- Está bem, vou aguardar a senhora. Ó! O micro-ondas está apitando, está pronto o almoço. Vou descer e servir a vovó.

- Faça isso querido.

João levanta-se e recorda de algo. Não era muito importante, mas precisava avisar sua mãe, já que ela estava acordada.

- Mãe, eu não vou estar em casa para o jantar. Então vou servir o jantar da vovó mais cedo.

- Tudo bem querido. Espero que se divirta aonde quer que você vá e se comporte! Não siga os maus exemplos das suas irmãs.

- Vou estar na casa da vizinha, fui convidado pra jantar e... - interrompeu-se ao notar que sua mãe não estava prestando atenção mais, ficou alheia olhando um ponto qualquer na parede oposta. Tudo bem. Pelo menos conversamos um pouco, pensou.

Desce até a cozinha e desliga o micro-ondas que ainda apitava. A avó já estava à mesa esperando a refeição, acostumada com a rotina. Cuidadosamente João retira o pote fumegante do aparelho e despeja o conteúdo numa travessa bonita. Com as mãos ardendo pelo calor ele deposita a mesma rapidamente na mesa, enorme com tampo de granito, que servia basicamente para ocupar espaço, já que uma mesa infinitamente menor daria conta do recado.

João Paulo pega dois pratos do conjunto caríssimo de porcelana e dispõe para ele e a avó juntamente com os talheres de prata e duas taças de cristal. Era seu aniversário, poderia se dar a esse luxo. Mesmo sabendo que a mãe não viria, ele separa o mesmo para ela também.

Abre a geladeira e encontra um fardo de garrafas de água mineral Perrier e decide que aquela água caríssima, que seus pais faziam questão de ostentar em sua geladeira, seria ideal para acompanhar o almoço de aniversário.

- Madame. - João despeja o conteúdo da garrafinha na taça da sua avó com delicadeza como se estivesse servindo a realeza. Repete o mesmo na sua e experimenta, decepcionando-se porque tinha só gosto de água! Não entendia o porquê do valor exagerado.

Após servir o picadinho com espaguete para ambos, ele se senta e suspira finalmente relaxando para almoçar.

- E aí vó, ta bom esse almoço?

- Quê? - pergunta a avó por não ter escutado direito pelo som da própria mastigação e por ter tirado e esquecido de recolocar seu aparelho de audição.

- O almoço vó! Está bom?! - repete mais alto.

- Ta bem bom, filho. Bem bom!

- Ótimo! Vó a senhora sabia que hoje é meu aniversário?

- Aniversário? Seu? Não é!

- É sim vó! - diz e ri.

- Claro que não é! Eu não esqueceria o aniversário do meu neto!

- É hoje vó. Vinte e dois de junho. Vê o calendário? - Aponta para a geladeira onde estava preso o calendário com imãs dourados.

- Eu não esqueceria o aniversário do meu neto preferido. Não, não!

- A senhora não esqueceu meu aniversário vó. Só não sabia qual dia era hoje!

- É isso! É! Ah filho! Feliz aniversário! - abraça o neto com carinho. - Vou acabar seu presente e te entrego o mais depressa.

- Vou adorar vó. Obrigado. Eu vou sair hoje à noite, mas vou deixar seu jantar pronto e servido.

- Que bom que vai sair um pouco e se divertir. Você precisa. Está sempre trancado em casa. Vai aonde?

- Jantar na casa da Ana. Ela me convidou. - responde e segura o sorriso que insistia em aparecer quando se lembrava do fato.

- Olha! Isso me soa bem! - conspira sorridente.

Céu de Menta (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora