Capítulo 2 - A ajuda dele

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Rafaela

Assim que o Léo saiu, voltou a sensação de perda. Era horrível. E saber que eu teria que ver o ex todos os dias da semana na escola piorava tudo. Só queria alguém que gostasse de mim de verdade, que estivesse sempre do meu lado. Alguém que conhecesse meus defeitos e amasse mesmo assim. Mas parece que o Danilo tinha enjoado de mim. Tomei um gole de chá, e minha mãe apareceu na porta do quarto.

— Posso falar uma coisa pra você? — perguntou, entrando e sentando-se no mesmo lugar em que meu melhor amigo estava antes.

— Fala, mãe – disse, sem muita empolgação. Minha mãe não era muito boa em me consolar.

— Ele te ama.

— Se amasse mesmo não teria terminado comigo, não acha? — disse irritada.

— Não estou falando do Danilo. — Diante da minha cara de dúvida, continuou — O Fumaça.

Depois de falar o apelido do Léo, que eu mesma inventara há muito tempo, ela continuou me encarando.

— Nós somos amigos, ué. Ele deve me amar de alguma forma.

— Mas ele não te ama como amigo.

— Ah, tá. Não viaja, mãe.

— É sério, filha. Abre o olho. Não me engano com essas coisas. Esse menino gosta de você de verdade. Você sabe que nunca fui grande fã dessa amizade, mas acho que agora está passando dos limites. Você está iludindo o rapaz.

Abri a boca em choque. Ela só podia estar maluca. Ele não sentia nada por mim além de amizade. Ou será que sentia?

— Olha só... — falei bem devagar. — Acho que o Léo me ama porque sou amiga dele e ponto-final. E não vou abrir mão da nossa amizade por causa dessa sua dedução maluca.

— Tudo bem, mas pense nisso. Você tem só 17 anos. Sabe muito pouco de amor.

Revirei os olhos e disse apenas:

— Boa noite, mãe.

— Boa noite, filha. — Ela me deu um beijo na testa e saiu do quarto em silêncio.

Coloquei o pijama e me deitei. Fiquei me revirando na cama, tentando dormir, mas minha cabeça parecia um turbilhão. Não conseguia parar de pensar no que minha mãe tinha dito nem no término do namoro, na raiva e tristeza que sentia por ter perdido o Danilo. Todos os pensamentos se misturavam, e eu não conseguia raciocinar com clareza.

Olhei o celular e me dei conta de que já eram quase duas da manhã. Coloquei o fone de ouvido na esperança de relaxar um pouco. As músicas me acalmaram, mas não totalmente.

De repente, veio uma lembrança antiga: Léo de preto, sentado próximo ao caixão da mãe, de olhos inchados. Foi o único dia em que eu não o vira sorrir nem uma vez. O que eu mais gostava no meu amigo é que ele sempre sorria. Era divertido, mesmo quando passava por dificuldades. Mas aquele dia tinha sido diferente. Ele tinha apenas 14 anos, muito jovem pra perder a mãe. Cheguei no velório e fui direto abraçá-lo. Não sabia o que fazer, então só fiquei ali, em silêncio. Foi um longo abraço. Senti o cheiro da coroa de flores misturado com o perfume dele e ouvi-o dizer nos meus ouvidos:

— Eu não sei o que eu faria sem você aqui.

Aquela frase ecoava na minha mente. Não queria ter despertado lembranças tão ruins, mas não conseguia mais tirá-la da mente. Nem a música estava ajudando. Peguei o celular e digitei:

Não consigo dormir.


Dois minutos depois, recebi a resposta do meu melhor amigo:

Eu também não. Pelo menos meu pai não vomitou hoje.

E ainda tinha isso. Depois que perdeu a esposa, o pai de Leonardo começou a beber como louco, e o Léo começou a fumar. Eu detestava que o pai dele fosse um exemplo tão ruim pro Léo.

Vai na escola amanhã? Por favor.

Eu fiz aquele pedido porque o Léo normalmente matava aula segunda-feira. Ficava esperando o pai chegar da rua no domingo à noite e ia dormir muito tarde.

Não tô a fim, Rafa. Ultimamente me sinto mais cansado do que o normal.

Não vou conseguir enfrentar aquilo sozinha, pensei.

Eu preciso de você.

A resposta veio rápida:

Eu vou. Melhor irmos dormir, então.

Obrigada. Boa noite.

Me deve essa. Boa noite, pequena.

Dei um sorriso involuntário para a tela do telefone e senti que meu coração estava em paz. Era bom saber que alguém estaria ao meu lado. Sempre escolhia os caras errados pra namorar, mas sabia escolher os amigos. Eu tinha o Léo, e isso era uma das coisas de que eu mais gostava naquela amizade: ele me fazia bem. E tinha a Elisa que também era uma ótima amiga. Com o coração calmo, coloquei os fones e o celular de lado, fechei os olhos e finalmente fui levada pelo sono.


Meu melhor amigo bad boy - [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora