidade - Fernando LuizOnde as histórias ganham vida. Descobre agora