8 - Primeiras impressões

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- Com os títulos que ele tem, uma gafe assim não pode ser considerada algo relevante. Ora, uma situação dessas tem várias interpretações. No Leste antigo o anfitrião sabia o quanto o seu convidado aprovara a comida com base apenas na forma com a qual este arrotava. E esse arroto ao qual você se refere, um momento de leve mau comportamento de tão nobre estômago, foi em um programa de sábado, às sete da manhã. Definitivamente em um horário de baixíssima audiência!

- Verdade! E os antigos Marthis feiticeiros previam se sua colheita seria boa com base na forma com que os prisioneiros se contorciam enquanto morriam, depois de serem golpeados por eles, não é? Acontece que eu assisti o maravilhoso exercício de falta de modos do seu convidado. Apesar do horário!

- Não faz sentido querida. Isso não pode ser tão relevante para você.

- Não, não especificamente isso. Eu apenas espero que tantos títulos realmente nos sejam garantia de que o convidado é um homem cujos costumes de emissão de gases em um ambiente fechado consistam exclusivamente em arrotos, querido. E, não sei se sabe, mas no Leste antigo também se criavam morcegos gigantes como animais de estimação, e alguns deles devoraram seus donos enquanto dormiam. Começando pelos pés.

- Bom, o que sei é que ele está ansioso também. Ah sim, também encontrei com Paulo, ele ainda tem aquela mania, e me cumprimentou enquanto emitia luzes dos ouvidos. E ví a senhora dos sapatos engraçados de pelos. Ela não usava esporas hoje.

- Ela se chama Gema. - A mulher brincava com os dedos. - Dona Gema Clara Luzes. Ela só usa esporas em dias nublados.

- Encontrei também com o jovem Cedro, que por acaso, agora está de mudança. Não parecia muito bem o rapaz. Espirrava bastante, alguém devia cuidar dele.

- Desde que veio morar aqui e começou a trabalhar com entregas, ele nunca pareceu bem. E os jornais cada dia mais atrasados! Ele devia procurar outro emprego. Bem, mas então, agora, logo todos estarão felizes por nós - Laura manteve o olhar baixo e malicioso, e outro sorriso sarcástico no canto da boca. - Agora.

- Sim. E agora, o que faremos?

- Nada. Conseguiu, não foi? Sem ajuda, mas conseguiu.

Ficaram ali mais alguns instantes enquanto Alex resolvia se iria levar Anabel para seu quarto no primeiro andar ou no do térreo. Acabaram decidindo por deixa-la ali mesmo, pois não queriam dormir, caso a menina acordasse antes do previsto. Pela estimativa de Laura ela iria realmente dormir pelo resto do dia.

- Querida, e se mudássemos novamente a decoração do quarto? Aquela cama não me parece estar num lugar em que aproveite ao máximo a ventilação vinda do lado norte em um ângulo entre 53 e 76 graus. Nem do sul, nem dos outros dois. Na verdade o sol esquenta o quarto durante todo o dia, pois sua luz entra diretamente pela janela e à noite tudo se torna uma estufa.

- De novo?! Que tal mudar a janela de lugar dessa vez? Você tem algum problema com aquele quarto ou eu devo...

- Porém - interrompeu-a Alex, abruptamente - Simplesmente pediremos a ajuda de todos os verdadeiros amigos. Seria bom, um significado importante! Não tivemos tempo de arrumar para hoje. Será que ela vai gostar?

- Tão cerimonial. O que acha de não inventar nada e apenas aproveitar?

- Não é cerimônia, é importante! É único. Ora, tudo o que nós queríamos está acontecendo.

Laura ergueu a cabeça:

- Não se encha de expectativas ou precauções desnecessárias. Ela é nosso sangue, antes de qualquer coisa. Lembro que alguém prometeu tirar a barba esquisita assim que encontrasse a neta desaparecida.

O Sagitário De SamechOnde as histórias ganham vida. Descobre agora