Penso em andar até Hillcrest mas acabo mudando idéia. São quase 15h da tarde, Sam provavelmente acha que passei o dia em sala... Talvez não, se Joe tiver dito alguma coisa. Odeio como estão próximos. Bufo sozinha na calçada e pego meu celular. A cada brecha mental Joe apareçe. Impressionante. Coloco os fones no ouvido e seleciono o álbum do Cage the Elephants. A primeira canção é Cry Baby. Acabo rindo sozinha. A letra diz muito;

Eu acho que é muito estranho
Assistindo as pessoas transitando
Rastejando por cima dos outros
Tentando chegar à frente na vida

Segunda-feira você tosse
Terça-feira você chora
Quarta-feira na cama
E se você morrer?

Você diz que eu sou insano
Eu digo que você provavelmente está certo
Todos nós temos algo importante a dizer
Mas falar é um desperdício de tempo

Chore, bebê, chore
chute, grite, lute
Segure-se com toda a sua força
Você vai morrer, morrer
Abra seus olhos ou a vida vai passar por você

Você não acha que é muito estranho?
Todos tem algo a esconder
Casa no deserto, topo de uma montanha
Perdido em um mergulho em alto-mar

Sem amor
Sem amor
Nada mais será suficiente

Chore, bebê, chore
Goste ou não
É uma questão de tempo
É uma questão de tempo

Passo a mão pelos cabelos. Isso é escroto. Foi uma péssima escolha de música. É, definitivamente. Pauso a música e sigo no silêncio. Mas meu silêncio é barulhento demais. Estou cansada de andar. Pego um táxi pra casa e passo o trajeto todo inquieta. Quando chego em casa vejo o carro do Sam na garagem e uma Harley Davidson do lado.

—A srta está bem? —o motorista pergunta.

—Não. —sorrio pra ele e desço do táxi. Ando até em casa, respirando fundo. Abro a porta e vejo que meu irmão e Joe estão vendo TV.

—Hey filha. —meu pai me beija na bochecha —Onde esteve?

—Por aí.

Sigo em direção as escadas e ouço passos atrás de mim.

—Genn. —Joe chama e paro no meio das escadas. Me viro pra ele. Está perfeitamente igual, perfeito —O que está aconteçendo?

Sorrio.

—O que está aconteçendo Joe? —repito e dou de ombros.

—Qual é Genn, achei que fôssemos amigos.

—Eu também mas pareçe que não somos. —faço um gesto com a cabeça em direção a Sam —Volte para lá.

—Genna para de drama garota, nós somos amigos. Eu te dei charutos importados e...

Deixo ele falando sozinho. Nós tivemos poucos momentos juntos mas foram o bastante pra ele me conquistar. Não foi o bastante para virarmos amigos. E muito menos pra ele notar meus sentimentos.

*

Meu pai me obrigou a acompanhar Sam ao treino. Sam não vai treinar, ainda sente dor no tornozelo—o acidente aconteçeu há uma semana. Ele está no banco acompanhando cada mudança no plano de jogo. Eu estou na arquibancada mais alta, deitada com as mãos sobre a barriga e ouvindo música. O teto do ginásio é todo metálico, exatamente como imagino ser o teto daquelas quadras onde ocorrem jogos da NBA.

Um rosto pálido entra no meu campo de visão. Pelas olheiras sei que é Arian.

—E aí Well. —ele diz empurrando minhas pernas. Sento dando espaço pra ele. Tiro os fones —O que tá fazendo aqui?

Uma Garota IncompletaNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ