Capítulo 6

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Eu estava aterrorizada.

Entrei num estado paralisante. Lucy teve que me puxar para que eu os acompanhasse. Reprimi um gemido de dor quando ela puxou justo minha mão machucada.

Me forcei a continuar, ainda que meu corpo protestasse. Lince nos puxava escadas e mais escadas a baixo, e minha mente pairava num lugar distante.

Estávamos no último andar, tínhamos que correr porque não era seguro usar o elevador. Continuamos correndo. Correndo para fugir da chuva de bombas que caía sobre nós. Ouvíamos o som das bombas caindo ruidosamente, e o som das explosões tão perto, o prédio estremecia. Parecia um terremoto.

Então nós chegamos, o porão. O subterrâneo. O único buraco no qual podíamos nos esconder. Fechado e metálico, lembrava-me muito a cela que eu fiquei nas masmorras. O som perturbador da nova bomba caindo me fez estremecer.

Havia outras pessoas ali dentro. Poucas, o resto ainda deveria estar lá em cima. Vi Lince abrir a pesada porta que nos trancava lá dentro.

- Onde está indo? - Carter perguntou impedindo-a de sair.

- Vou procurar os outros, garoto. Não se meta. - ela rosnou, o fuzilando com seus olhos felinos esverdeados.

Eles se encararam por mais alguns segundos antes dela abrir caminho. Olhei em volta, o lugar escuro parecia assombrado, junto com o silêncio mortal que se instalava. Os soluços desesperados de uma garota que tentava resistir ao choro, chamou minha atenção. Ela estava abaixada contra a parede se abraçando. Tive pena, muitos em Mondian tem traumas de ataques aéreos.

Sentei-me no chão, com Lucy ao meu lado. Estávamos assustadas, com medo, estávamos juntas. Sentia-me aquela garotinha que abraçava a irmã no porão, enquanto uma chuva de bombas destruía a casa, segurando a mão do pai e no colo da mãe, a mesma que chorava e desmoronava, enquanto a filha mais velha tentava acalmá-la. Talvez eu ainda seja aquela garotinha.

A guerra e a morte andam de mãos dadas.

Convivi com a morte dezesseis anos da minha vida. Embora seja algo tão natural, ela ainda me assusta.

Quantos não estão perdendo suas vidas agora? Neste momento?

Minha respiração tornou-se curta e rápida, meu coração batia forte demais, meus dedos escureciam, disse a mim mesma para que mantivesse o controle.

Estávamos aqui. Estávamos respirando. Estávamos vivos.

Estávamos todos bem... Eu esperava que estivéssemos.

Repetidamente o som dos mísseis. As bombas faziam tudo tremer.

Pensei em vários dos meus amigos. A Elite era minha casa agora. Eu não suportaria perde-la.

Estávamos aqui. Estávamos respirando. Estávamos vivos.

Mais bombas.

De súbito, a tranca da porta foi girada. Lince entrava mancando. Com outros cinco que a ajudavam a manter-se. Eles a sentaram e ela se encarregou do trabalho sozinha.

Tirou a prótese, deixando à mostra sua meia perna sangrando. Ela pegou uma caixa que havia deixado no chão, tirando dela uma seringa. E com um gemido, ela aplicou todo o conteúdo na própria perna.

Levantei, indo até ela. Pegando sua caixa de medicamentos, enquanto ela me observava curiosa. Tirei de lá um rolo de esparadrapo, álcool e algodão.

- O quê está fazendo? - ela perguntou se arrumando na cadeira.

- Te ajudando. Cale a boca antes que eu deixe você perder o resto da perna. - disse passando levemente o algodão molhado de álcool no ferimento. Era um corte profundo, com outros menores em volta, estava feio.

As Crônicas de Rayrah Scarlett: Mistérios em Mondian [RETIRADA EM 25/01/22]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora