Guerra é Guerra

Capítulo I

 How can I forget you   Como eu posso te esquecer

Memories come and go   Lembranças vêm e vão

You're all I've ever wanted  Você é tudo que eu sempre quis

You're all I've ever known  Você é tudo o que eu já conheci

Can I be happy  Eu posso ser feliz

Living with your ghost  Vivendo com o seu fantasma

The pictures tell the story  As fotos contam a história

I took them off the wall  Eu as tiro da parede

It's hard enough to get through  É difícil o suficiente passar por isso

I still can feel the fall  Eu ainda posso sentir a queda

Do you even think of me at all?   Você pensa em mim pelo menos?

  Era uma quinta-feira à tarde e a temperatura amena e as folhas das árvores em tons de alaranjado anunciavam o outono. Boston era ainda mais bonita naquela época do ano, principalmente quando a beleza da natureza se fazia presente e completava o cenário com um belíssimo pôr-do-sol. Andrea, que havia se mudado para a cidade três anos antes, adorava ir ao parque neste período para contemplar o espetáculo até que o último raio de sol não pudesse ser mais visto. Ela aproveitava esses momentos para refletir sobre o quanto sua vida mudava ano após ano. As vezes, ela não compreendia como o tempo havia passado tão rápido, não acreditava que alguns poucos anos antes, ela vivia em um mundo completamente diferente, o mundo de Runway, o mundo de Miranda. Miranda... Andy tinha a nítida sensação de que a editora fora um grande vendaval que passara em sua pacata vida virando-a de cabeça para baixo e não sabia ao certo os estragos que ele havia lhe causado. No entanto, a morena tinha a certeza de que não era mais a mesma Andy de antes de Runway, algo estava diferente, algum resquício deixado por Miranda mexia gravemente com seus sentidos e isso, por vezes, a preocupava grandemente.

  Sempre que Andrea pegava-se pensando em sua vida na revista, ela notava que passava muitas horas com a mente presa. Com isso, por bastante tempo, ela evitou alimentar esse tipo de memória para esquivar-se de eventuais desgastes. Mas simplesmente parar de pensar nessa época de sua vida não foi uma tarefa fácil, e para desviar sua linha de pensamentos, Andy mergulhou fundo em seu relacionamento com Nate afim de reparar erros cometidos e dar uma nova chance ao que ela julgava ser a forma mais segura e viável de se viver. O resultado de seu investimento pôde ser percebido um mês antes, quando Nate a pediu em casamento e ela, com uma involuntária hesitação, aceitou. Porém, o que a Andrea não sabia era que, não muito longe dali, Miranda convivia com as mesmas questões, mas sua experiência a fazia mais bem sucedida ao tentar jogá-las para debaixo do tapete.

  A noite já havia caído quando Andy voltou para casa, com isso, ela teria pouco tempo para preparar o jantar antes que Nate chegasse. Ela entrou no apartamento, pendurou o casaco, ligou o rádio e limitou-se à um banho rápido para não atrasar-se ainda mais. Alguns minutos mais tarde, o barulho de chaves abrindo a porta denunciou a chegada do jovem.

  - Oi, o que está ouvindo? - Nate perguntou logo depois de cumprimentar sua noiva com um beijo casto. 

  - Hum... Eu não sei, estava tocando no rádio e eu decidi deixar. - Ela respondeu com um sorriso. - Como foi no trabalho?

  - Foi bem estressante... Um dos garçons deixou cair um prato de escargot em uma mulher, então você já pode imaginar. - Ele riu e sentou-se em uma cadeira da cozinha.

  - E você que teve que ouvir? Deveriam te promover a chefe. - Ela concluiu tirando o macarrão na panela. - Bem, eu tentei, mas acho que não está bom não... 

  - Ah para, Andy! O seu spaghetti é o melhor. - Ele deu um selinho nela e a ajudou a colocar a mesa.

  - É difícil acreditar... O Nate noivo da Andy sempre vai elogiar a comida, mesmo estando uma droga. Acontece que ai reside também o Nate sous chef. - Ela disse rindo enquanto sentava à mesa.

  - Aqui em casa sempre vai mandar o Nate noivo da Andy e esse... - Ele provou o macarrão pré colocado em seu prato. - Diz que está magnífico. 

  - Deixa de ser bobo! - Ela jogou o pano de prato que estava em seu ombro no rapaz. - Me fala mais sobre a confusão no restaurante. - Completou sentando-se também.

  - Ah, então, o garçom estava em treinamento ainda, sabe? Ele ficou super assustado. Ah!!! E você não vai acreditar quem era a mulher!!! 

  - Eu conheço? Não faz suspense! - Andrea disse sorrindo enquanto terminava de encher seu prato.

  - Oh! E se conhece! - Nate deu uma risadinha, estava se divertindo.

  - Fala logo!

  - Era nada mais, nada menos que Miranda Priestly! - Ao ouvir o nome, Andrea engasgou-se assustada. 

  - Mi... Miranda? - Ela perguntou ainda tossindo.

  - Sim. Você está bem? - Nate perguntou enquanto ajudava a noiva, que apenas assentiu um pouco atônita. O jovem, ao verificar que Andrea estava bem, voltou para o assento e continuou tagarelando sobre o assunto, porém Andy não ouvia uma só palavra, seu raciocínio lógico estagnou no momento que seu noivo pronunciou o nome de Miranda. Muitas eram as perguntas rondavam a mente da morena, dentre elas as que imperavam eram: O que Miranda poderia estar fazendo em Boston? Quanto tempo ela ficaria? Ela sabia que Andy morava lá? A morena delirava enquanto a música estranhamente lhe causava uma sensação de apropriação. "Você pensa em mim pelo menos?", era o trecho que preenchia a mente dela. Ao perceber que estava longe, Nate tentou capturar novamente a atenção de Andrea, que só então voltou à órbita.

- Ah, desculpe... Eu, eu me distraí. - Tentou disfarçar, sem sucesso.

- O que está... - Nate foi interrompido pelo som da campainha e Andy suspirou em alívio, detestaria ter que explicar seu devaneio sem escrúpulos. - Está esperando alguém?

- Não, deve ser a Sra. Hernandez procurando os gatos outra vez... - Ela disse indo atender. - Maria, seus gatos não estão... - Andy gelou, não podia acreditar em seus olhos, não podia.

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Há alguns quilômetros dali, Miranda aguardava suas filhas em sua suíte. O dia havia sido muito estressante e ela sabia que a única coisa que a relaxaria naquele momento era estar com as gêmeas. Miranda precisou ir à Boston para conhecer a estilista de uma grife em ascensão, que pouco a pouco ganhava espaço no mundo da moda. Quando a editora viu a coleção em um desfile em NY, ficou bastante impressionada com a personalidade transpassada nas roupas e decidiu olhar mais de perto. Assim que ela disse às gêmeas que precisaria se ausentar, foi recebida com esperadas feições entristecidas, no entanto, quando ela disse pra onde ia, Caroline e Cassidy animaram-se e imploraram para ir junto. No início, Miranda cogitou não ser uma boa ideia, mas suas filhas herdaram seu poder de persuasão e a convenceram. Ela não entendia o motivo das meninas terem se animado tanto, mas não se aprofundaria nisso, pois ela estava adorando ter suas filhas por perto.

Miranda afastou seus pensamentos ao ouvir alguém batendo em sua porta.

- Finalmente, meni... Emily? O que ainda faz aqui? Você é surda? Mandei que chamasse minhas filhas! - Ela cuspiu como um dragão.

- É... Miranda... Como vou te dizer? - A ruiva estava para morrer, ela sabia que ao dar a notícia para a chefe, cabeças rolariam e provavelmente a dela estaria na lista.

- Com palavras, Emily. - A mais velha latiu com um revirar de olhos.

- É que... Bem, elas sumiram...

- O que disse?

- Elas sumiram, Miranda, as gêmeas desapareceram.