Capítulo 4 - Sorriso

1.4K 187 414
                                    

FELIPE - 14 anos de idade.


Ouço Cecília me chamar do lado de fora. Ela mora a duas casas de distância, então sempre vem aqui em casa depois da escola para jogar videogame.

Edu é dois anos mais novo do que nós e não está caindo mais no truque do controle que não funciona. A gente deixava o controle com ele, mas sem ligar o fio no vídeo game, só para fingir que ele estava jogando também. Mas hoje ele está na casa de um amigo fazendo trabalho.

Abro o portão e a porta pra Ceci e já vou ligando o videogame.
Ela me vence duas vezes na luta e eu só ganho uma. Depois de um tempo trocamos o jogo por um de corrida de carros e eu ganho dela umas três vezes.

Normalmente conversamos só sobre os jogos ou enchemos o saco um do outro, mas hoje foi diferente. Cecília me veio com uma pergunta sem pé nem cabeça:

— Você sabe se o Caio gosta de alguém ou se ta ficando com alguma menina?

— E eu vou saber? O Caio nem fala muito comigo. A gente só joga bola no mesmo time na aula de educação física. Por quê?

De repente Ceci fica em silêncio e eu saco a parada na mesma hora.

— Aaaaaaaa... ta a fim do Caião é?
Ela fica vermelha igual pimentão e grita:

— Cala a boca! Não to a fim de ninguém.

— Seeeeei... - falo, dando risada. E imito a voz dela dizendo - Caio, você quer ir na minha casa dar uns amassos? Ai, Caio, você é tão gato, fica comigo?

Ceci pega a almofada e me acerta com força.

— Ei, ei, calma aí! - Digo, tendo uma ideia. - Vamos fazer assim: eu te ajudo com o Caio e você me dá uma força com a gostosa da Ana Paula.

— Felipe!! Ela é minha melhor amiga!

— Mais um motivo para você ajudar a menina a ficar com seu primo gato. E aí você fica com o Caio, e todo mundo sai ganhando, que tal?

Ela revira os olhos e responde:
— Você se acha!

— E... ? - Pergunto, já imaginando qual vai ser a resposta.

— E... eu topo.
Dou um sorrisão e voltamos a jogar.

***

— É O QUE EDU? - Não é possível que eu esteja ouvindo isso. Estamos na saída da escola e uma galera se virou para me encarar por causa do meu grito de raiva.

— Isso que você ouviu, Lipe, o babaca do Caio ta espalhando pela escola que transou com a "vadia" da Cecília - Edu faz o gesto de aspas quando fala a palavra vadia e continua - e ainda disse que você incentivou. A Ceci já me disse que é mentira e ta puta da vida com ele. Mas ela disse que não era para eu fazer nada, que era melhor deixar a galera esquecer o assunto. Ela falou que não era nem para eu falar isso para você...

Saio andando em direção à saída. O bom de ser alto é que é mais fácil achar alguém no meio de muita gente.

Edu continua me seguindo e me chamando, dizendo que não vale a pena porque todo mundo sabe que o cara não presta. Não me interessa. Quem aquele idiota pensa que é? Inventar uma coisa dessas DA. MINHA. PRIMA. Mas tudo bem. Ele vai se arrepender, já já.

Observo Caio encostado no muro junto com seus dois melhores amigos e chego bufando com o Edu em meu encalço. Caio me vê e começa a falar dando risada:

— E ai manooo.. Valeu pela gostosa da Cecíl...

Interrompo a fala babaca com um soco e logo em seguida chacoalho minha mão dormente. Meu primeiro soco na vida, não achei que ia doer assim. Olho para o Caio e pela reação que vejo doeu mais nele do que em mim. Ótimo.

Os amigos dele começam a xingar, mas nenhum deles reage, nem mesmo Caio, que está gemendo xingamentos incompreensíveis, com a mão no rosto. Bando de covardes.

Edu vai me puxando para longe e a galera vai se aglomerado para ver a confusão. Ceci chega correndo e quando vê o rosto de Caio começando a inchar ela olha para mim e faz algo que eu não esperava.

Abre um sorriso.

Achei que ela ia brigar comigo por arrumar briga por causa disso, esperava um sermão sobre o quanto Caio é babaca e não vale o esforço, sobre como eu poderia me dar mal com a diretora da escola, ou os meus pais, mas Ceci é imprevisível. Ela só abre um sorriso e depois ajuda Edu a me puxar para longe da galera.

Um sorriso. E só.

Coração em chamas [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora