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Byron não tinha muito mais que sete anos quando seu pai o levou ao observatório pela primeira vez. Era um lugar gigantesco e totalmente diferente de tudo o que já vira ou imaginara. Quando o pai falava do trabalho no observatório, o garoto imaginava uma coisa totalmente diferente, visualizava um lugar com telescópios subindo além do teto e dezenas de computadores, em sua mente seu pai observava constelações de estrelas brilhantes e não pessoas. Não cidades, guerras, festas, vida humana e pulsante, por dezenas de monitores de diversos tamanhos.

A primeira coisa que Byron sentiu foi fascínio. Eram tantas cores, sons desconhecidos vindo de objetos que nunca vira antes, diversos idiomas, comidas, danças, animais, plantas e flores que lhe enchiam os olhos. Foi uma explosão preenchendo seus sentidos com imagens e sons. Era como ter um mundo inteiro e novo diante de seus pequeninos olhos azuis, cada pedacinho desse mundo o alcançando na forma de milhões de pixels formando imagens nas telas.

Em seguida, sentiu confusão e curiosidade. O que era tudo aquilo? Quem eram aquelas pessoas? E os objetos estranhos e plantas exóticas, como se chamavam? E a intrigante criatura de pescoço absurdamente comprido? Seria algum programa de TV? Não, não fazia sentido! Seu pai, Quevedo Søren, era um cientista, não um produtor de entretenimento!

— O que é isso tudo, Pater?
Isso, Byron — o homem sorriu, fazendo pequenas rugas ganharem forma nos cantos de seus olhos — é o Experimento L.U.C.E.M.

O garoto continuava o fitando confuso. Quevedo puxou uma cadeira e sentou-se. Os óculos de lentes circulares não escondiam a maior semelhança — externa, entre eles: os olhos azuis como gelo. Claros e duros.
— Vem cá, Byron. Vou lhe contar uma história muito importante sobre todos nós. — Quevedo pegou o filho e o sentou em sua perna.
— Há muito, muito tempo mesmo. Durante a Era Tenebris...
O que é Era Tenebris? — interrompeu Byron.
— Foi um período muito terrível para o nosso povo. Tempos verdadeiramente sombrios. Houveram muitas guerras, muitos de nós morreram, cidades foram destruídas e ainda hoje, tantas eras depois, ainda são ruínas inabitaveis que nos lembram dos erros que não devemos repetir.
— Por que aconteceu isso?
— Eu vou contar. Preste atenção.
— Estou prestando.
— Sei que sim. — ele sorriu de canto para o filho, com ternura. Poderia ser famoso por suas criações e descobertas, mas aquele garotinho curioso e esperto sempre seria a melhor coisa que fez. — Com o tempo, Byr, você vai aprender que as pessoas podem ser terríveis. Todos temos falhas, cometemos erros e fazemos escolhas. Porque somos humanos. E humanos tem ideais e princípios que, as vezes, podem guiar alguns por caminhos errados que pensam ser o certo apesar de trazer males, entende o que quero dizer?

O garoto assentiu e Quevedo continuou: — E há pessoas que são egoístas demais para se importar com o mal que fazem para conseguir o que querem. Por isso, durante muito tempo, vivemos em um mundo formado por governos falhos e nações corrompidas, cheias de ódio e ideologias erradas, isso gerou guerras e muita destruição.
— Era Tenebris? — Byron arriscou.
— Exatamente! — Quevedo riu, orgulhoso. — E durante esses tempos sombrios, um grupo de pessoas: cientistas de várias aéreas e os governantes das poucas nações que ainda prezavam a paz acima de tudo, tiveram uma ideia revolucionária. — Quevedo ergueu as mãos no ar, seus olhos brilhavam, ainda sentia no peito a mesma empolgação de quando era só um garoto e essa história lhe fora contada por seu avô. — Entre essas pessoas, estava Gasan Søren.
— Søren? Como você e eu, pater?
— Exatamente como você e eu! Gasan é nosso antepassado, o primeiro cientista da nossa família, ele era brilhante! E participou da criação disso que vemos nos monitores. — Quevedo fez um gesto circular com a mão no ar, apontando para as paredes repletas de telas. — O Experimento L.U.C.E.M.
— O que L.U.C.E.M. significa?
Lucem.
Lucem? — Byron indagou, virando a cabeça para mirar o rosto do pai.
— Sim. É a luz que nos guia. E o nome seria LUGEM, na verdade, as iniciais dos principais cientistas que o criaram. Mas Gasan quis marcar sua participação com a inicial de seu primogênito, Carl, porque assim formaria a palavra Lucem.
Eu ainda não entendi o que é isso. — Byron apontou para o monitor mais próximo.
— É um mundo, mas não um mundo qualquer. É uma cópia do nosso, e estamos ligados a ele, como se houvesse um fino fio invisível nos conectando. É a nossa luz. Foi criado para nos guiar rumo a paz e a uma sociedade perfeita. Sem falhas. A idéia do L.U.C.E.M era criar um mundo paralelo ao nosso, com seres como nós, com falhas e defeitos, assim poderíamos observar a nossa própria natureza através deles e evitar erros. Evitar guerras e uma nova Era Tenebris.
E conseguimos, pater?
— Estamos conseguido, eu diria.
— Então nosso mundo é perfeito?
— Não. Infeliz ou felizmente não. Gasan e os outros não compreenderam que jamais haveria um mundo perfeito. Subestimaram a capacidade humana de falhar. — seu tom soou quase triste, Byron percebeu.
— Então eles erraram? O Experimento fracassou?
— Eu não diria isso, pelo contrário. Podemos estar conectados, mas eles são mais do que cópias de nós. São vivos e reais, isso não pode significar fracasso, pode? — Quevedo deslizou o dedo pelo nariz do menino e apertou de leve, o fazendo rir.
— Acho que não. — Byron respondeu, abafando o riso.
— E eles podem ter errado... Em parte, talvez. Ou eu é que estou errado, quem sabe.
— Não, pater, você é o homem mais inteligente de todos! Nunca erra! — o tom sério e convicto da criança o fez sorrir e rir. Poderia tê-lo lhe dito que estava enganado ao pensar assim, mas não o fez, apenas abraçou sua mais valiosa criação. Byron Gasan Søren.

INVERSO [ #MundosParalelos ]Where stories live. Discover now