capítulo 2

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Tive que sair da cafeteria e ir para o pronto-socorro o mais rápido possível. No caminho, notei que as pessoas estavam animadas e se aglomeravam em longas filas que cobriam boa parte da calçada. Minha curiosidade era muito forte. Perguntei a uma garota na fila e ela disse algo tão óbvio que me senti culpado por perguntar.

Aquela multidão estava entregando os formulários de inscrição. Hoje era o primeiro dia e uma parte da cidade já estavam lá, imagine o quão desesperadas estão essas pessoas. Sinto-me de consciência pesada. Fiz algo de errado?

Chegando no local que minha tia estava procurei na recepção o número do quarto, porém por falta de dinheiro minha tia não poderia ficar lá. Apenas fizeram o básico para mantê-la viva. Tentei ligar para o tio Louis, mas ele não atendia. Voltei para casa na esperança de encontrá-los.

— Tio Louis? — Chamei ao perceber que não havia ninguém. Um barulho vinha das escadas, alguém desciam.

— Querida, estamos no quarto. Sua tia não está nada bem. Ela passou mal esta manhã. O médico falou que foi pressão alta devido ao estresse. — Ele estava angustiado. — Ela pediu para conversar com você.

O barulho da madeira da escada me deixava ansiosa e deprimida, parecia que tudo aquilo girava em torno de uma única causa. E eu espero que essa causa não seja a minha. Ao entrar no quarto, vejo tia Lisa deitada com um lençol branco sobre seu corpo, a pouca iluminação no quarto deixava tudo com ar fúnebre. Me causava arrepios.

— Tia, estou aqui. Queria me ver? — ajoelhei-me perto da cama.

— Stella... Preciso que você me faça uma promessa. — Ela estava com a voz tão melancólica, que imaginei que alguém estava prestes a morrer. — Sei que eu não deveria te pedir isso, mas é muito importante que você me prometa que vai fazer isto. Preciso que se inscreva na Seleção. Antes que me responda, deixe-me falar. Sei que você desconsidera todas as chances de participar, mas como você pode ver, ninguém aqui estará para sempre para te proteger. Eu e seu tio estamos ficando velhos, os meninos vão casar uma hora, e você? O que pensa em fazer? — Sua respiração estava ofegante — E minha querida, o mundo te espera para abrir oportunidades incríveis, não deixe elas passarem.

Seu olhar era de tristeza, havia algo que eu não sabia. Ela estava muito mal para quem teve uma pressão alta.

— Ao falar com o médico, descobrimos que tive um AVC. Sem os medicamentos e tratamentos certos não sobreviverei por muito tempo. — Estava ficando difícil de compreender sua fala. Mas foi o bastante para que eu entendesse a gravidade do assunto. Meus olhos estavam ardendo em lagrimas seguidos de soluços.

Tio Louis estava na porta secando suas próprias lagrimas.

— Stella, você precisa ir para seleção, ficará segura lá. Iremos para o exército e a Lisa receberá os medicamentos lá. Partiremos na segunda pela manhã. Eu teria que ir para um cartório tirar a foto para colocar na ficha que seria enviada para o Palácio. O resultado sairá em dois dias. Minha tia tinha que aguentar mais dois dias.

...

As coisas podem mudar de uma hora para outra. Há poucas horas eu estava convencida de quê eu não assinaria aquele papel. Agora estou em um impasse de frente a janela do meu quarto tentando não surtar. Eu não consegui me convencer de quê essa seria a melhor opção. 

— Por você, tia Lisa. — Respiro fundo e começo a preencher o formulário de inscrição. Eu teria apenas uma chance, mas pelo menos posso dizer a ela que tentei.

Alguém bate na porta do quarto. A Laura aparece seguida por Pitter. Eles sentaram ao meu lado, me abraçando. Minha respiração já falava por mim, mesmo em silêncio. Estava bem triste e chateada pelo que está acontecendo.

— Sentimos muito pelo acontecido. — Disse Laura.

— Eu poderia ficar. Poderia cuidar dela. Mas insistem que eu vá.

— Talvez seja o melhor a se fazer, Stella. — Disse o Pitter.

— Não. Se algo acontecer eu não me perdoarei nunca — Não demorou para as lagrimas caírem. — Aquele lugar não é para mim. Por que insistem tanto para que eu vá? Sinto que nada voltará a ser como antes. Quero que saibam, estou indo apenas realizar o pedido dela. Mas contra minha vontade. Odeio a ideia de que vamos nos separar. Odeio está maldita guerra que está por vir...

— Stella, sentiremos muito sua falta. Por favor, lembre-se de nós, nos envie cartas. — Laura acariciava meu rosto com as costas da mão.

Nunca havia sentindo tanta raiva e tanta vontade de chorar como agora. Esse sentimento me consumia de uma formar que me fazia querer fugir. E por que não? Talvez isso desse certo! Mas e se eu caísse nas mãos dos rebeldes? Para onde eu iria?


...


Hoje seria o dia. Iriam anunciar as  garotas que iriam participar. No dia que levei o formulario, me exigiram uma foto, como eu não tinha nenhuma, eles tiraram na hora. Me senti tão humilhada, olhava ao redor e tinha tantas garotas bem vestidas e maquiadas. Eu mau tinha penteado o cabelo, não estava com roupas novas, na verdades as minhas roupas pareciam mais com pijamas. 


— 

A filha da rainha (HIATOS)Onde histórias criam vida. Descubra agora