Mas não quero o dinheiro dele. Meus pais têm dinheiro, e não é pouco.

"Não sou prostituta, seu doente do caralho!" Dou um chute no carro brilhoso e idiota dele com minha bota de salto plataforma e percebo o brilho de um anel em um de seus dedos.

Seus olhos seguem os meus, e ele esconde a mão embaixo do volante. Imbecil.

"Bela tentativa. Vai para casa, ficar com a sua mulher. Tenho certeza de que o pretexto que você arrumou para sair logo mais vai deixar de valer."

Começo a me afastar, e ele diz mais alguma coisa para mim. A distância carrega o som para longe em meio à noite, sem dúvida para um canto escuro. Eu não me dou ao trabalho de olhar para ele.

A rua está quase vazia, já que são mais de nove da noite numa segunda-feira. As luzes nos fundos das construções estão quase todas apagadas, o ar está calmo e tranquilo. Passo atrás de um restaurante de onde a fumaça sai do teto, e o cheiro de carvão toma meus sentidos. O aroma é agradável, e me faz lembrar dos churrascos no quintal que fazíamos com a família de Curtis quando eu era mais nova. Na época em que eu os considerava minha segunda família.

Pisco algumas vezes para afastar esses pensamentos e sorrio para uma mulher de meia-idade usando um avental e um chapéu de cozinheiro, que sai pela porta dos fundos de um restaurante. A chama de seu isqueiro brilha forte na noite. Ela dá um trago no cigarro que segura, e eu sorrio de novo.
                    
"Cuidado aí, menina", ela me avisa com a voz rouca.

"Sempre tomo cuidado", respondo com um sorriso e um aceno. Ela sacode a cabeça e coloca o cigarro nos lábios de novo. A fumaça sobe para o ar frio, e o fogo intenso na ponta do cigarro estala no silêncio da noite. Ela joga a bituca no concreto e pisa em cima, fazendo barulho.

Eu continuo caminhando, e o ar fica mais frio. Outro carro passa, e eu vou para o canto da viela. O carro é preto... Olho de novo e percebo que é o mesmo preto bem polido do anterior. Sinto um arrepio percorrer minhas costas quando ele diminui a velocidade, com os pneus amassando o lixo que cobre a viela.

Ando mais depressa, e decido ficar atrás de uma caçamba de lixo para abrir o máximo de distância possível do desconhecido. Meus pés aceleram o passo, e eu me afasto um pouco mais.

Não sei por que estou tão paranoica hoje; faço isso quase todo fim de semana. Visto uma bata horrenda, dou um beijo no rosto de meu pai e peço para ele o dinheiro do trem. Ele franze a testa e diz que eu passo tempo demais sozinha, que preciso me situar no mundo antes que a vida me passe para trás. Se seguir em frente fosse tão simples, eu não estaria trocando de roupa às pressas, pondo outro vestido, nem enfiaria a bata na bolsa para voltar a vestir no caminho de volta para casa.

Seguir em frente. Como se fosse muito simples.

"Molly, você só tem dezessete anos, precisa voltar para a vida real antes que acabe desperdiçando os melhores anos da sua vida", diz ele todas as vezes.

Se estes são os melhores anos da minha vida, não vejo motivo para viver mais do que isso.

Sempre concordo balançando a cabeça, abrindo um sorriso e desejando, em silêncio, que ele pare de comparar sua perda com a minha. A diferença é que minha mãe foi embora porque quis.

A noite de hoje está meio diferente, talvez porque o mesmo homem está do meu lado pela segunda vez em vinte minutos.

Começo a correr, deixando meu medo me levar pela viela toda esburacada até a rua mais movimentada adiante. Um táxi buzina para mim quando entro na rua e volto para a calçada, tentando recuperar o fôlego.

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⏰ Ultimo aggiornamento: Jul 12, 2017 ⏰

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