IRRESPONSABILIDADE

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A viagem está marcada para hoje, às 18h00. Beta decidiu nos esperar e viajará conosco. Thor anda dando mais atenção a mãe e diz que irá se despedir antes de irmos para o Brasil. Volta um pouco atrasado e eu o apresso para se arrumar logo. Erik, Dani e o filho vão em um taxi, Thor, eu e Beta vamos em outro e logo chegamos ao aeroporto e embarcamos. Na primeira hora começo a sentir que há algo errado, minha barriga está endurecendo as vezes e uma vontade de urinar volta de vinte e vinte minutos. Minhas pernas parecem pesadas, tiro meus saltos que mesmo baixos estão me incomodando, me assusto com as marcas que eles deixaram nos meus pés. Mostro para Thor e me arrependo na mesma hora, pois ele começa a me criticar por ter sido tão irresponsável de viajar de avião a esta altura da minha gravidez. Beta pede que ele se cale e tenta me tranquilizar dizendo que isto acontece com qualquer um, até com ela. Minha amiga fica descalça e me mostra os pés inchados, que não estão tão inchados quanto os meus, mas me relaxa um pouco. Beta conversa comigo e tenta me distrair, faltando pouco para aterrissarmos já visitei o banheiro umas vinte vezes ou mais. Minha cabeça está doendo e minha barriga está me incomodando bastante por conta da forma que ela endurece, sempre que ela endurece sinto falta de ar, mas não quero falar com ninguém, não quero ser mais criticada pelo meu marido. Thor toca minha barriga e se assusta, tento fazer cara de paisagem, mas uma dor que sobe da minha vagina até meu umbigo me apavora e faço caretas. Thor e Beta querem saber o que estou sentindo, mas não consigo falar, pois as fincadas e cólicas me assustam. Tento puxar o ar, mas a dor não deixa, não sei o que fazer e começo a chorar, não sei se é de medo ou pela dor que está aumentado cada vez mais. No autofalante avisam que iremos aterrissar e que devemos colocar os cintos. Thor coloca em mim e beija minha testa, pede que eu fique calma, mas quando o vejo limpando minha testa, passo a mão e percebo que estou molhada de suor. Começo pedir perdão a minha filha por ter entrado neste avião e começo a pedir a Deus para não deixar nada de mal acontecer ou irei carregar nas costas outro trauma, nunca mais irei me perdoar por colocar a vida da minha filha em risco. O avião aterrissa, mas não consigo me levantar de tanta dor, Dani toca em mim e diz que devo ser forte e que irá ficar tudo bem. Meu amigo pega minha mão e pede que eu me levante, eu solto um grito quando tento e uma dor horrível me faz contorcer. Dani me pega no colo, Thor não está no avião, foi em busca de um médico. Meu irmão caminha comigo para fora do avião e pede que Erik ligue para emergência, mas não é preciso, pois Thor está vindo com enfermeiros segurado uma maca, me colocam nela e me levam para uma ambulância onde um médico me examina e diz que entrei em trabalho de parto. Me levam para um hospital e durante todo o caminho imagino que irei morrer a qualquer momento de tanta dor, mas quando chegamos ao hospital e os enfermeiros me colocam em uma cama, elevam minhas pernas ao alto, sinto a última e mais forte dor e o alivio de um som de bebê chorando. Choro e peço para ver minha filha, sei que ela é imatura e por minha culpa. O médico antes de me deixar vê-la pede que eu fique calma e me explica que estou completando hoje trinta e cinco semanas e Íris já está completamente formada, apenas um pouco abaixo do peso, nada que alguns dias na incubadora não resolva. Ele me entrega um bebê enrolado em um pano e começo a chorar novamente, Thor que está do meu lado chora também ao tocar a cabecinha da filha.

– Oh, minha filha – beijo sua testinha – perdoa esta sua mãe irresponsável, por favor!

– Sua mãe não é irresponsável – diz Thor – ela te ama muito e será a melhor mãe do mundo para você.

Meu marido me beija e diz que me ama, agradece e jura que irá proteger nós duas.

O médico pega Íris de mim e diz que irá levá-la para a encubara e tudo ficará bem, que não preciso me preocupar, mas mesmo assim choro e me culpo. Em um quarto eu fico em uma cama e Íris em uma incubadora ao meu lado. Thor olha admirado para a filha, Beta me faz carinhos, Dani também está aqui me dando sua atenção. Meus amigos se preocupam comigo, não querem que eu fique me culpando. A enfermeira me ajuda a tirar leite dos meus seios, pois Íris não conseguirá sugar, pois é pequena e está fraca e isso me faz chorar mais. Meus amigos, meu marido e as enfermeiras insistem que eu me alimente bem para produzir mais leite, pois logo minha pequena irá amamentar em mim. Em minhas orações peço que isso realmente aconteça. Katy e Júlio também me visitam e pedem desculpas por não ter esperado minha filha nascer para depois se casarem, dizem que adiaram o casamento e só se casaram quando eu e a Íris podermos comparecer na cerimônia. Alê e Stella conversam comigo pelo telefone e até meu sogro me parabeniza e isso sem que eles saibam me faz muito mal; é como se eles estivessem me parabenizando pelo mal que fiz a minha própria filha. Depois que todos se vão, Erik entra, me abraça e diz que a sua sobrinha é linda, fica conosco um pouco e quando também se vai, tento ser forte e parar de chorar, mas ver o Thor olhando para a filha dentro da incubadora me corta o coração e para piorar, Alice entra no quarto e corre para os meus braços.

Dê-me o que mereço e seja feliz comigoWhere stories live. Discover now