Preciso ir para casa. Agora. Sinto o peito arder, e me esforço para respirar o ar frio. Volto para a calçada e olho em todas as direções.

"Molly? Molly Samuels, é você?", uma mulher grita atrás de mim.

Eu me viro e vejo o rosto familiar da última pessoa que gostaria de encontrar. Preciso me segurar para não correr na direção oposta quando meus olhos encontram os dela, que segura uma sacola marrom de compras em cada mão, quando caminha na minha direção.

"O que você está fazendo aqui, e tão tarde?", pergunta a sra. Garrett, com uma mecha de cabelos caída sobre o rosto.

"Estou só dando uma caminhada." Tento cobrir as coxas com o vestido antes de ela olhar de novo.

"Sozinha?"

"Você também está sozinha", digo, num tom mais do que defensivo.
                    
Ela suspira e segura as duas sacolas com um dos braços. "Vamos, entre no carro." Ela parte em direção à van marrom estacionada na esquina.

Com o clicar de um botão, a porta do lado do passageiro se destranca, e eu entro, hesitante. Era melhor estar dentro do carro com ela e suas críticas do que na rua com o cara do carro preto que parece não aceitar um não como resposta.

Minha salvadora temporária entra pela porta do motorista e olha para a frente por um minuto antes de se virar para mim. "Você sabe que não pode se comportar assim pelo resto da vida." Sua frase termina num tom forte, mas suas mãos tremem no volante.

"Não estou..."

"Não tente fingir que nada está acontecendo." Pela resposta, percebo que ela não está a fim de ser simpática. "Você está se vestindo de um jeito completamente diferente de antes, e seu pai com certeza não aprovaria. Seus cabelos estão cor-de-rosa... nada a ver com o seu loiro natural. Você está no meio da rua à noite, andando sozinha. Sabia que eu não fui a única a notar sua presença? John, que frequenta a minha igreja, viu você por aí uma noite dessas. Ele contou na frente de todo mundo."

"Eu..."

                    

Ela faz um gesto com a mão quando ensaio um protesto. "Ainda não terminei. Seu pai me disse que você não vai mais para a Ohio State, apesar de ter se preparado para ir com o Curtis depois de tantos anos."

A menção ao nome dele me abala, destruindo uma casca dura dentro da qual me acostumei a morar. O grande vazio em que venho me escondendo. O rosto de seu filho toma minha mente, e a voz dele surge nos meus ouvidos.

"Para", consigo dizer em meio à dor.

"Não, Molly", diz a sra. Garrett.

Quando olho para a frente, vejo que ela está vermelha, como se tivesse pilhas e mais pilhas de sentimentos acumulados dentro de si, sentimentos que foram se misturando nos últimos seis meses e agora estão prestes a explodir.

"Ele era meu filho", diz ela. "Então nem tente agir como se tivesse mais motivos para estar sofrendo do que eu. Perdi meu filho, meu único filho, e agora estou aqui vendo você, querida Molly, que vi crescer, se perder também... e não vou mais ficar calada. Você precisa ir para a faculdade, sair daqui, como você e Curtis queriam. Seguir em frente. É o que todo mundo precisa fazer. E, se eu consigo fazer isso, por mais que me doa, você também consegue, pode apostar."

Quando a sra. Garrett para de falar, tenho a sensação de que ela passou os últimos dois minutos dando nós no meu estômago. Ela sempre foi uma mulher discreta, seu marido sempre foi mais falante, mas em questão de cinco minutos se tornou menos frágil, de certo modo. Sua voz, normalmente suave, ganhou um tom renovado de determinação, e isso me impressiona. Faz com que eu me sinta triste também, pelo fato de ter deixado minha vida se transformar numa existência sombria.

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⏰ Last updated: Jul 12, 2017 ⏰

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Before (Tradução Português/BR)Where stories live. Discover now