Uma Segunda Chance

Capítulo 47

Isabel acordou, sentindo-se melhor, o enjoo finalmente tinha passado. Virou-se na cama e viu  a água-de-coco que Lucas tinha deixado em cima do criado-mudo. Sorrindo com a gentileza dele, pegou o copo de plástico e bebeu o conteúdo em pequenos goles.

Ansiosa para retomar os planos que tinha concebido para aquele dia, levantou-se da cama e tomou um banho rápido. Escolheu um vestido de malha branco, estampado com minúsculas flores azuis e mirou-se no espelho. Franziu o cenho ao perceber que o tecido marcava a sua barriga. Nossa, tinha engordado tanto assim? Comprara aquela roupa não tinha nem dois meses e já estava apertada! Precisava aumentar o seu tempo de corrida, um treino só pela manhã não estava dando conta.

Se bem que... Aproximou-se do espelho e examinou a barriga com mais atenção. Ela não estava extrapolando na comida — na verdade, mal tinha se alimentado naqueles dias, a preocupação e aqueles enjoos... 

Não, não podia ser, eles tinham usado proteção todas as vezes, não tinham como ela está grávida! Tentou lembrar quando tinha sido sua última menstruação, mas não fazia ideia. Nunca fora muito regular e com tudo o que tinha acontecido na sua vida, seu ciclo era a última das suas preocupações.

A ideia começou a ganhar força dentro dela, despertando um misto de emoções conflituosas. Seu coração batia acelerado, a possibilidade de ter um bebê crescendo dentro de si, enchendo seu peito de alegria. Mas por outro lado, se fosse mesmo ter um filho, aquela tinha sido a pior hora para engravidar. As coisas entre ela e Lucas estavam longe da perfeição e não sabia qual seria a reação do marido quando descobrisse a verdade. Não queria que ele ficasse com ela apenas por causa da criança, a experiência tinha lhe ensinado que uma decisão assim só causava infelicidade.

Precisava tirar aquela dúvida agora. Tinha quase certeza que havia uma farmácia no final da rua. Dava para ir e voltar antes que Lucas percebesse a sua ausência. Sem perder tempo, pegou a bolsa, calçou as sandálias e deixou o quarto.

Não demorou muito e ela voltou com cinco tipos diferentes de teste de gravidez. Não confiava muito nesses testes de farmácia, mas daria para quebrar um galho. Se o resultado dos cinco fosse positivo, ia ter que aceitar a verdade.

Foi para o banheiro, fez xixi naqueles bastões de plástico e esperou. Os segundos mais longos da sua vida, mil coisas passavam por sua mente e seu peito rodopiava com a montanha-russa de emoções que a sacudia. E um a um, as pequenas varetas foram confirmando o que seu íntimo já sabia: eles iam ter um bebê.

Com lágrimas nos olhos, recolheu as caixas vazias, os testes e colocou tudo no lixo. Respirando fundo, jogou um pouco de água fria no rosto e fitou-se no espelho. Agora notava seu rosto estava mais redondo e seus olhos tinham um brilho diferente.

Pensando em todas as coisas que precisava fazer assim que voltassem para casa, pegou o celular e cogitou ligar para a irmã. Queria dividir aquela novidade com alguém, sentia que ia explodir se não contasse logo, mas Lucas tinha que ser o primeiro a saber. Foi assim com Gabriel — sentiu o peito apertar ao lembrar-se do seu pequeno — seria assim também com aquela nova criança. Depois que contasse a ele, espalharia a boa nova aos quatro ventos.

Seus pensamentos voltaram-se para o marido e ela decidiu quebrar a promessa feita a Elisa. Contaria a verdade agora e, se ele reagisse bem, falaria sobre aquela criança. Não queria obrigá-lo a ficar com ela. Lucas faria a coisa certa, mas eles precisavam de muito mais do que um senso de obrigação para restaurar aquele casamento.

Antes que perdesse a coragem, deixou o quarto e foi à procura de Lucas.

O sol já estava se pondo e a temperatura havia caído, fazendo-a desejar ter vestido um casaco. Ignorando o frio e qualquer outra coisa que pudesse desviá-la do seu propósito, foi até a recepção, mas não havia sinal do marido. Tentou o restaurante e encontrou o local deserto. Olhou cada dependência do hotel, mas tudo estava silencioso.