Capítulo 12

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Eu entrei na casa principal pela cozinha outra vez, primeiro porque achei que saberia lidar melhor com a situação se encontrasse a Meryl sozinha, segundo porque continuava sendo muito sem senso eu entrar pela porta da frente. Para a minha surpresa, não era a Meryl que estava na cozinha, mas sim o Don, checando o almoço, que estava cheirando muito bem, por sinal.

“Oh! Hey Molly! Tudo bem?” Ele falou, muito simpático. Bem, se ele estava sendo simpático era porque não desconfiava de nada. Mas ainda assim, eu estava tendo dificuldades em olhar pra ele, claro, eu ainda não consigo fazer a cara de ‘eu não fiz sexo com a sua mulher’.

“Oi Don. Tu.. tudo bem sim.” Eu odeio o fato de gaguejar quando estou nervosa, tão patético.

“O almoço já tá quase pronto e a M. já vai descer. Você pode levar isso pra mesa, por favor?” Ele continuou.

“Claro.” Eu respondi, poderia fazer qualquer coisa pra não ficar perto de você por muito tempo, Don, não que eu não goste de você, é só o fato da vergonha estar escrita na minha cara. A verdade é que eu não tenho culpa se sua mulher é tão sexy. Eu rapidamente, peguei os pratos e fui pra mesa, lá encontro Kori, também colocando a mesa. Hmm, então o ‘a gente’ também incluía a Kori, bom saber, isso é um alívio, não precisaria encarar os dois sozinhos.

“Molly, oi. Como vai senhorita?” ela falou comigo, como sempre super sorridente, mas eu notei um cansaço nos seus olhos.

“Vou bem, Kori. E você? Fico feliz de já estar se sentindo melhor.” Eu respondi, e eu fiquei feliz mesmo, porque não iria precisar ficar sozinha numa mesa com a mulher com quem dormi e o marido dela. O marido dela! Ai meu Deus, eu deveria ter inventado uma dor de barriga e ter evitado esse almoço, com certeza.

“Eu tô quase lá, Molly. Na verdade, eu não ia vir hoje, mas a Meryl me ligou e disse que precisava de mim pra resolver algumas coisas.” Ela explicou. Hmm, porque a Meryl chamaria a Kori ainda doente sendo que eu estava ali bem pertinho? Será que ela estava me evitando?

“Sim, mas assim que terminarmos, a senhorita vai voltar pra casa e descansar.” Disse Meryl, graciosamente descendo as escadas, nada de camisolas dessa vez, mas ela estava super casual e usando jeans, o que é Meryl Streep usando jeans? “E você, Molly, vai ter o dia livre, já que a Kori está aqui.” Ela continuou e foi aí que percebi que a Meryl estava realmente me evitando, pois ela sequer olhou nos meus olhos quando falou isso, eu posso culpá-la? Não, eu não posso, mas o que aconteceu na noite passada não foi só culpa minha, certo?

“Ok.” Foi o máximo que pude falar sem que pudesse mostrar o quão frustrada eu tava. Nós nos sentamos assim que o Don trouxe o almoço pra mesa, eu perto da Kori, é claro, e a Meryl ao lado do Don.

“Don, pensei que você só voltaria amanhã.” Kori falou, e foi bom ela ter falado, porque eu estava pensando a mesma coisa.

“E eu iria... mas houve um equívoco, e ao invés de eu participar dos dois dias do congresso, só precisei participar só de um, então resolvi voltar pra essa mulher, já tava morrendo de saudade.” Ele respondeu, se aproximando da Meryl, colocando uma mecha do cabelo dela por trás da orelha, dando um beijo na bochecha dela. A Meryl não disse nada, apenas sorriu, se inclinou pra receber o beijo e depois piscou pra ele. Eu, é claro, estava morrendo de ciúmes da cena de amor explícito.

“Como foi ontem, baby?” Ele perguntou a Meryl, assim que ouvi a pergunta, olhei pra Meryl e quando ela ouviu essa pergunta, olhou pra mim também, foi a primeira vez que ela olhou pra mim durante o almoço. Ela continuou olhando pra mim, e aí eu vi que ela estava envergonhada, mas eu não podia culpá-la porque eu também estava, e o Don ainda estava esperando a resposta da Meryl. “O evento, M. Como foi?” ele perguntou outra vez, sem olhar diretamente pra ela.

“Foi ótimo, D.” Ela falou, sem tirar os olhos de mim, eu engoli em seco. O que era que a Meryl estava descrevendo como ótimo? A nossa noite ou o evento mesmo? Fiquei na dúvida, mas eu ia perguntar isso naquele momento? Não mesmo. Ela provavelmente tava falando do evento, apesar de que pra mim, nossa noite foi mais que ótima, foi maravilhosa. Só de lembrar, eu... er, preciso beber um pouco de água.

A almoço passou sem mais perguntas que nos fizessem lembrar da noite passada, mas não era nem preciso fazer pergunta nenhuma, era só nós duas olharmos uma pra outra que tudo vinha à mente, eu percebia um certo nervosismo nela quando olhava pra mim, mas ela deveria se sentir assim estando à minha frente e ao lado do marido ao mesmo tempo. Almoço terminado, Meryl falou pra Kori subir pro escritório, Don disse que tinha uma tal ligação pra fazer, e eu, ousadamente, me ofereci pra ajudar a Meryl com as louças, ela, sabendo que soaria estranho se dissesse que não, aceitou.

Depois de 2 minutos que pareceram uma eternidade de silêncio, eu tomei coragem. Alguma coisa precisava ser dita sobre aquela noite, mesmo que fosse um pedido de desculpas, ainda que eu não me arrependesse de nadinha, alguma coisa precisava ser dita, e percebendo que a Meryl, surpreendentemente, estava acanhada e não conseguia falar nada sobre isso, eu teria que ser a corajosa e falar sobre isso. Apertando minha armadura outra vez, agarrando o meu cachecol grená invisível, eu me aproximei da Meryl, que estava encostada na pia, com as louças, e pus a minha mão em seu ombro. Ela virou o rosto e olhou diretamente nos meus olhos.

“Meryl...” Eu comecei, mas ao ver aqueles olhos ali tão focados em mim, eu de repente fiquei com a boca seca e sem saber o que falar.

“Meryl, eu...” eu tentei de novo, mas agora ela virou o corpo inteiro na minha direção, dirigindo toda a sua atenção pra mim, agora não era só o rosto focado em mim, era o corpo inteiro, e isso, obviamente, me causou um arrepio enorme. ‘Vamos Molly, fale o que você tem pra dizer.’ Eu ouvi a minha pequena eu me encorajar, ok, vamos lá, como tirar um band-aid, rápida e objetiva.

“Meryl, euseiquevocêsearrependedoqueaconteceuentreagentemedesculpemasfoiamelhornoitedaminhavida!” Uffa, eu falei feito um jato, numa respiração só e ela gargalhou, ela gargalhou e pôs uma de suas mãos sobre a minha.

“Molly, respire e tente outra vez, em uma língua que eu entenda, ok?” ela falou com um sorriso no rosto. Um sorriso que sumiu quando ela me viu respirar fundo, ela ficou séria outra vez e voltou a olhar diretamente nos meus olhos.

Ok Molly, tente mais uma vez. “Meryl...” eu comecei de novo, e a senti apertar minha mão me encorajando a continuar. “Eu sei que você se arrepende do que aconteceu entre a gente... me desculpe..”

Eu não consegui terminar de falar, porque aquela mão que estava sobre a minha, agora estava no meu rosto, na minha bochecha pra ser mais exata, e um belo par de olhos de cor indecifrável olhavam pra mim de forma que eu me sentia despida.

“Molly... como você pode saber o que sinto se eu não te falei nada?” ela disse suavemente, e aí houve um silêncio, meu Deus, o que isso significa? Eu senti uma urgência em perguntá-la, ‘então me diz, Meryl, me diz o que você sente!’ mas eu não tinha voz, e mão dela continuava no meu rosto e eu ainda estava perdida naqueles olhos. “Bem, a Kori está me esperando.” Ela falou e assim saiu da cozinha. Não Meryl, volta aqui e me diz o que você sente, meu Deus, porque essa mulher tem que ser tão misteriosa?

Essa mulher ainda me mata.

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