Capítulo XXI

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  P.OV. Miranda

  Diferente de todos os cenários que eu havia imaginado, Andrea e as gêmeas ainda preparavam o jantar ao som de risadas quando cheguei. Aproximei-me devagar e elas não me notaram por bons minutos até que o sorriso de Andrea se desfez ao me perceber. Desviei meus olhos dos dela por alguns instantes e fui cumprimentar minhas filhas.

  - Ei, mãe! Pensei que fosse se atrasar! – Carol disse animada vindo em minha direção.

  - Eu também pensei, querida, mas consegui chegar. – Sorri e a abracei brevemente.

  - Parece que milagres existem, afinal. – Cassidy disse em tom ácido, mas tinha um sorriso sincero em seu rosto.

  - Olá bobbsey. – Beijei sua testa, embora ela não seja muito de contato, assim como eu. – Boa noite, Andrea. – Cheguei perto dela para beijá-la, mas recebi sua bochecha, sinal claro de aborrecimento. As meninas perceberam que o clima estava diferente entre nós duas, mas nada disseram. – O que estão preparando? – Tentei quebrar a sensação esquisita do ar.

  - Lasanha de berinjela, Cass e eu achamos uma receita interessante na internet e decidimos tentar. – Caroline respondeu animada.

  - Andrea quis cozinhar sozinha, mas ela estava tão perdida quando chegamos, que se deixássemos por conta dela, comeríamos na janta de amanhã. – Cassidy disse e recebeu um pano de prato no braço.

  - Ei!!! Estava tudo sob controle, viu, senhorita? – Andrea fingiu estar ofendida.

  - Bom, deixarei vocês terminarem enquanto tomo um banho e respondo alguns e-mails, pode ser? Coisa rápida, prometo. – Disse já saindo da cozinha com o olhar de Andrea queimando minhas costas.

  Subi as escadas como se carregasse o peso do dia em minha bolsa, entrei no quarto, deixei meus pertences no móvel do canto e fui direto para o banheiro, precisava urgentemente de um banho relaxante para aliviar toda a tensão que sentia.

  - Frio ou quente? – Pensei alto ao tentar decidir sobre a temperatura da água. Um banho quente, certamente, faria meus músculos relaxarem e eu me sentiria menos angustiada, entretanto, relaxar demais daria margem para meu raciocínio adormecer com o cansaço do meu corpo. Uma ducha gelada não teria um efeito calmante, mas me deixaria alerta, estaria pronta para agir da forma mais adequada para a possível discussão que viria. Assim, entrei no chuveiro e liguei apenas um registro para que não houvesse um único fio de água quente e me deixei absorver pelo frio.

  Aquela situação era tão estranha para mim, geralmente não tinha medo de encarar uma discussão, muito pelo contrário. Porém, o fato de Andrea estar aborrecida e pronta para tirar satisfações comigo me incomodava muito, algo naquela história me fazia temer, me fazia querer evitar aquela conversa. Antes de receber sua mensagem, eu me sentia satisfeita comigo mesma, orgulhosa, até, mas saber que ela não havia gostado mudou todo o meu sentimento. Não que eu estivesse arrependida, não era isso, mas saber que, eventualmente, magoei Andrea me causava enjoo.

  O fato era que, mesmo com meus sentimentos conflitantes, Andrea, de forma alguma, poderia tomar as dores daquele cozinheiro, não por mim, não por ela, mas pelas gêmeas. Com isso, ainda que em minha boca prevalecesse um gosto amargo por contrariá-la, um rastro de decepção também se fazia muito presente.

  O banho durou um pouco mais que o esperado. Sequei-me ainda no banheiro e com meu habitual roupão cinza, voltei para o quarto com a intenção de ir até o closet, mas meus passos foram impedidos pelo susto de vê-la sentada na cama.

  - Desculpe por te assustar. – Seu tom era sério, mas carregava sinceridade.

  - Certo, parece que teremos essa conversa agora. – Concluí ainda me recuperando do susto.

Guerra é GuerraWhere stories live. Discover now