Eu estava aterrorizada.
Entrei num estado paralisante. Lucy teve que me puxar para que eu os acompanhasse. Reprimi um gemido de dor quando ela puxou justo minha mão machucada.
Me forcei a continuar, ainda que meu corpo protestasse. Lince nos puxava escadas e mais escadas a baixo, e minha mente pairava num lugar distante.
Estávamos no último andar, tínhamos que correr porque não era seguro usar o elevador. Continuamos correndo. Correndo para fugir da chuva de bombas que caía sobre nós. Ouvíamos o som das bombas caindo ruidosamente, e o som das explosões tão perto, o prédio estremecia. Parecia um terremoto.
Então nós chegamos, o porão. O subterrâneo. O único buraco no qual podíamos nos esconder. Fechado e metálico, lembrava-me muito a cela que eu fiquei nas masmorras. O som perturbador da nova bomba caindo me fez estremecer.
Havia outras pessoas ali dentro. Poucas, o resto ainda deveria estar lá em cima. Vi Lince abrir a pesada porta que nos trancava lá dentro.
- Onde está indo? - Carter perguntou impedindo-a de sair.
- Vou procurar os outros, garoto. Não se meta. - ela rosnou, o fuzilando com seus olhos felinos esverdeados.
Eles se encararam por mais alguns segundos antes dela abrir caminho. Olhei em volta, o lugar escuro parecia assombrado, junto com o silêncio mortal que se instalava. Os soluços desesperados de uma garota que tentava resistir ao choro, chamou minha atenção. Ela estava abaixada contra a parede se abraçando. Tive pena, muitos em Mondian tem traumas de ataques aéreos.
Sentei-me no chão, com Lucy ao meu lado. Estávamos assustadas, com medo, estávamos juntas. Sentia-me aquela garotinha que abraçava a irmã no porão, enquanto uma chuva de bombas destruía a casa, segurando a mão do pai e no colo da mãe, a mesma que chorava e desmoronava, enquanto a filha mais velha tentava acalmá-la. Talvez eu ainda seja aquela garotinha.
A guerra e a morte andam de mãos dadas.
Convivi com a morte dezesseis anos da minha vida. Embora seja algo tão natural, ela ainda me assusta.
Quantos não estão perdendo suas vidas agora? Neste momento?
Minha respiração tornou-se curta e rápida, meu coração batia forte demais, meus dedos escureciam, disse a mim mesma para que mantivesse o controle.
Estávamos aqui. Estávamos respirando. Estávamos vivos.
Estávamos todos bem... Eu esperava que estivéssemos.
Repetidamente o som dos mísseis. As bombas faziam tudo tremer.
Pensei em vários dos meus amigos. A Elite era minha casa agora. Eu não suportaria perde-la.
Estávamos aqui. Estávamos respirando. Estávamos vivos.
Mais bombas.
De súbito, a tranca da porta foi girada. Lince entrava mancando. Com outros cinco que a ajudavam a manter-se. Eles a sentaram e ela se encarregou do trabalho sozinha.
Tirou a prótese, deixando à mostra sua meia perna sangrando. Ela pegou uma caixa que havia deixado no chão, tirando dela uma seringa. E com um gemido, ela aplicou todo o conteúdo na própria perna.
Levantei, indo até ela. Pegando sua caixa de medicamentos, enquanto ela me observava curiosa. Tirei de lá um rolo de esparadrapo, álcool e algodão.
- O quê está fazendo? - ela perguntou se arrumando na cadeira.
- Te ajudando. Cale a boca antes que eu deixe você perder o resto da perna. - disse passando levemente o algodão molhado de álcool no ferimento. Era um corte profundo, com outros menores em volta, estava feio.
ESTÁ A LER
As Crônicas de Rayrah Scarlett: Mistérios em Mondian [RETIRADA EM 25/01/22]
FantasyTrês reinos. Uma guerra. Uma garota. Num presente distante, uma guerra que se estendeu por gerações, destruiu parte da Terra. As três potências mundiais: Mondian, Arnlev entraram em acordo e selaram a paz. Mas os efeitos da guerra não puderam ser es...