Capítulo 07

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Continuou com a sua rotina normal, fingindo que tudo que aconteceu foi um sonho distante em sua memória. Tinha experimentado os prazeres da carne em nome do pecado, tinha quebrado a sua promessa do celibato. O padre Styles se remoía em culpa e remorso.

Era um pouco mais que culpa, porque não sentia culpa pelo que tinha feito com Kyra. Tinha provado um pouco do fervor daquela garota e gostara, se sentia culpado, por não estar arrependido. Estava esperando a qualquer momento fies enfurecidos entrarem na casa paroquial e o acusarem pelo que tinha ocorrido ali dentro daquela igreja. Estava sendo paranoico, Padre Styles sabia bem, mas estava apreensivo e confuso.

Nada podia tirar a confusão daquele misto de sentimentos contraditórios de seu peito. Andou pela casa perturbado, não conseguia dormir. Toda vez que fechava os olhos tinha a visão das curvas deliciosas e do toque macio da pele da garota. Era uma tentação inofensiva a princípio. Seu membro ficava rijo só com o pensamento e a tensão tomava conta de seu corpo. Logo se levantava e entrava em um banho frio, deixando a agua levar para longe toda a sua loucura.

Era só desejo?

Ele não conseguia dizer nem a si mesmo.

Assim deixou se levar elas horas arrastadas e pelo escuro reconfortante do seu quarto. Tentou pensar como um homem, e não como um servo de Deus. A imagem do rosto do seu pai se franzindo em linhas grossas e borradas vinha a memória, a forma como ele encarava seus problemas era o seu norte. Nunca fugir deles, ele dizia, erga a sua cabeça e faça as coisas acontecerem.

Ele não via Kyra como um problema. Era um doce desejo interno com seu caminhar lento e o balançar dos quadris inconsciente, tinha trazido a sua vida nos últimos dias a grande confusão que o assolava, mas não conseguia se arrepender por deseja-la como nunca desejou ninguém. Era parte dele, entendia bem sobre isso, pregava em sua Paroquia sobre o auto controle mas se auto flagelava em silencio agora.

Falhou com o seu dever. Falhou com a sua promessa a Deus.

Ao inferno, precisava conversar com Kyra sobre o que sentia. Mas algo sobre ela o incomodava, talvez o fato de ter falhado com ela quando tudo que ela mais precisa no momento é ajuda. Cuidaria disso também, fez uma nota mental.

Ela era fogo e desejo mas havia algo escuro e sombrio em seu olhar, sentia uma necessidade de desvendar muito mais do que o seu corpo.

Antes mesmo que o sol saísse de trás das montanhas em Dustinville, a pequena cidade ao sul do estado estava coberta pela nevoa matinal de todos os dias, mas Harry já estava de pé em seu traje social composto por seu jeans e uma camisa de mangas longas, abotoou os punhos da camisa social e saiu para uma caminhada corriqueira.

Visitara a casa de Carolyn Jones algumas vezes antes de morrer, mas toda vez que pisava no gramado do jardim seco sentia como se não devesse estar ali. Era quase como uma coceira no fundo da mente querendo te dizer algo, mas nunca notara ao certo. Nuca dera atenção.

A quanto tempo Kyra estava o observando com outros olhos? Sentiu se um pouco perturbado. Quis dar meia volta, mas se manteve firme e continuou em frente. Bateu a porta e aguardou. Não obteve resposta, e já estava começando a ficar incomodado, olhando sobre o ombro ocasionalmente para ter certeza de que ninguém o observava. Que bobagem, pensou, ele tinha o habito de fazer algumas visitas, qual o problema?

Mas assim tão cedo? Continuou a se questionar se talvez achassem um pouco estranho. Pouco mais de cinco minutos se passou e ainda não obteve resposta alguma. A luz da sala estava acesa por detrás das cortinas, e Harry já estava acreditando que talvez ela tenho o vista do andar de cima e recusado a sua visita.

Por algum motivo, talvez relacionado a coceira perturbando o seu inconsciente, sobre coisas que ele nem mesmo sabia explicar, ele tocou a maçaneta quase pressentindo algo ruim. A porta estava aberta. Seu coração se tornou uma pedra de gelo no peito. Um velho desabrigado arrastava seus pés pela calçada segurando uma garrafa de rum quase vazia, acenou para o padre e continuou seu caminho. Harry engoliu seco, porque estava de fato tão nervoso?

Harry abriu a porta, e o que viu, teria assustado qualquer um desavisado. Pobre jovem padre, como poderia imagina que já estava criando internamente sentimentos pela moça? Quem poderia dizer a ele os segredos que a cidade guardava debaixo dos tapetes, escondidos ao fundo como poeira e livros velhos? Ah pobre padre, havia mais coisas entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia poderia explicar. Mas quando entrou naquela casa, bem naquela manhã coberta pela nevoa espessa e o frio característico do litoral, talvez fora quando as coisas realmente se sucederam a cadeia de fatos que os envolveria. E que quando Harry colocou os seus pés para dentro, ele não poderia mais dar de ombros e esquecer.

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