Tive uma conversa com Petúnia e Brok após a refeição.

     — Me desculpa, Pancada. Por ter desistido quando você mais precisou de mim. Eu fui fraca. Cedi as mentiras da diretora.

     — Ela não contou sobre seu pai, não é? — questionei já sabendo a resposta.

     — Não. Mas tivemos uma conversa, nada que eu acredite muito. Pompoo disse que meu pai era conhecido dela e que no dia em que foi assassinado ela ficou obcecada em procurar o culpado, mas até hoje não descobriu quem foi. Desde então se lamenta. Também disse que ambos trabalhavam juntos em uma empresa. Foram palavras vagas, não conseguiu me convencer — terminou ela. Em seguida me virei para Brok.

     — Eu invadi seu drenador, Brok. Vi o quanto ela se aproveitava de seus sentimentos. Vi o quanto ela se aproveitou de vocês dois para se afastarem de mim. Ela te expulsou do seu cargo porque tentou me ajudar na disputa por classes, não é?

     — Foi exatamente por isso... — respondeu ele baixando a cabeça.

     — Mas o que importa é que estamos juntos de novo. Nós somos fortes juntos, e ela está ciente disto — interviu Petúnia.

     — Com certeza está — afirmei.

     A luz do dia invadiu o escritório do Dr

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A luz do dia invadiu o escritório do Dr. Feen. Havia muitos copos de expressos em sua mesa que nos obrigava a continuarmos acordados. O som das gaivotas que sobrevoavam ali perto mesclava com o ronco dos motores dos apressados carros de Londres, com seus destinos já traçados tão cedo.

     — Força de vontade. Com tantos motivos para te fazer desistir, você sempre encontrava um para continuar. Não consigo dizer ao certo quantos pacientes já me disseram que não possuíam força de vontade. Você pensa da mesma maneira?

     — Eu era uma criança oportunista. A força que eu tinha, vinha das oportunidades que apareciam. Isso me encorajava a continuar lutando.

     — E esta força ainda existe? 

     — Doutor, este seu projeto, livro, provavelmente será a última coisa que estarei comentando sobre aquela época. Por muitos anos eu apaguei tudo relacionado ao Insanity Asylum da minha vida. Não vale a pena. Não quando já estou perto da casa dos trinta e passando por problemas reais, do mundo real. Não tive tempo para pensar sobre essas coisas nos últimos anos. Estar aqui, revivendo tudo novamente é muito complicado. É a primeira vez que falo em público sobre o orfanato e provavelmente será a última — Dr. Feen me analisava franzindo a testa.

     — Você me parece apreensiva — afirmou — Estamos chegando ao fim desta história, não estamos?

     — Sim. Nós estamos. E é totalmente desagradável os próximos acontecimentos... é difícil descreve-los.

    O dia exaustivo de aulas havia chegado ao fim

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O dia exaustivo de aulas havia chegado ao fim.

    A escuridão ia tomando conta do pátio principal quando o toque de recolher tocara. Como uma horda de gados, os irrecuperáveis desciam as escadas para o subterrâneo, com caras desanimadas, cansadas e pálidas. Desta vez eu não segui a demanda.

    Caminhei sentido oposto, me disfarçando por de trás dos pilares do pátio. Corri para o segundo andar e me reservei na sala de utensílios. Quando os passos lá fora cessaram, saí dali e segui em direção ao terceiro andar. Por sorte, nenhum dos funcionários me avistaram. A sala de aula já estava vazia, a porta que ficava aos fundos onde era permitido apenas a entrada de funcionários, trancada.

     Mas eu possuía a chave. Dalva me emprestara hoje cedo. Um ato estanho para alguém que se dizia não estar do meu lado. Ao abri-la, um vento gélido passou pelo meu corpo fragilizado e magro. Meus passos ecoaram a partir dali. O coração palpitou ao ver parado naquele corredor estreito, com paredes de pedras rusticas cinzentas, um lobo enorme, deitado no centro.

     Ele levantou a cabeça em imediato ao escutar minha chegada. Se levantou emitindo alguns grunhidos. Seus dentes ficaram a mostra e seus olhos brancos diminuíram de tamanho quando suas pálpebras o apertaram. A criatura se aproximara de mim, mas não hesitei.

     — Sou eu... sua velha companheira de cela — disse a ele estendendo meu braço esquerdo até encostar em seus pelos negros — preciso passar, por favor.

     O lobo parou de fazer barulhos estranhos e me encarou, como se, com seus olhos cegos, pudesse me ver. Cheirou minha mão que o encostara e abriu caminho. Passando por ele, abri a última porta que levava ao meu destino.

     — Boa noite, Dante. Precisamos conversar.

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II - Rebelião dos IrrecuperáveisWhere stories live. Discover now