5- Transformação de um ser

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Entramos floresta adentro. Passamos por trilhas fechadas, estradas de barro e esburacada, outras fazendas bem maiores que a dos meus avós. De vez em quando, esperávamos os bois passarem para seguir viagem. Não imaginei que seria tão longe assim.

Ficamos quase o caminho todo em silêncio. Cauã estava bem sério e concentrado na estrada. As vezes, ao passar nos buracos, eu caia em cima dele, mas me ajeitava rapidinho, afinal, não queria que ele achasse que estava dando mole a ele. Ou será que eu estáva?

Depois de mais de dez minutos ele resolveu falar:

- Então...ah, não sei nem o que falar. - E caiu na gargalhada. Eu comecei a rir também. Não pelo o que ele tinha dito, mas sim pela risada dele. Era a risada mais engraçada que eu já tinha escutado. - Desculpa por isso. É que eu estou meio nervoso.

- Nervoso? Por que?

- Porque nunca tinha ficado dentro de um carro com a menina mais linda que já vi.

PARA TUDO! Ele realmente disso isso que escutei? Senti meu rosto corar novamente e sorri. Ele percebeu que eu estáva nervosa também.

- O-obrigada. Que cantada, em?
- Ponto. Para que fui dizer aquilo? Foi ai que ele começou a rir mesmo.

Ele passou uns dois minutos rindo. Riu tanto que não viu outra boiada passado. Ele ia colocando o carro na frente dos bois, literalmente!

- Cuidado. Não está vendo os bois não?

Ele parou de rir e pediu desculpas de novo.

- Faltam muito para chegamos?

- Se tivesse ficado em silêncio, já teria escutado o barulho das águas.

Fiquei em silêncio e percebi que era verdade. Estávamos muito perto do rio. Podia sentir que não faltava muito.

Uma voz, doce e feminina, dizia: Chegue logo,pule na água, precisamos de você.

- Você ouviu alguma coisa? Tipo, alguém falando? - Perguntei a Cauã. Espero que eu não tenha ficado louca.

- Não. Só estamos eu e você aqui.

- Ah, tá. É que eu pensei ter ouvido alguém falando.

- Sério? Olha, muita gente, que mora aqui a anos, dizem ter sereias nesse rio. Mas parece que algo maligno aconteceu e elas sumiram. Talvez você tenha escutado uma delas.

O QUÊ? Como assim, velho? Esse cara que me assustar.

- Sereias não existem. E mesmo se existisse, você não acabou de dizer que elas desapareceram?

- Sim, mas... - Ele pausou, pensou e continuou. - Nada, esquece. Você não acredita nisso mesmo.

Revirei os olhos. Mas fiquei pensativa. Até que escutei novamente: Ele não pode nos ouvir, só você pode, venha logo, venha nos salvar!

- Você só pode estar de brincadeira com minha cara. - Falei. Eu sabia que era ele, não havia outra explicação se estávamos sozinhos.

- O que foi que eu fiz?

- Você sabe muito bem!

- Se você não acredita em sereias, então porque quer saber tanto?

- Do que você está falando ?

- Você não quer saber sobre o que acabamos de falar?

- Não. Eu quero saber dessa voz que estar falando comigo.

- Além de linda é doida. Onde fui me meter? - Ele sussurrou, mas de alguma forma, eu escutei como se ele estivesse falando normal. - Pronto chegamos.

Eu não havia dado conta de quão lindo era aquele lugar.

A nascente do rio era na cachoeira. Uma água cristalina descia sobre várias pedras. Podia notar que era fundo, mas, de alguma forma, não dava pra ver onde o fundo terminava. Era como se uma areia passasse por cima, dando a impressão de que não era muito fundo. Além disso, o rio era muito extenso. Parecia que estávamos na praia. Árvores, muitas árvores de uma borda a outra. Podia escutar os pássaros cantando.

Você chegou. Agora pule, pule, precisamos de você, pule!

Aquela voz de novo. Mas dessa vez, eu sabia que não era Cauã. Ele estava na minha frente, me fitando com aquele olhos de mel.

- O que está olhando? - Não. Ele não ia fazer me corar de novo.

- Vendo o quão você fica linda. Sabe, essas passagens combinam com você. Você parece uma sereia fora d'água. Acho que vou de chamar de sereiazinha. Minha sereiazinha. - Ela estáva se aproximando de mim. Ele iria me beijar? Eu iria deixar? Ele chegou mais perto e tirou o cabelo do meu rosto.

- Sereiazinha? Pior, sua sereiazinha? Desde quando eu sou sua? - Falei, tirando a mão dele do meu rosto, e me afastando.

Dei alguns passos para perto da água, e foi como se alguém tivesse me puxando para dentro. Quando tentei gritar, já estáva de baixo d'água. Prendo minha respiração e começo a senti um formigamento nas minhas pernas, mas quando as olho, não eram mais minhas pernas, mas sim minha cauda. Uma cauda da mesma cor do meu biquíni. Vários tons de azul, em forma de degrade, do mais escuro, na cintura, até o mais claro, nas nadadeiras. Tinha que admitir, a cauda é linda. É,eu realmente tinha virado uma sereia.

A Última Sereia  (Completo)Where stories live. Discover now