Capítulo 3 - Pensando no futuro

3.8K 308 238
                                    

Leonardo

Acordei na manhã seguinte meio assustado, ouvindo alguém gritar meu nome e como se estivesse me esquecendo de alguma coisa importante.

— Leonardoooo!

Opa, não era só imaginação, pensei.

— Já vou! — gritei em resposta.

Rafaela estava me chamando para ir à escola. Esqueci a promessa da noite anterior. Pulei da cama e fui correndo para o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto para tentar acordar. Troquei de roupa o mais rápido que pude, passei pela cozinha pegando um pacote de biscoito e fui voando para o portão.

— Eu sabia! – Disse com uma expressão triunfal – Você acabou de acordar, não é?

— Mais ou menos – respondi sendo vago. — Por que mesmo que tô indo para a escola hoje?

— Tá, você venceu. Nem vou falar dessa sua cara amassada. Obrigada!

Dei um sorriso e pisquei pra ela.

Durante a caminhada pra escola tentei evitar o assunto ex-namorado, porque não queria lidar com mais choro ou o que quer que viesse depois disso. Chegamos ao portão da escola e vimos Danilo encostado na parede, sorrindo e conversando com os amigos. Olhei pra Rafa, que respirou fundo. Logo a Elisa chegou correndo afobada:

— Rafa, o Danilo tá dizendo para todo mundo que tá solteiro, que quer curtir a vida e que vai dar uma festa na sexta, na casa dele. Ai, amiga, sinto muito, mas já tô avisando pra você se preparar e tal... Oi, Léo!

— Oi! — respondi, rindo. Sempre achava graça no jeito falante de Elisa. Ela era uma pessoa que preenchia o ambiente, não tinha como não notar. Ela deu um sorriso sem graça pra mim e eu não entendi por que, mas continuei. — Vamos entrar?

Rafaela respirou fundo de novo, e entramos na escola. Como eu era mais velho e já estava no terceiro ano, me despedi das meninas e fui pra minha sala. Como de costume, sentei na carteira do fundo e peguei meu caderno de desenho. Mateus, o cara mais mala da turma, chegou fazendo baderna.

— Olha só quem resolveu aparecer aqui... Veio visitar a escola, esquisito?

— Cala boca, cara! — respondi sem olhar pra ele.

— E o que o garoto problemático vai desenhar hoje? Vamos ver! — O idiota pegou meu caderno de desenho da mesa e começou a folhear. Parou no último desenho, que ainda não estava terminado, e riu.

Era o desenho de um garoto no primeiro plano, com uma expressão de atormentado, e um mago de capuz ao fundo, os dois em uma sala escura. Levantei bruscamente e falei irritado:

— Devolve agora!

— Iiiih, ficou irritadinho... Você pensa que é quem pra falar assim comigo, seu bostinha? Ah, já sei! Só pode ser esse menino atormentado do desenho aqui... — Jogou o caderno no meu peito, e eu avancei para bater no babaca.

Foi quando a professora entrou na sala e me viu espumando de raiva.

— O que está acontecendo aqui? Tão cedo e já arrumando confusão Torres? — Detestava que me chamassem pelo sobrenome, mas tentei me recompor e devolver na mesma moeda.

— O que você acha, Solange?

— Pra você é professora Solange, e vão os dois já para a diretoria!

— O quê?! — o mauricinho ficou em choque.

— Você me ouviu, Toledo, OS DOIS vão conversar com o diretor.

— Bosta! — Matheus resmungou para a professora não ouvir.

Eu não estava nem aí, já estava acostumado com a sala do diretor. Agora, o mauricinho devia estar se cagando de medo. Dei uma risada e saí da sala com ele no meu encalço.

— Você tá feliz, né, cara? Não tá nem aí com o mundo, não vai fazer faculdade, não liga se for suspenso ou coisa parecida, mas você não sabe como é meu pai cara, ele vai me matar.

— Ei, relaxa aí, meu, você não vai ser suspenso. Primeira vez na diretoria e tá morrendo de medo — ri de novo. — E quem disse que não quero fazer faculdade?

— Tá na cara.

Pensei um pouco nisso, mas não por muito tempo porque chegamos à sala do diretor. Um homem gorducho, meio careca e baixo abriu a porta. Mal olhou pra minha cara, e as bochechas do diretor Paulo Morgado ficaram vermelhas.

— De novo aqui, Torres? E a essa hora da manhã?! — gritou.

Sentei meio largado na cadeira em frente à mesa dele, e Matheus fez o mesmo.

— O que aconteceu? — perguntou o gorducho.

Deixei que o mauricinho explicasse. Não perderia essa cena por nada.

— B-b-bom... Esse cara aí tava querendo me bater dentro da sala. — Percebi que ele falou tudo de uma vez pra não gaguejar mais e soltei uma risada involuntária.

—Você acha engraçado isso, seu pirralho? — As bochechas do diretor ficando mais vermelhas. Tive que me esforçar pra ficar sério de novo e respondi:

— Ele me provocou. Pegou meu caderno e falou mal do meu trabalho.

— Ah, aquilo é trabalho? Não sabia! Desde quando um desenho daquele virou trabalho? — zombou Matheus.

— Cara, você vai continuar me provocando? Porque se eu fosse você...

— Calem a boca! – gritou o diretor — Os dois terão que ajudar a professora de artes a limpar a sala dela depois da aula de amanhã! — Uma expressão de desânimo tomou conta da nossa cara. A sala de artes ficava uma zona depois das aulas. — Você é Matheus Toledo, não é?

— Sou eu mesmo.

— Pode voltar pra sala de aula, Matheus. Vou ter uma conversinha séria com esse moço.

Revirei os olhos para o diretor enquanto o garoto saía da sala.

— Bom, o que vou dizer a você é bem simples, Leonardo Torres. Mais uma gracinha sua e vou te dar mais uma suspensão. Sabe o que isso significa?

— Não, mas acho que o senhor vai me contar agora mes...

— Expulso — ele me interrompeu. — E se você for expulso não vai se formar. Olha garoto... — e, para a minha surpresa, a voz do diretor se tornou um pouco branda e até... carinhosa. — Sei que esses desenhos são importantes pra você. Apesar de tirar notas boas, sabe Deus como, os professores me contam que você é extremamente desatento nas aulas e vive desenhando. Acho que você poderia fazer faculdade de artes plásticas ou de publicidade. Faria bem para você, abriria seus horizontes. No final do ano você termina o ensino médio, e aí? Vai fazer o que da vida, filho?

Era a primeira vez que o diretor me tratava daquele jeito. Como se realmente se preocupasse com meu futuro. Ele até me chamou de filho. Fazia tempo que não ouvia essa palavra dita de um jeito tão carinhoso.

— Olha, eu acredito em você. Tenho certeza de que é capaz de mais do que isso. Além disso, você vai surpreender muita gente se resolver fazer faculdade. — Imaginei a cara de surpresa e alegria da Rafa se eu falasse com ela sobre frequentar universidade. — Quero que você reflita sobre isso. Esse é o panfleto da Faculdade de Artes de São Paulo. Pesquisa no site e veja se te interessa. Mas, como eu disse, se você aprontar mais uma vez não vou poder fazer mais nada pra te ajudar.

— OK... — peguei o panfleto da mão dele. — Obrigado, diretor – foi tudo o que consegui dizer antes de sair da sala.

Meu melhor amigo bad boy - [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora