Stephen, ainda tímido, seguiu pelo portal parando alguns passos à frente e aguardando a porta ser fechada. Agora, na penumbra, e com apenas algumas arandelas acesas, sentia os olhares sobre si.

— Se a senhora me permite... — voltou a encarar aqueles olhos azuis vividos e tentando soar o mais educado e firme que pode.

— Ela não está. — com uma resposta simples, a senhora trancou a porta e o encarou de volta.

— Desculpe? Como assim? — Stephen fez menção em pegar o seu celular no bolso e assim verificar se tinha compreendido a mensagem de Manoela direito. Estaria adiantado? Não podia. Tinha certeza que aquele era o horário.

— Ela me pediu que te fizesse companhia. — a senhora chegou até ele em segundos e acomodou uma de suas mãos enrugadas entorno do seu braço, Stephen a olhava com curiosidade. — Manoela precisou sair para buscar alguma coisa. Sabe como são esses jovens, não gostam de dar explicações para velhos como eu. — o encarou com olhar de autopiedade. — Ela pediu que te recebesse assim que chegasse. Venha. Vamos subir, você precisa de uma toalha. Cadê o seu guarda-chuva?

A senhora não parava de falar sobre a importância de se andar com um guarda-chuva e que ele ficaria resfriado por conta dessa imprudência, ao mesmo tempo em que o guiava escada acima sem que ele sequer notasse. O apartamento da Sra. Smith ficava no terceiro andar e era o maior de todos. Uma sala ampla e com duas janelas daquelas que tem uma sacada quase inexistente, e diante delas ficava uma poltrona estrategicamente posicionada. A vista que se tinha dali era de toda aquela rua, mesmo com suas curvas.

Na sala, ainda continha dois jogos de sofás muito bem conservados, com uma manta em cada e algumas almofadas oferecendo cor naquele ambiente escuro por conta da iluminação de luzes amareladas. Uma mesa de centro os separava, e sobre ela vários bibelôs de porcelanas, como também no armário atrás de um desses sofás. Stephen sentou com receio na ponta do próximo à entrada. Estava dentro da casa de uma completa estranha que não parava de falar nem para respirar.

— Vou buscar uma toalha e um chá quente para você.

Antes que Stephen pudesse responder, a mulher sumiu de suas vistas, e ali, sozinho naquela sala intocada – com cheiro de mofo misturado com o adocicado do açúcar queimado – deixou que seus pensamentos voltassem para a sua infância.

Estava ali um jovem rapazinho de sete anos, nas famosas visitas até a casa dos seus tios. Casa da qual pertencia a seus avôs, mas que o tio havia se instalado. Aquele homem robusto e de voz gutural tinha esse direito. Ele era detentor dos negócios da família. O mais velho de dois filhos que fora preparado para assumir o legado dos Webers desde o seu nascimento, o que deixou o pai de Stephen à sombra, apenas como uma marionete a seu bel-prazer.

Tio Andrew teve dois filhos. Christopher, três anos mais velho e Emily, poucos meses mais jovem que Stephen. O que o primo tinha de nojento, arrogante e prepotente, Emily seguia em sua doçura. Eram muito amigos e isso enciumava o mais velho que sempre que podia tratava Stephen como o seu prisioneiro particular. Por isso, Stephen não gostava dali. E com o passar dos anos isso tendia a piorar, e seu pai jogava em suas costas uma responsabilidade da qual ele não estava disposto a receber.

Richard Weber desejava que o filho fosse aquilo que ele não conseguiu ser e suas atitudes apenas acuavam mais e mais o seu primogênito. Enquanto as projeções lhe eram almejadas, o seu irmão do meio comia pelas beiradas e logo lhe ofuscaria se mostrando como aquilo que o pai desejava. Stephen foi descartado e Steven ascendeu.

O raro alento do futuro professor veio nos braços da única pessoa que conseguia enxergar a sua essência: a sua avó Vivian.

Era por ela que suportava passar algum tempo na casa dos seus tios e embaixo dos olhares raivosos de seu primo. Christopher não tinha beleza. Era vazio. A avó lhe detestava e amava com paixão o neto com quem compartilhava afinidades.

O Professor [Completo]Where stories live. Discover now