Capítulo 14

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É engraçado como as coisas acontecem. Você passa a sua vida buscando, orando, se santificando e quando chega no momento em que você tem que se mostrar forte você cai. Pelo menos, no meu ponto de vista, foi o que aconteceu.
E depois do jeito que o Gustavo me tratou, aí que eu tenho mais certeza ainda.

Bom, mas isso não vai ficar assim. Primeiro porque eu não sou uma qualquer que ele pode sair beijando e depois tratando como lixo. Segundo porque eu fui ali para visitá-lo, como uma amiga solidária, e ele muda comigo na frente dos amigos?
Ah, mas não vai ficar assim mesmo!

***

Cheguei na lanchonete na segunda feira de manhã determinada. Tinha ensaiado o final de semana todinho a minha discussão com Gustavo. Confesso que as minhas orações foram as mais sinceras que eu já havia feito:

- Pai, eu sei que o Senhor manda amar o próximo... Orar pelos inimigos... Mas quando se trata do Gustavo isso acaba se tornando um desafio. Por isso, eu estou tentando com toda a força me manter crente, mas umas boas verdades aquele garoto vai ouvir. Não peço para acalmar meu coração, mas para acalmar a minha mão, para não voar na cara dele. Essa é a oração mais sincera que te faço. Amém!

Claro que essa oração foi só na hora da raiva e que depois eu pedi perdão a Deus pela minha audácia. Mas a raiva ainda não tinha ido embora. Ela ainda estava ali, viva.  

Empurrei a porta, ciente que Gustavo já estava ali, já que a cópia da chave da lanchonete fica com ele e ele é o responsável por abrir a lanchonete, e entrei.
Joguei minha mochila em cima do balcão e fui em direção a cozinha. Já podia sentir meu nervosismo tomando vida. Quando adentrei naquele lugar, frustação é a única coisa que sobrou.

- Bom dia, Isa. - desejou Felipe.

Deixei meus ombros caírem.
Acabei deixando transparecer minha frustação, pois Felipe logo estranhou.

- Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

- Não, está tudo bem. - forcei um sorriso. - Bom dia.

Felipe sorriu de volta.
Fui até o canto da cozinha, peguei um avental e o vesti.

- E Gustavo, cadê? - perguntei sutilmente.

- Ah, ele não trabalha mais aqui.

Fiquei imóvel na mesma hora.

- Como?

Tentei ao máximo não transparecer minha... Tristeza?

- É, ele primeiro me pediu um tempo no trabalho, mas aí como ele já pagou todas as dívidas e como o pai já o tirou do "castigo" - fez aspas com as mãos. - Eu disse para ele que se ele quisesse poderia sair do emprego agora que estava livre. E de qualquer forma as férias estão acabando mesmo.

Fiquei em silêncio, ingerindo tudo aquilo.

- E quando foi isso? - consegui perguntar.

- No sábado.

Um dia depois do ocorrido. Ele estava fugindo de mim.

- Mas eu acho que de início ele não quis muito, não. - continuou Felipe.

- Por que diz isso?

- Quando lhe falei que poderia sair do emprego a ligação ficou muda por um minuto. Perguntei o que tinha acontecido e ele me pediu um tempo para pensar naquilo. - Felipe pegou uma vassoura e um pano de chão. - No sábado à noite ele me retornou e disse que iria parar de trabalhar.

Assenti.

Não consegui fazer mais perguntas e não tocamos mais no assunto durante todo o dia que se prosseguiu. Não que trabalhar sem o Gustavo seja chato, já que era assim antes dele chegar, mas sua ausência aqui me deixou inquieta.
Ainda mais depois de tudo o que tinha acontecido.
Eu pensei que eu fosse chegar aqui, iria dizer tudo o que eu queria, ele ia debater, nós discutiríamos e depois nos acertaríamos. Mas isso não aconteceu.
Não tirei a limpo o que aconteceu na sexta e eu não sei o que fazer.

Voltei a trabalhar para ocupar a mente e passei o resto da tarde me esquivando de pensar nisso. Até porque eu estava muito confusa sobre o que eu estava sentindo naquele momento.

Quando o expediente acabou, troquei de roupa e me despedi do Felipe. Saí da lanchonete veficando meu celular dentro da mochila. Peguei e vi duas ligações perdidas do Gustavo. Meu coração começou a bater mais forte.

- Eu te liguei. - sua voz congelou minha espinha e, por um momento, eu esqueci como se respirava.

Levantei minha cabeça e vi Gustavo parado com as mãos no bolso da calça.

- Percebi... - foi a única coisa que saiu.

Gustavo se aproximou. Ficou a 30 centímetros de distância de mim.

O freio de um carro na rua me trouxe a realidade e eu fui voltando a respirar normalmente.

- Eu saí do emprego. - apontou para a lanchonete.

- Eu sei.

Gustavo ficou em silêncio, um pouco desconcertado.

- Posso te acompanhar até a sua casa?

Eu ainda estava tentando achar aquela raiva que eu tinha de manhã, mas ela havia sumido. Ficando só o nervosismo no lugar.

Assenti e fomos andando.
A caminhada foi a mais silenciosa que já existira na Terra. No meio do caminho, Gustavo pegou minha mochila para levar. Relutei, mas ele insistiu.

Não demorou muito para chegarmos em frente a minha casa. Peguei a mochila com Gustavo e esperei até que ele falasse alguma coisa. Mas não aconteceu.

- Não vai falar nada? - perguntei, já inquieta.

- Sobre o que?

- Sobre o que você acha? - respirei fundo. - Para quê você me ligou?

- Eu queria esclarecer o que aconteceu sexta.

Senti minhas mãos começarem a suar.

- Sou toda ouvidos.

Meu coração já havia parado, voltado a bater, parado de novo e voltado mais uma vez. E eu estava muito próximo de ter uma parada cardíaca real.

Gustavo respirou fundo e pegou minha mão.

- Isa, eu gosto demais de você. Passar esses meses trabalhando com você foi maravilhoso. Porque você é maravilhosa. Você é completamente diferente do que eu imaginei. E é o sonho de qualquer garoto.

Deu um beijo na minha mão.

- Mas eu não sou o garoto certo para você. Você é cristã e eu sou... Um revoltado da vida. Você merece uma pessoa melhor do que eu.

Tentei ao máximo segurar minhas lágrimas que ameaçavam a cair.

Então era isso? Eu que devia falar umas verdades para ele e ele me vem com essa?

Puxei a minha mão.

- Está bem. - disse tentando parecer o mais segura possível. - Eu não estou procurando namorado.

Dei as costas e entrei na minha casa.
Fui direto para meu quarto e agradeci por ninguém está em casa. 
Fechei a porta e chorei tudo o que tinha pra chorar. Quando me recuperei, limpei minhas lágrimas e orei a Deus.
Me aliviou um pouco e eu acabei pegando no sono.

(...)

Então é isso...
Me desculpem a demora, eu não ando muito bem de saúde.

Só eu reparei que a capa e o nome do livro mudaram?
Aêêêh.
Agora sim está tudo entrando nos eixos. 

Cometem o que acharam e não esqueça do votinho. Titia Sara carece disso.

Bjs e fiquem com Deus.

Nos Propósitos de Deus Onde as histórias ganham vida. Descobre agora