Unexpected

Chapter VIII - Part II

A manhã estava casualmente adorável, o cheiro doce das flores e o bater de folhas incessantes das árvores com o vento tranquilizavam alguém que poderia ter tido uma péssima noite de sono. O ar natural entrou avassaladoramente no quarto que passara a noite fechado, o sol fraco iluminando melhor o cômodo e ganhando resmungos em resposta da sua bênção natural.

Clarke inquietamente puxou as cobertas do suposto corpo de Raven, mas sua mente entrou em uma grande confusão quando viu o amontoado de panos fingindo ser seu corpo e um aplique embaraçado como complemento para seu cabelo. A loira suspirou irritada, vendo um bilhete sobre sua cômoda e dirigindo-se até ele, tomando em suas mãos frias.

"Acordei com os primeiros sintomas do meu cio, desculpe, não quis acordar você. Eu estarei de volta antes mesmo que consiga perceber, se cuida e, por favor, tente sair desse maldito quarto."

Perfeito.

Clarke deixou o bilhete onde estava e passou a mão pela testa, sentindo sua bexiga apertar-se pela maldita quarta vez em apenas três malditas horas. Não era algo que ela não pudesse aguentar, mas sentiria-se pior se adquirisse uma infecção urinária por prender por tanto tempo, e a vontade era constante. Sentou-se desconfortavelmente na beirada da cama, respirando fundo a brisa abrasar seu corpo ainda frio.

- Temos que chegar em um acordo. - murmurou. - Você não pode simplesmente me proporcionar uma péssima noite de sono sem um motivo plausível, eu estou cansada de urinar.

Sentiu-se imediatamente idiota por comentar isso consigo mesma, seu olhar posicionado na barriga ainda inexistente por debaixo do moletom. Ela imaginava algo ali, mas nada era tão realístico a ponto de cair sua ficha para seu lado racional gritar histérico e preocupar-se instantaneamente com tudo o que estaria por vim. Era apenas, na confusão de seus pensamentos, uma coisinha passageira, da qual não fazia ideia de como iria ser e como lidaria. Era apenas um lembrete do porquê estar mudando drasticamente todo o seu corpo, seus instintos, seu humor. Ela sequer imaginava que aquilo sairia dela brevemente, não, ela nem chegou perto de pensar ainda nesse fato.

Ela lembrou-se da noite passada, dos momentos constrangedores e intimidantes que passara no refeitório, um grande mal desnecessário do qual teria que encarar por um tempo incontável. Não costumava confiar em ninguém que chegasse perto o suficiente para conversar, sua vida antes dali era quase a mesma coisa na questão de amizades, ômegas costumam aproximar-se de alguém quando querem algo e quando conseguem, eles vão embora satisfeitos e de ego inflado. Ela não poderia julgar Echo dessa maneira sem a conhecer, mas todos os seus instintos a mantinham afastada da ômega mais velha, ela não sabia explicar a razão, de alguma forma a presença da garota lhe deixava desconfortável mas também lhe trazia uma pontada de esperança em ter alguém perto.

- Espero que você esteja reclamando com sua bexiga e não com um fantasma que você consegue invocar. - O resmungo do outro lado do quarto eriçou todos os pêlos existentes em seu corpo.

- Ah-Eu... Luna. - perdeu sua voz ao encarar a alfa descabelada se apoiando de costas nos cotovelos para encarar a ômega. - Não sabia que você estava aqui, desculpe.

- Sim, tanto faz. - balançou as mãos. - Então, estava falando com um demônio ou sua bexiga?

- O que...?

- Você não é daquelas que gostam de falar sozinha, não é? 

- Oh... Desculpe, foi um pensamento alto. - sentiu suas bochechas corarem.

- Bem alto. - resmungou novamente. - Quem diabos abre essas janelas às sete da manhã?! Por Deus!

Clarke arregala os olhos, murmurando um pedido de desculpa. - Você quer que eu feche? Desculpe, eu não notei você ao meio de tantos lençóis.