Capítulo III - parte 1

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Miranda pôs o telefone no gancho ainda um pouco atordoada. Sentou-se na poltrona dali próxima, enquanto tentava compreender o que estava sentindo. Desde quando a morena começou a trabalhar para ela, Miranda havia notado algo diferente na jovem. Ela era desajeitada, isso era fato, no entanto aqueles olhos enormes e brilhantes, mesmo assim, despertaram algo desconhecido na editora. Ela observava cada passo de Andrea, observava o quanto a jovem crescia e amadurecia perante seus olhos e sim, ela ficava extremamente feliz com cada aprendizado. O motivo de sua empolgação, a editora desconhecia e não se importava em desvendá-lo, pois uma coisa era certa: lhe traria problemas, muitos problemas. Durante os meses em que a morena permaneceu em Runway, a mulher mais velha sentia-se aliviada, menos estressada e as coisas pareciam realmente estarem tomando o rumo certo, sentia que finalmente podia confiar em alguém de fato competente, estava tudo literalmente às mil maravilhas... Até Paris.

Amor e paixão eram sentimentos que não eram comuns para Miranda até a chegada de Andrea e, na verdade, ela os reconheceu em Paris ao ver sua assistente se compadecer de sua dor e não ter vergonha de mostrar que se preocupava. Embora não tenha parecido, aquilo havia tocado a editora profundamente e foi em uma conversa com seu amigo que ela percebeu seus reais interesses na morena, ela estava apaixonada. Aquela situação era totalmente nova para ela e isso a assustava profundamente, não sabia como lidar com ela e não sabia nem se poderia alimenta-la, pois supunha que Andrea não poderia jamais corresponde-la, mesmo seu coração ainda insistindo em dizer que ela poderia estar errada. Porém, no dia seguinte, ao saber de Christian e Andrea, sua felicidade e plenitude de meses morreram junto com suas esperanças. Sentia-se uma tola e completamente derrotada pelo ciúme e raiva e com isso tomou uma decisão: tiraria Andy de sua vida para sempre. Uma das maiores características de Miranda era a perfeição em qualquer plano que executava, ela sempre pensava em todos os detalhes milimetricamente para que tudo desse certo e não foi diferente ao fazer com que a assistente a deixasse.

Embora Andrea tivesse amadurecido e aparentemente se interessado com a indústria da moda, a jovem nunca pertenceria àquele mundo e essa foi sua arma. Antes dos últimos acontecimentos, Miranda planejava conversar com Nigel antes de agir sobre Irv, ela sabia que seu amigo à entenderia, pois mesmo James Holt oferecendo um trabalho incrível, era muito fiel à mulher mais velha. No entanto, se ela divulgasse que na verdade Jacqueline assumiria o cargo em público, isso o desmoralizaria e Andrea, que provavelmente já estaria sabendo, se decepcionaria com sua atitude e isso contaria bons pontos negativos para Andy em relação à Miranda. E assim, só então assim, ela diria à jovem o quanto ela estava trilhando um caminho parecido com o de si própria, o quanto ela se via na morena, o que era mentira, Andrea nunca seria como Miranda, mas a editora a faria acreditar que sim. Nigel também já havia lhe confidenciado que a vida pessoal da mais nova estava saindo de sintonia por conta de sua dedicação à Runway, então tudo se somaria e seu plano seria finalizado com muito sucesso... E foi exatamente isso que aconteceu. Miranda só não contava que ver a jovem partindo doeria tanto, mas ela engoliria toda essa dor e seguiria em frente. Por mais egoísta que sua estratégia tenha parecido, era o certo a ser feito. Não queria machucar a si mesma e nem assustar Andrea com suas tolices de meia idade.

Porém, após três longos anos de instabilidade emocional, decepções profissionais e muito estresse, Miranda estava certa de que Andrea era uma página virada em sua vida. A única vez que a vira foi alguns dias depois de Paris, quando a morena passava em frente à fachada do prédio da Elias-Clark esboçando um belíssimo sorriso, como bem fazia. Depois disso, a mulher mais velha forçou-se a não procurar saber da jovem, embora tivesse poder para descobrir até mesmo o novo número de telefone dela, não queria cutucar numa ferida que ela não tinha certeza que havia cicatrizado e realmente não havia. Naquele momento, sentada na poltrona próxima ao telefone, com a respiração alterada e mãos geladas, Miranda sabia que sua ferida estava mais aberta do que nunca. Andrea não estava só na mesma cidade que ela, estava com suas filhas e daqui algumas horas, estaria no mesmo ambiente que ela. Aquela ligação derramou na editora um balde de emoções que ela há muito não sentia, mas sabia exatamente o que significava. Sim, Miranda Priestly ainda amava Andrea Sachs e bastou apenas ouvir sua voz para ela ter certeza de que não se livraria tão facilmente do sentimento insano.

- Nigel, quando você ia me dizer que Andrea também estaria em Boston? - Ela disse rudemente após seu amigo atender à ligação.

- E o que você faria se eu dissesse? Magoaria um dos amigos dela para que ela saísse da cidade para que você pudesse trabalhar em paz e sem distrações? - Nigel cutucou e Miranda sentiu. Ela sabia que o diretor já havia a perdoado em relação aos acontecimentos de Paris, até porque ela explicou o motivo de tudo, no entanto, ela sabia também que ele não esqueceria tão facilmente.

- Nigel... - Ela suspirou.

- Desculpe, eu não quis dizer isso... Você sabe... Enfim, eu não podia fazer você surtar sem ao menos ter embarcado no avião e torci para que o destino fizesse com que você nunca soubesse. -Mentira. - Mas parece que não foi bem assim... O que houve?

- As gêmeas fugiram durante a noite e por alguma razão, foram parar no apartamento dela. E para completar, amanhã a própria virá trazê-las até aqui. Não é empolgante? - Miranda foi sarcástica, mas estava à beira de um ataque de nervos.

- Que espertinhas...

- O que disse?

- Que danadinhas! Sumirem assim! Mas ainda bem que Andy as encontrou, não é? Porque tirando toda a questão da sua confusão de sentimentos, as meninas estão seguras com ela. - Nisso Nigel estava certo, as gêmeas poderiam estar em grande apuros, afinal, era uma cidade que elas não conheciam, estava à noite e... Não queria nem imaginar o que podia ter acontecido. Afastou os pensamentos ruins que ousavam invadir sua mente, suspirou e deu um pequeno sorriso. As gêmeas estavam realmente seguras com Andrea.

- Você está certo... Eu não sei o que fazer, Nigel. - Desabafou.

- Querida, apenas aja naturalmente, você já tomou a sua decisão há três anos atrás, então apenas aja naturalmente. Ela vai chegar, você vai abrir a porta, estará vestida com uma saia lápis maravilhosa, vai agradecer por ter cuidado das suas diabinhas, vai esperar elas se despedirem, vai dizer isso é tudo, fechar a porta e continuar sua vida como se esse momento nunca tivesse existido, certo?

- Exatamente isso que farei. Isso é tudo. - Ela desligou, deu um longo suspiro e decidiu que era hora de um banho bem quente para ao menos relaxar, porque dormir estava fora de questão naquele momento.

Guerra é GuerraTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang