CAPÍTULO 25 - E Agora?

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-Você está bem?-perguntei a garotinha que estava nitidamente assustada.

-Estou...mas...a minha família, ela foi devorada pelo tigre.

-O que?-arregalei os olhos.

Marcos engoliu em seco.

-Sim, muitos tigres invadiram a nossa aldeia e a minha mãe conseguiu me tirar da nossa casa a tempo...mas...

Ela pôs-se a chorar, me aproximei e passando a mão por seus ombros a consolei.

-Calma, vai ficar tudo bem.

Ela me olhou, coçou os olhinhos e assentiu para mim.

-Como se chama?

-Me chamo Lily.-ela respondeu com voz de choro.

-Lily, você pode ir comigo e com o meu amigo para a cidade se quiser, lá você estará segura.

Me levantei e apoiei o braço de Marcos sobre o meu ombro e dei a mão a Lily, caminhamos juntos em direção a cidade, até que encontramos com Lua próxima a entrada da cidade.

-O que houve?!.-Lua correu até nós.

-Um tigre nos atacou.-respondi cansada.

Lua engoliu em seco e olhou para a floresta.

-Venham, vamos para a enfermaria.-Ela nos guiou por dentre as pessoas na rua e pelas casas até uma grande ala hospitalar.

Lua deitou Marcos em uma cama e saiu para chamar a curandeira deixando apenas Marcos, Lily e eu. Lily se sentou num banquinho ao canto da sala para nos esperar e eu fiquei de pé segurando a mão de Marcos que se segurava para não urrar de dor, seu ferimento pulsava e ele estava quente como quem ardia em febre.

-Calma, ela já está vindo.-Soltei sua mão e me afastei um pouco para deixar Lua e a curandeira passarem.

-Ora... isso não é nada bom.-A curandeira (uma mulher negra, alta, magra e com um semblante imponente) disse ao examinar o ferimento brevemente.

-Como?.-perguntei nervosa e preocupada.

-Vou ter que interceptar.

-Entendo.-Lua assentiu tranquila.

Eu nunca ouvira esse termo antes, entrei em desespero, pois, "interceptar" me lembrava ao termo "amputar" que lá em Londres era sinônimo de cortar um membro do corpo já inválido.

-Hã? O que?! Não vão mesmo! me agarrei a cabeceira da cama e encarei a curandeira.

Lua e a médica me encararam sem entender.

-Calma Sá, ela não vai me fazer mal.-Marcos disse baixinho tocando no meu braço.

Me acalmei e recuei novamente.

-Interceptar quer dizer "congelar" a circulação do sangue dele em volta do ferimento para ele não sofrer durante o procedimento.-Explicou a curandeira que encostou na cama em que Marcos estava e começou o processo.

Ela passou a mão pelo braço de Marcos e parou a uns cinco dedos de distância da marca da mordida e fez pressão, uma espécie de enfermeira trouxe uma mistura de ervas verdes num pode e a curandeira passou pelo ferimento. Marcos gritava como se aquilo ardesse insuportavelmente, eu não podia ver aquilo, peguei Lily pela mão e fomos para fora da sala e ficamos lá sentadas por mais trinta minutos enquanto Marcos gritava, até que ele ficou calado novamente e Lua saiu da sala com a curandeira.

-E ai? Como ele está?.-Perguntei apressada a curandeira.

-Ele está bem, só precisa de repouso. Por pouco ele não perdeu o braço, vocês devem ter mais cuidado.-Ela saiu em direção a outra sala.

Entrei e andei calma até Marcos na maca com Lily andando ao meu lado.

-Oi.-sussurrei.

Marcos lento olhou para mim e sorriu.

-Oi.

-Você foi muito corajoso.

-Não, você foi corajosa. Se não fosse por você a Lily teria sido devorada pelo tigre.

-E se não fosse por você eu não estaria aqui.

Me sentei ao lado de Marcos na maca e conversamos por vários minutos.

-Sá, você já se perguntou se tudo que você sempre quis não fosse na verdade o que você precisa agora?

-Não, por que?

Marcos desviou o olhar e disse.-Nada não.

-Entendi...mas.

Fui interrompida por um beijo roubado de Marcos, fiquei sem reação, mas, depois de alguns segundos consegui parar o beijo e o encarei.

-O que foi isso?.-perguntei nervosa.

-Desculpa eu não sei no que estava pensando.

Eu sai da ala hospitalar correndo e encontrei Lily na porta, olhei para o lado e eu vi Lúcio indo embora. Eu congelei completamente, será que Lúcio viu o beijo? E agora?

As Crônicas da Terra de Prata (Wattys2017)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora