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— Então você tá me dizendo que veio de outra dimensão e que esse mundo não é real?! Tony, andou fumando erva estragada no sol quente? — indagou Dan, sua voz carregada de escárnio e confusão soava mais alta do que deveria considerando que seus pais dormiam no quarto ao lado.
— Não disse que o seu...esse mundo não é real. E, pela última vez, eu não sou o Tony! Me chamo Byron. O seu melhor amigo, Tony, é a minha cópia...
— Cópia? Tipo uma xérox?
— É. É como se o seu mundo, que é totalmente real, fosse uma cópia do meu, como um espelho. Invertido.
— Meu deus, cara! Você tá muito doidão. — Dan riu, as mãos indo até os cachos ruivos e os puxando para trás em um gesto habitual e quase involuntário.
Byron suspirou, exasperado, antes de deixar sair o que estava em sua mente:
— Durante muito tempo te observei e o escolhi porque achei que fosse capaz de entender e me ajudar...
— Ajudar? — o garoto o interrompeu — salvar a Terra 1.0?
— Terra 1.0? — agora era Byron quem não estava entendendo. Nada estava saindo como esperara e isso podia ser absurdamente perigoso. Para ambos.
— Você não disse que somos cópias do seu povo? Um espelho ou sei lá? Então, vocês são a Terra 1.0 e nós, Terra 2.0.
— Não, não — Byron riu — não é assim. Vocês deram ao planeta o nome de Terra. Nós, chamamos o mundo de vocês de Lucem, eu já expliquei isso.
— Sim e...
— Estamos perdendo tempo. Se você não pode me ajudar, não posso mais ficar aqui. Os ponteiros não param.
— Não param mesmo — uma terceira e feminina voz disse, parecia vir da mochila.
— SUA MOCHILA FALOU?! — os olhos de Daniel se arregalaram e ele se afastou subitamente de Byron.
— Não — o visitante riu, tirando a mochila das costas para poder pegar o objeto que produzira tal som: era quadrado e do tamanho de um celular médio, na verdade se parecia muito com um celular, até um holograma de uma garota se erguer no ar através da pequena tela. Os pixels arroxeados flutuando no espaço deixaram Daniel ainda mais espantado. Okay, pensou, tem alguma coisa acontecendo aqui!
Estava começando a cogitar a possibilidade de estar sonhando ou de ele mesmo ter fumado erva estragada. Se beliscou para ter certeza de que não estava dormindo. E quanto a erva, seu tio havia morrido de câncer no pulmão, não seria capaz de colocar um cigarro na boca, fosse ele feito da substância que fosse.

— O tempo está se esgotando, Byr. Sua fuga já foi descoberta, a sua holocópia não surtiu o efeito esperado. Acho que não são tão idiotas quanto gostaríamos. — a garota riu. E Daniel se viu olhando fixamente para o rosto arredondado dela emoldurado por uma cascata de cachos roxos. — Mandaram rastreadores atrás de você — continuou ela — por isso liguei. Precisa ser rápido!
— Serei! — prometeu — dará tudo certo! — as palavras ditas por seu pai certa vez ecoaram em sua mente: "comprometa-se quando puder, Byron. Quando não puder, não faça promessas vis que não será capaz de cumprir.". Tinha que conseguir! Não apenas porque prometera, mas porque precisava, o mundo — não só o seu, dependia disso!

— E você — o rosto holográfico da garota virou-se para Daniel — levanta esse traseiro daí e faz o que Byron mandar!
— S-sim senhora. — balbuciou
— Ótimo! E para de achar que ele é o Tony!
— Sim senhora. — era só o que conseguia dizer, ela falava como um general dando ordens.
— Boa sorte, Byr — ela voltou-se para o amigo e com um meio sorriso que nada mais era que uma tentativa falha de ocultar sua aflição, se despediu.

— Daniel, você vem ou não? — Byron perguntou, junto a janela e com a mochila nas costas outra vez, só esperava a resposta do garoto para poder saltar de volta a rua escura.
— E-eu...— Daniel não teve tempo de concluir a resposta, tampouco a linha de pensamento que levaria a ela, pois o som de uma explosão vindo da rua o interrompeu, fazendo um calafrio percorrer sua espinha ao mesmo tempo em que seu coração disparou como um corcel veloz.
— Eles estão aqui! — os olhos azuis de Byron se arregalaram, brilhando como duas bolinhas de gude no escuro do quarto. Jogou a mochila no chão e de dentro tirou uma prancha muito semelhante a um skate antes de perguntar a Daniel algo que fez o calafrio que a pouco descera por sua espinha, voltar:
— Tá afim de voar?
— Isso é algum tipo de pegadinha, não é? A qualquer momento as câmeras vão aparecer e a platéia de algum talk show idiota vai estar rindo de mim, né?
— Infelizmente não. — o skate estranho na mão de Byron ganhou uma luminosidade azulado quando ele apertou alguma coisa na parte inferior do objeto e em seguida o soltou para que flutuasse no ar.
— Minha nossa senhora! Que diabos é isso? — a voz de Daniel saiu esganiçada, apavorada. Byron riu, achando a reação um exagero. Mas não era por ter um skate flutuante brilhando como luzes de néon bem diante de seus olhos que o garoto gritou, foi por ver o organismo robótico com olhos vermelhos faiscante surgir atrás de Byron, do outro lado da janela.
Se não era pegadinha, só podia ser um pesadelo. E aquele era o momento em que gostaria muito mesmo de poder acordar!

INVERSO [ #MundosParalelos ]Where stories live. Discover now