04 - Branca de Neve

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A casa de Henry fica a alguns quilômetros a oeste de Mônaco, em direção a Nice, no final de uma estradinha no topo de uma encosta. À medida que Jean, meu motorista, adentra na propriedade após passar pelos altos portões de ferro, começo a avistar a casa com arquitetura moderna em madeira rústica e vidro em meio às árvores. Jean me deixa na entrada e eu o dispenso.

O lugar é muito tranquilo. Por ser rodeado de árvores altas até onde meus olhos conseguem avistar, imagino que muitos bichos vivam por ali, e eu consigo identificar o canto de alguns pássaros dando boas vindas àquela manhã ensolarada. Posso ouvir também, um pouco longe, o som de água correndo, como um riacho ou algo do tipo, embora não saiba dizer exatamente de que direção esteja vindo.

— Muito pontual, Srta. Delacaux — a voz de Henry mecanizada sai pelo interfone logo ao lado da porta principal da casa.

— Meu Deus do céu! — estava tão perdida ouvindo o canto dos passarinhos que levei um susto enorme ao ouvi-lo. Susto tão grande que me fez cambalear no primeiro degrau da entrada e quase me espatifar no chão. Levo as mãos no peito para ter a certeza de que meu coração ainda estava lá, funcionando.

— Parabéns, você passou no meu primeiro teste — ele continua, ainda pelo interfone. — Poderia jurar que é britânica.

— Vai me deixar entrar ou o quê? — resmungo, tomando fôlego.

— Por favor, a porta está aberta. A casa é sua.

Empurro a bonita porta de entrada e me esgueiro para o hall da casa. Imediatamente sou invadida por um delicioso cheiro de café e frituras. Saí de casa em jejum, então logo meu estômago reivindica que eu o preencha com a fonte daqueles odores maravilhosos.

A casa é muito acolhedora e me sinto por um momento como num chalé de montanha, sendo que bem moderno e clean. O piso é todo de tábua corrida e as colunas de madeira. A sala de estar, de jantar e a cozinha são um amplo e único ambiente aberto, separados apenas pela disposição dos móveis. A parede oposta à entrada é toda de vidro e dá, até onde consigo ver, para uma varanda na área externa com sofás e poltronas, uma piscina com borda infinita e a floresta logo adiante.

Encontro-o no balcão da cozinha, chacoalhando frigideiras para lá e para cá enquanto assovia algo que não consigo reconhecer. Os cabelos despenteados ainda molhados denunciam que acabara de sair do banho. Juro que queria ser esse tipo de pessoa que acorda bem cedo cantando com os pássaros e fazendo panquecas de forma feliz como numa propaganda de margarina, mas meu cérebro só é cem por cento funcional mesmo lá para depois das onze da manhã.

Sophie aparece no topo dos degraus da entrada ao mesmo tempo que termino de fritar os ovos mexidos. Seu olhar percorre toda a casa até me encontrar atrás do balcão da cozinha.

Sorrio.

Sophie é uma pessoa peculiar. Poderia chamá-la de rabugenta, mas é tão linda que o adjetivo não combinaria. Está usando um elegante vestido azul marinho de cortes retos e sapatos vermelhos que a faz parecer que acabou de sair de um filme dos anos cinquenta. Impecável, clássica, linda. Somado ao seu sotaque irremediavelmente francês e incrivelmente sexy, não poderia ser mais a cara da high society de Mônaco. Seus enormes olhos azuis cor de piscina piscam e ela vem ao meu encontro, sem retribuir o sorriso.

— Servida? — aponto para os pratos recém-feitos com ovos, torradas e minipanquecas.

— O cheiro está muito bom — ela se senta do outro lado do balcão. Um elogio! Estou chocado.

O cheiro dela também está muito bom, mas decido guardar esse comentário somente para mim.

— Achei mais seguro alimentá-la logo pela manhã. Não esqueci que é perigoso deixá-la com fome, Srta. Delacaux.

O Grande Prêmio (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora