Memórias de um verão frio

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          Foi tudo como uma cena de filme. Parecia surreal demais para ser verdade, mas o acaso fez com que tudo se tornasse mágico, especial, único e inesquecível.

          Me lembro bem daquelas calças rasgadas que andavam de um lado para o outro desnorteadas, daquele rosto de um "baby" aparentando ter 13 anos e aquele sorriso que levaria comigo para todo o sempre.(In)felizmente era uma assaltante que não só roubava restaurantes de comida japonesa, mas também sorrisos espontâneos pela naturalidade do "ser". Não precisava fazer mais nada.

          Me lembro de uma coincidência se mostrar destino em um piscar de olhos. 10 de Julho, "por mim" você fez muito. As horas se passaram tão depressa e por incrível que pareça, não tive pressa para fugir! As despedidas se tornavam incontáveis pretextos para não dormir. Eu não queria ir, nem que ela fosse.

          Me lembro de tudo se tornar névoa, dos meus sonhos se tornarem realidade e tudo parecer ter um propósito. Dias passando depressa e noites se tornando dias em uma forma poética de mostrar que livros se tornam paixões e filmes se tornam canções que escrevia como nunca.

          E "se eu ficar?" "Para onde ela..." iria? Me lembro de sua angústia, dos seus medos e por ser limitado, apenas sentia. Me lembro do frio, das suas mãos, do abraço forte que me era familiar e de seu sono profundo que em conjunto com os meus dedos acariciando o seu cabelo, novamente faziam com que eu perdesse a noção do tempo. Do café, da lembrança, da dor. Da dúvida, da impotência, do silêncio gritante que não aprendeu a falar. Contudo, sempre soube amar.

          Me lembro também das lágrimas, das lástimas que ecoavam firmemente em meu purgatório interior. Julgamento eterno da incerteza movida por uma única certeza que sempre tive. Retrato permanente pendurado no meu santuário.

          Me lembro do barulho da ficha caindo ao desbravar canteiros de espinhos, correr de "cyclopes" malucos e dar nova vida aos gatos que por ali passavam. Eu sabia que quando chegasse em casa seria só eu e a minha coleção de lembranças.

          Ela nunca gostou dos meus "prints". Talvez hoje perceba o motivo de tudo que guardei e sinta falta deles. Fases da vida são como trens que passam e, por ironia do destino, chegamos atrasados para pegar aquela estação. Ela voltou para a sua e eu, cigano, fico.

          O que me resta é eternizar memórias na esperança de que um dia possa revivê-las. Em meus sonhos de férias de verão (ou inverno), sempre será a minha única "lorinha". Siga bem e boa viagem. Até logo. ❤

Lucca de Paula

Põe pro MundoWhere stories live. Discover now