25

35 3 0
                                    

Rindo, as mães dos alunos do jardim de infância formaram uma fila irregular na linha de
largada da corrida. O sol se refletia nos óculos escuros delas. O céu parecia uma
imensa concha azul. O mar safira brilhava no horizonte. Jane sorriu para as outras mães.
As demais retribuíram seu sorriso. Todas muito simpáticas. Muito sociáveis.
“Isso é coisa da sua cabeça”, garantira-lhe a mãe de Jane. “Todo mundo já vai ter
esquecido aquela confusão boba do dia da orientação.”
Jane andara fazendo um esforço enorme para se encaixar na comunidade da escola. Servia
na cantina de quinze em quinze dias. Toda segunda-feira de manhã, ela e outra mãe voluntária
ajudavam a Srta. Barnes ouvindo as crianças praticarem a leitura. Conversava educadamente
na chegada e na saída da escola. Convidava crianças para irem brincar em sua casa.
Mas Jane ainda sentia que havia algo errado. Uma cabeça que virava ligeiramente lá,
sorrisos amarelos acolá, o leve cheiro de crítica no ar.
Não é nada demais, ela ficava dizendo a si mesma. Era bobagem. Não havia por que se
apavorar. Aquele mundinho de merendeiras e mochilas, joelhos esfolados e rostinhos
encardidos não tinha qualquer relação com a feiura daquela noite quente de primavera, a luz
embutida no teto que mais parecia um olho observando-a de cima, o nó em sua garganta, as
palavras sussurradas insinuando-se em seu cérebro. Pare de pensar nisso. Pare de pensar
nisso.
Jane acenou para Ziggy, que estava sentado nas arquibancadas com as crianças do jardim
de infância sob os olhares atentos da Srta. Barnes.
“Você sabe que eu não vou ganhar, certo?”, dissera ela para o filho aquele dia durante o
café da manhã. Algumas daquelas mães tinham personal trainers. Uma delas era personal
trainer.
— Em suas marcas, mães! — exclamou Jonathan, o simpático pai que não trabalhava e
tinha ido com eles ao Disney On Ice.
— De quantos metros é essa corrida, afinal? — perguntou Harper.
— Aquela linha de chegada parece estar bem longe — opinou Gabrielle. — Por que não
vamos todas tomar café em vez de correr?
— Aquelas são Renata e Celeste segurando a faixa de chegada? — perguntou Samantha. —
Como elas se safaram dessa?
— Acho que Renata disse que...
— Renata tem canelite — interrompeu Harper. — Pelo que parece, dói muito.
— Todas nós devíamos nos alongar — sugeriu Bonnie, vestida como se fosse dar uma aula
de ioga, com uma camiseta amarela escorregando do ombro enquanto ela languidamente
levantava um pé e o puxava para trás até encostá-lo na coxa.
— Ah, aliás, Jess? — começou Audrey ou Andrea.
Jane nunca conseguia decorar o nome dela. A mulher chegou pertinho de Jane e falou em
um tom de voz baixo, confidencial, como se estivesse prestes a revelar um grande segredo
misterioso. Jane estava acostumada. No outro dia, ela se aproximara, baixara a voz e
perguntara: “Hoje é dia de biblioteca?”
— É Jane — corrigiu. (Ela não tinha o direito de se ofender.)
— Desculpe — disse Andrea ou Audrey. — Olha. Você é a favor ou contra?
— A favor ou contra quê? — perguntou Jane.
— Senhoras! — exclamou Jonathan.
— Cupcakes — disse Audrey ou Andrea. — A favor ou contra?
— Ela é a favor — respondeu Madeline. — Sua repressora.
— Madeline, deixe ela responder — insistiu Audrey ou Andrea. — Ela me parece uma
pessoa muito consciente da importância da saúde.
Madeline revirou os olhos.
— Hã, bem, eu gosto de cupcake — revelou Jane.
— Estamos fazendo uma petição para proibir os pais de mandarem cupcakes para a turma
inteira no aniversário dos filhos — informou Andrea ou Audrey. — Vivemos um surto de
obesidade, e dia sim, dia não, as crianças estão comendo doce.
— O que não entendo é por que essa escola tem tanta mania de petições — disse Madeline,
irritada. — É uma atitude de confronto. Por que a pessoa não pode simplesmente fazer uma
sugestão?
— Senhoras, por favor! — Jonathan ergueu a pistola de largada.
— Cadê Jackie, Jonathan? — perguntou Gabrielle.
As mães estavam meio obcecadas pela mulher de Jonathan, desde que ela havia sido
entrevistada no bloco sobre economia do noticiário noturno alguns dias antes, parecendo
assustadoramente segura e inteligente ao falar sobre uma fusão de empresas, chegando a botar
o jornalista em seu lugar. Além disso, Jonathan era muito bonito, de uma maneira que
lembrava George Clooney, então as referências constantes à sua mulher eram necessárias para
deixar claro que elas não tinham notado sua beleza e não estavam dando em cima dele.
— Ela está em Melbourne — contou Jonathan. — Parem de falar comigo. Em suas marcas!
As mulheres andaram até a linha de largada.
— Bonnie parece uma profissional — comentou Samantha quando Bonnie se agachou na
posição de largada.
— Eu quase nunca corro hoje em dia — disse ela. — Correr é muito agressivo para as
articulações.
Jane reparou em Madeline olhando para Bonnie e enterrando com firmeza a ponta do tênis
na grama.
— Chega de conversa fiada, senhoras — esbravejou Jonathan.
— Adoro quando você é autoritário, Jonathan — disse Samantha.
— Preparadas?
— Isso é muito angustiante — confessou Audrey ou Andrea a Jane. — Como as pobres
crianças lidam com o...
A pistola disparou.
                              _______

Thea: Eu tenho algumas hipóteses sobre o que pode ter acontecido, mas prefiro não falar mal
dos mortos. Como digo às minhas quatro filhas: “Se não tiverem nada agradável a dizer, não
digam nada.”

Big Little LiesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora