Prologo

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  Acima de tudo, não perca seu desejo de prosseguir.  

O Vento estava forte

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O Vento estava forte.

O crepúsculo chegava e o caminho era longo até em casa. Havia perdido o trem e meus pais não foram informados que as aulas acabariam cedo. Tudo indicava que eu trilharia o percurso sozinha, como todos os outros dias. Mas aos onze anos, eu já fazia muita coisa independente, como lavar minhas roupas, ou preparar o café da tarde para um pai que chegava exausto da rotina massacrante.

O frio penetrava, enquanto o forte vento diminuía o ritmo, deixando meu corpo completamente sensível. Passando por um beco, virando à esquerda, onde minha casa ficava próxima, notei alguém me seguindo. Passinhos leves, que eu notara desde minha chegada ao bairro. Todos os dias essa situação se repetia, e incomodava, já que nunca fui de olhar para trás. Mamãe sempre dizia para não demonstrar medo ou fraqueza, pois isso nos deixava vulneráveis. De cabeça erguida fiquei, e, de qualquer forma, se algo ruim acontecesse, já teria acontecido.

Porém.

Acumulando um pouco de coragem, decidi pegar o sujeito de surpresa, virando o corpo em direção aos passos. O problema diminuiu quando vi um animalzinho no lugar de um ser humano com más intenções.

— Ei... venha cá! — Ajoelhei e estendi o braço esquerdo, estalando os dedos para a cachorrinha que me encarava parada. Era branca, parecia um poodle mas com os pelos totalmente encardidos.

— Anda me seguindo, é?

— Ela não segue você — Uma voz se destacou naquele beco silencioso. Um homem deitado em um canto, com cobertas envolta de seu corpo. Tinha uma longa barba negra e sobrancelhas quase juntas. Sua aparência rústica, e seu forte odor, me fez dar alguns passos para trás.

— Oh, me desculpe senhor.

— Não tem com o que se desculpar. Minha cachorra te protege até a chegada de sua casa. Notei que passa por aqui sozinha com frequência. Não é um lugar seguro para uma criança.

— Ela me vigia todas as vezes? — Perguntei impressionada.

— Todas as vezes.

"Luna é uma cachorra noturna, tem esse habito de vigiar as pessoas que passam, mas em especial, gostou de você. Se tivesse olhado para trás nos momentos em que sentia medo, passando a sós pelo mesmo canto escuro, veria ela te olhando. Nos dias de chuva, onde o guarda-chuva raramente lhe era útil, nos dias de sol, e nos dias mais sombrios. Ultimamente minha jovem, ela foi mais sua do que minha."





Meus olhos se dilataram, me fazendo voltar para o real cenário.

Cenário onde uma mulher segurava um animal morto, de pelos brancos, já avermelhados, quase irreconhecível. Seu pescocinho pendurado entre seus braços. O excesso de lágrimas fizera do belo tapete felpudo da Srta. Pompoo, várias manchas úmidas, junto de outros tipos mais escarlates.

Se eu me olhasse no espelho naquele instante, veria dois globos quase negros no lugar de olhos. Seria a marca do sofrimento, ou do choque de realidade? Minhas pernas tremiam tanto que precisei me ajoelhar no chão. Com as duas mãos, apertei o tecido do tapete, rasgando-o. Olhava para o vazio, sem expressões o suficiente que pudessem traduzir algo.

Luna estava morta.

Levantei repentinamente, descontrolada, em direção reta, e empurrei a poltrona que bloqueava meu caminho, onde a mesma bateu na mesa emadeirada ao lado, derrubando todas as coisas que estavam em cima.

Eu iria matar a diretora com minhas próprias mãos. Meu coração pulsava grosseiramente. O sorriso maldoso de Pompoo ficou marcado em minha mente. Não tive mais autocontrole.

Ela teria que morrer.

E teria que ser agora.

Com uma rápida piscadela, a diretora soltou o cadáver que segurava, esperando um ataque direto. Mas antes que eu pudesse fazer algo contra ela, senti ligeiramente uma agulhada no pescoço, penetrando minha carne com precisão, congelando todo o meu esqueleto.

Alguém me golpeara por trás, mas não consegui me virar a tempo. Minha visão ficara embaçada ao ponto de tudo desaparecer lentamente. A última coisa que escutei antes de desabar no chão fora murmúrios vindo da diretora e da pessoa intrusa. Meus sentidos se apagaram e me levaram para a escuridão.

Que incrível dia para estar morta.

Que incrível dia para estar morta

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II - Rebelião dos IrrecuperáveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora