Capítulo 8

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 Sara

Passei a tarde inteira montando uma lista de possíveis candidatas para Guilherme. Confesso que bem no fundo do meu íntimo, fiquei tentada a colocar minha ficha. Na verdade, contive o meu impulso de deletar tudo e informar que seria impossível encontrar alguém compatível com ele.

Então, eu me levantava da cadeira, dava algumas voltas ao redor da mesa, para recuperar meu bom senso e voltava a me sentar. Ele tinha mesmo que procurar justamente a minha empresa com tantas outras espalhadas por aí?

Isso me cheirava a uma bela armação desajustada do universo. Justo quando eu já tinha vestido minha nova roupa de adulta, Guilherme resolveu dar o ar da graça na minha vida.

Faltava quinze minutos para fechar e tinha acabado de enviar o email para Guilherme informando-o do seu primeiro encontro quando Cíntia entrou como um supetão na minha sala. Já estava tão acostumada com suas maneiras descuidadas que nem me dei ao trabalho de tirar o olhar da tela.

— Estou indo para casa. Já fechei tudo e deixei sua agenda pronta para amanhã. E se não quiser se atrasar para a primeira sessão no cinema, aconselho desligar o computador e correr para casa – disse em um fôlego só.

— Cíntia, um dia eu verei você se engasgar com a própria língua. 

Ela apenas soltou sua sonora risada estridente. Acreditava no meu íntimo que Cíntia tinha algum parentesco com Fafá de Belém.

— Sabe quando irei fazer isso? Quando você finalmente anunciar que está namorando. E pelo andar da carroça, porque carruagem é coisa de princesa, isso está longe de acontecer. Daqui dá para ver as teias de aranha lacrando sua boca.

— Está querendo dizer que não tenho alguém para beijar na boca?

— Não estou querendo dizer, estou afirmando.

— Pois está muito enganada, eu tenho alguém... – falei desligando o computador e guardando a pasta com o nome de Guilherme na minha bolsa.

— Aquele urso fedorento que dorme com você na cama não conta.

— Não fale mal do Neno...

— Amiga, você não é mais nenhuma adolescente para ficar com um urso idoso na cama. O que ele tem de tão importante que ainda não jogou fora?

— Foi um presente.

Levantei-me, pegando minha bolsa e colocando sobre o ombro.

— De quem?

— Vamos parar com tantas perguntas? Se você não correr agora, será você a se atrasar para o cinema. Eu moro praticamente aqui do lado.

— Isso mesmo, joga na minha cara que moro do outro lado do mundo, sua esnobe.

— Não sou esnobe – retruquei.

— Não, imagina. Quem foi que deu um fora em alguém porque não gostou da profissão do cara?

— Ele era coordenador de apostador de corrida de cavalo. Isso é lá alguma profissão? – falei seguindo para a saída com Cíntia em meu encalço.

— Não era como se vocês fossem casar, apenas trocar beijos babados e no final da noite, quem sabe um corpo quente ao invés do seu edredom.

— Eu amo meu edredom. E mesmo assim, ele cuspia enquanto falava. Deveria ter me avisado, assim, iria de óculos para evitar ficar fechando meus olhos a cada vez que ele falava.

— Tinha certeza que iria gostar dele. Marcelo adora esses realits que você tanto assiste. Achei que tinham algo em comum.

— E tínhamos, apenas esse por música, fora isso, nada, nadinha. E por favor, não fala isso na frente da minha mãe ou ela começará a preparar todo o meu enxoval.

A ProcuraWhere stories live. Discover now