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Não tenho certeza se tediosa é a palavra mais apropriada para definir a vida de Daniel Thomas Jr., eu, particularmente acho “rotineira” ou, até mesmo “tranquila” termos melhores.

Todos os dias ás sete da manhã, faça chuva ou faça sol, seu despertador toca, um estridente e deveras irritante som metálico. Daniel pula da cama, toma banho, veste seu jeans surrado de todos os dias e os velhos converses azuis (que as vezes mais parecem cinzas, graças a poeira acumulada), com a mochila nas costas e o cabelo molhado e mal penteado ele
desce as escadas apressado e antes de chegar ao último degrau ouve, todos os dias, a mesma frase sair da boca da sua mãe:
“Não precisa correr, a comida não vai fugir! Um dia você ainda vai acabar rolando escada a baixo e quebrando uma costela ou o pescoço”.
“Pela milionésima vez, mãe, eu não tenho mais cinco anos!” responde o jovem Dan em quase todas as manhãs, algumas vezes ele apenas revira os olhos e suspira. E eu rio, sentado aqui,
o observando sem que ele ou qualquer um que conhece ou possa vir a conhecer algum dia saiba.

Depois de comer e ignorar 80% dos comentários feitos por sua mãe, Daniel vai para escola. Um prédio grande em tons de
marrom e amarelo onde ele é bom em algumas coisas (como artes, basquete e ciências) e péssimo em outras (como álgebra, se enturmar e garotas).

Era quinta-feira o que significava nenhuma aula de álgebra e treino de basquete depois da aula, e também pudim. Um dia relativamente bom, como todas as quintas-feiras costumavam ser. Raramente acontecia algo diferente ou minimamente interessante na vida dele, a última vez foi no ano passado quando Isa Laurent aceitou ir ao baile com ele, tomaram ponche demais sem saber que estava batizado e dançaram Wonderwall como se fosse break. Foi uma noite divertida, memorável, especialmente pelo beijo, mas duas semanas depois ela se mudou. Sabe como é, alegria não dura muito para
pessoas como Dan.
Porém foi em uma quinta-feira rotineira, tranquila e relativamente feliz que aconteceu uma coisa extraordinária que mudou tudo na vida de Daniel Thomas Jr. De baixo para cima. De dentro para fora. De um lado para o outro. Absolutamente tudo foi modificado.

Começou de uma forma diferente do planejado. Já ouviu falar da Teoria do Caos? A sucessão de acontecimentos caóticos após um evento aleatório? Talvez tenha sido essa explicação para que as coisas tenham acontecido daquela forma. Coincidências e caos.
A primeira coisa que aconteceu e levou Daniel a aquele momento em especial não foi algo que lhe coubesse resolver, mas a segunda foi ter perdido o ônibus naquela tarde e ter tido que andar cinco quilômetros até em casa. E o terceiro fator foi o tempo perdido, cada milésimo que levou para chegar em casa fez diferença. Mas ele ainda não sabia disso ao deitar-se para dormir essa noite.

Recostado no tronco de uma árvore na rua mal iluminada, Byron Søren observava a residência de seu alvo. Seus olhos se mantinham fixos na janela do segundo andar a espera de que as luzes da casa fossem apagadas porque só ai ele poderia entrar.
Não havia sido assim tão fácil chegar ali, considerando que o garoto não estava no ônibus em que deveria estar e Byron perdeu quase uma hora seguindo um veículo em vão até se dar conta de tal infortúnio. E apesar de pequena, muitas ruas naquela cidade lhe pareciam semelhantes entre si e o bairro em que seu alvo morava era como um labirinto de ladeiras compridas e ruelas estreitas.

Estava cansado, frustrado e, acima de tudo, temeroso. Já havia passado muitas horas desde que chegara ali e não estava nem um passo mais perto de cumprir sua missão, tudo o que fizera até então fora gastar energia e tempo, esse último não era um fator ao seu favor. Cada instante contava. Cada segundo perdido aumentava os riscos à sua vida e as chances de fracassar. Essas possibilidades se resumiam em uma pergunta constante em sua mente: será que fui descoberto?

A luz do andar de baixo foi apagada por fim. Byron esperou alguns minutos antes de se aproximar mais da casa, não podia ser visto.
Escalar a parede lateral até a janela foi fácil, difícil mesmo foi conseguir arrombar a fechadura sem fazer barulho pendurado no parapeito por um único braço. De repente a mochila pareceu tão pesada e dispensável...

O quarto estava totalmente escuro, nem mesmo o abajur estava ligado, era impossível chegar ao leito do alvo sem esbarrar em pufs, sapatos e livros jogados no caminho. E com tanto barulho, Thomas acordou.

Pronto! se vai o Plano A!

— Quem está ai? — Thomas perguntou, afobado, sacando um sabre de luz que ficava em baixo da cama — único lugar onde estava a salvo de ir parar no lixo como o seu antecessor, graças a paranóia da mãe do garoto que a fazia acreditar que aquele objeto era um risco.
— Ótima arma de defesa — observou o invasor com um toque de escárnio em seu tom. E sua voz guiou Thomas a sua localização, ainda sentado na cama e com suor umedecendo a testa apontou sua arma luminosa direto para o rosto do desconhecido. Em uma fração de segundo toda confusão e temor que escureciam seus olhos transformaram-se em uma expressão facial que poderia ser descrita como: sobrancelhas curvadas, olhos semicerrados, todo o rosto contorcido em uma careta de confusão enquanto o mais genuíno e espontâneo "O que?!" que um ser humano poderia pronunciar escapava dos seus lábios, mais agudo do que ele gostaria.
— Que merda é essa?! — abafou o riso enquanto analisava a figura diante de si. — Por que invadiu o meu quart... Você arrombou a janela?!! E por que diabos com as minhas roupas, Tony?

Ah, Claro!

O invasor revirou os olhos ao se dar conta de um importante detalhe que esquecera.

Minha cópia! Mas que merda!

Sim, a sua cópia naquele mundo. Mais conhecido como Antônio Guedes ou o melhor (e único) amigo de seu alvo!

É, definitivamente, era o Plano A.

INVERSO [ #MundosParalelos ]Onde histórias criam vida. Descubra agora