O Mapa de Ilim-Rüyalar

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Ja faz um tempo percebi que meus sonhos sempre acontecem em uma mesma cidade. Não é nenhuma cidade real - mais parece um amálgama de todas as cidades que conheço e já visitei. Comecei a perceber isso quando nos meus sonhos eu tinha a sensação de conhecer aquele lugar, por mais que racionalmente eu soubesse que nunca havia estado lá. Depois disso, esses mesmos lugares começaram a aparecer em diferentes sonhos. E, em pouco tempo, essa cidade ganhou uma forma tão real quanto qualquer outra cidade.

E isso chamou minha atenção. No início, achei interessante como isso acontecia. Nos sonhos, eu pegava uma estrada deserta e sabia exatamente onde estava e onde queria chegar. Se virasse à esquerda, chegaria em um bairro, à direita a outro. No centro da cidade, em uma das várias praças interconectadas por uma grande avenida, eu sabia exatamente onde encontrar vários prédios, teatros, lojas, restaurantes e museus.

Foi quando resolvi desenhar um mapa dessa cidade. Eu sempre quis ser arquiteto e desenhar mapas de cidades sempre foi um hobby meu. Então, no meu tempo livre, juntava papel e lápis e começava a rabiscar a cidade que aparecia nos meus sonhos e aos poucos o mapa foi crescendo. E quanto mais crescia, eu ia juntando folhas A4 e ampliando a área do mapa. Em pouco tempo, já tinham dez folhas grudadas formando o grande e detalhado planisfério.

Então eu cometi o erro de ver a cidade à distância. Pendurei o mapa manuscrito na parede e me afastei. Foi assim que percebi o padrão que nunca havia visto: a cidade parecia uma espiral, por mais que as principais avenidas fossem retas e as quadras assimétricas. Era algo estranho, uma espiral formada por retas e quadras - algumas triangulares, outras quadradas e vários ângulos obtusos e agudos, com algumas praças circulares, rotatórias, e várias figuras geométricas interconectadas, mas o mapa da cidade formava claramente uma espiral. Tentei encontrar algum padrão matemático na espiral, mas me parecia muito irregular.

E, ao me aproximar novamente, procurando o centro da espiral, foi que encontrei o que nunca deveria ter encontrado. No início, a quadra parecia mais uma quadra normal, como qualquer outra. Neste caso, era uma quadra comercial, com prédios e lojas e, como muitas outras quadras, no meio dela, longe das ruas, havia um pequeno parque.

E foi então que os pesadelos começaram.

No primeiro da série, eu estava justamente nesse pequeno parque no meio dessa quadra, no que parecia ser uma grande tempestade. Nesse parque não havia muita coisa além de alguns bancos de cimento e grama. Mas era noite e a chuva era forte. Eu olhava os prédios em volta e não conseguia ver nenhuma luz acesa. Quando relâmpagos caiam, conseguia ver alguma coisa mais detalhada, mas nada muito preciso. Olhei em volta para procurar algum abrigo, quando vi que do outro lado da praça havia uma pequena galeria que levava até a rua e achava que lá eu iria ao menos conseguir me proteger da chuva. Corri do outro lado, pisando nas poças de água e na lama formada no temporal, mas quando foi passar pelo meio, o que parecia uma simples poça de água acabou se mostrando uma profunda piscina. Pisei no buraco e mergulhei na água suja, como se caísse em um poço. Acordei antes de me afogar por inteiro.

Tive dificuldade em voltar a dormir nessa noite, principalmente porque quando acordei, de fato estava chovendo lá fora. Não me lembro de outro sonho naquela semana.

No próximo sonho vívido que me lembro, eu estava em uma avenida principal da cidade, quando resolvi caminhar até aquela quadra. Cheguei na frente da galeria e resolvi atravessar até a praça. Só que quando cheguei do outro lado da galeria já era noite e bem no centro da praça identifiquei uma figura que parecia uma pessoa encapuzada, vestindo uma espécie de túnica velha, grossa, suja e pesada, com um capuz cobrindo o rosto - não conseguia ver ou identificar nenhum detalhe do rosto. Ela estava no centro da praça, onde antes eu mergulhara no que parecia ser um poço escuro e sem fundo. Ela olhava na minha direção e esticou seu braço para mim. Senti uma grande necessidade de ir até ele, por mais que racionalmente soubesse que não deveria fazê-lo. Mas, racionalmente também percebi que aquilo era só um sonho e nada de mal poderia acontecer. Quando me aproximei, o ser segurou meu braço com seus longos e finos dedos e consigui sentir suas longas e sujas unhas furando minha pele. Tento soltá-lo, mas não consigo: ele é mais forte do que eu. Eu então ouço uma voz rouca, com um grito surdo que parecia ecoar no silêncio dizendo: "Ilim-Rüyalar". Então essa figura se desfaz em uma pilha de poeira e some. Eu acordo.

Os Novos Pecados CapitaisWhere stories live. Discover now