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Gabrielle: Sei lá, pensei que talvez houvesse algum tipo de etiqueta para entrega de convites de
festa. Achei o que aconteceu naquele primeiro dia de aula do jardim de infância meio
inapropriado.
                             _________

—Sorria, Ziggy, sorria!
Ziggy finalmente sorriu, no exato momento em que o pai de Jane bocejou. Ela
apertou o botão para tirar a foto e depois conferiu a tela da câmera digital. O menino e a mãe
dela exibiam lindos sorrisos, enquanto seu pai tinha sido captado no meio de um bocejo: de
boca aberta e com os olhos fechados. Ele estava cansado porque precisara se levantar muito
cedo para sair de Granville e ir até a península ver o neto no primeiro dia de aula.
Os pais de Jane sempre dormiam tarde e acordavam tarde, e qualquer coisa que exigisse
sair de casa antes das nove da manhã era um esforço tremendo. No ano anterior, seu pai
aceitara a aposentadoria antecipada do emprego como funcionário público, e, desde então, ele
e a mãe de Jane ficavam acordados montando seus quebra-cabeças até as três ou quatro horas
da manhã.
“Nossos pais estão virando vampiros”, dissera o irmão de Jane. “Vampiros que montam
quebra-cabeças.”
— Querem que o meu marido tire uma foto de todos vocês juntos? — perguntou uma mulher
parada ali perto. — Eu me ofereceria para tirar, mas a tecnologia e eu não somos amigas.
Jane ergueu os olhos. A mulher estava com uma saia comprida de estampa paisley e regata
preta. Usava pulseiras de barbante, o cabelo preso em uma trança comprida, e tinha um
símbolo chinês tatuado no ombro. Ela parecia um pouco deslocada em meio aos outros pais,
que estavam de roupas sociais, de praia ou de ginástica. Seu marido parecia bem mais velho
do que ela e vestia short e camiseta: o traje padrão dos pais de meia-idade. Ele segurava a
mão de uma menininha minúscula de cabelo comprido maltratado que lembrava um
camundongo e cujo uniforme parecia ser três números maior.
Aposto que você é Bonnie, pensou Jane de repente, lembrando-se de como Madeline
descrevera a esposa do ex-marido, ao mesmo tempo em que a mulher disse:
— Meu nome é Bonnie, e esse é meu marido, Nathan, e essa é minha filhinha, Skye.
— Muito obrigada — disse Jane, entregando a câmera ao ex-marido de Madeline e indo
para perto de seus pais e Ziggy.
— Digam abacaxi! — Nathan levantou a câmera — Hã? — perguntou Ziggy.
— Café. — A mãe de Jane bocejou.
Nathan bateu a foto.
— Pronto!
O homem devolveu a câmera, e outra menininha de cabelo cacheado marchou até a filha
dele com um passo decidido. Jane sentiu-se enjoada. Reconheceu-a na mesma hora. Era a
menina que acusara Ziggy de tentar enforcá-la. Amabella. Jane olhou em volta. Onde estava a
mãe enfurecida?
— Como você se chama? — perguntou Amabella a Skye, com ares de importância.
Carregava uma grande pilha de envelopes rosa-claros.
— Skye — sussurrou a menininha.
Ela era tão terrivelmente tímida que dava pena vê-la tentar desembuchar as palavras.
Amabella folheou os envelopes.
— Skye, Skye, Skye.
— Nossa, você já sabe ler todos esses nomes? — perguntou a mãe de Jane.
— Na verdade, eu já leio desde os três anos — disse Amabella, educadamente. Continuou
folheando os envelopes. — Skye! — Ela entregou um envelope rosa. — É um convite para o
meu aniversário de cinco anos. É a festa do A, porque meu nome começa com A.
— Ela já lê antes de começarem as aulas! — exclamou o pai de Jane a Nathan como se
fossem velhos amigos. — Já é a primeira da turma! Deve ter tido aula particular, não acha?
— Bem, não é para contar vantagem nem nada, mas Skye já está lendo muito bem também
— disse Nathan. — E a gente não acredita em aulas particulares, não é, Bon?
— Preferimos deixar o crescimento de Skye acontecer de forma orgânica — respondeu
Bonnie.
— Orgânica, hein? — comentou o pai de Jane, franzindo a testa. — Como as frutas?
Amabella virou-se para Ziggy.
— Como é o seu...
Ela ficou paralisada. Uma expressão de puro pânico passou pelo seu rosto. Apertou com
força os envelopes rosa junto ao peito como se para impedir que Ziggy roubasse um e, sem
dizer uma palavra, deu meia-volta e saiu correndo.
— Nossa. Para que tudo isso? — perguntou a mãe de Jane.
— Ah, essa foi a menina que disse que eu machuquei ela — contou Ziggy com toda a
naturalidade. — Mas eu não machuquei, vovó.
Jane olhou em volta do parquinho. Para onde quer que olhasse, via crianças com uniformes
escolares grandes demais e novos em folha.
Todas tinham nas mãos um envelope rosa-claro.
                             _________

Harper: Olha, ninguém naquela escola conhecia Renata melhor que eu. Nós éramos muito
próximas. Posso lhe dizer com certeza que ela não estava querendo provar nada.
Samantha: Ai, meu Deus, é claro que ela estava.

Big Little LiesWhere stories live. Discover now