Meu caminho até você - Parte II

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Fazia pelo menos um mês que Emma e Regina haviam começado a conversar sobre assuntos mais sérios (por assim dizer). Daqueles que diziam respeito a seus sentimentos, sonhos e medos mais profundos. Elas se aproximaram bastante desde que a antiga Rainha Má se sacrificara pela vida da Salvadora e de Mary Margaret. 

Desde que voltou da floresta encantada, Emma também começou a passar mais tempo com Henry, e após mudar seu conceito sobre Regina, resolveu deixá-lo na mansão aos fins de semana. Mary, por diversas vezes, fez questão de expressar sua opinião a respeito dessa aproximação do trio. Para ela, Regina ainda não era uma pessoa confiável, pois no passado havia recebido oportunidades de se redimir por seus erros, mas só piorou as coisas ao infligir mais sofrimento aos pobres habitantes do reino encantado. 

Para Emma passado era passado e, por mais que Mary criasse argumentos contra a prefeita, suas atitudes em relação a Regina continuariam sendo amigáveis.

As reclamações de Mary duraram pelo menos duas semanas. Logo já havia se cansado de pegar no pé de sua filha, afinal, a moça tinha quase 30 anos e já podia muito bem lidar com as consequências de suas escolhas. E Emma escolheu conhecer mais a fundo a prefeita, queria muito saber quais seriam as motivações pelas quais fora capaz de sacrificar sua vida.

Henry.

Ele era o principal ponto de ligação entre as vidas de ambas as mulheres, por mais que Regina quisesse mante-lo longe de Emma aquilo já nem era possível, visto que já estava profundamente conectado a cada uma delas. O garoto se tornou a força motriz responsável pelo ato heroico da ex-Rainha Má, e mais do que isso, ele acabou se transformando na própria corrente entre as mães. Com o tempo, as conversas entre elas, que rapidamente passaram a ser cada vez mais frequentes, possibilitaram um trato em relação ao modo como cuidariam do menino, e mesmo não confiando inteiramente na mãe biológica de Henry, a prefeita aceitara a oferta como a única possibilidade de recuperar a confiança de seu amado filho.

Aos poucos, Emma começou a curtir a adorável rotina na qual se encontrou quando retornou, e cuja qual seguia a risca. Todos os dias pela manhã levava Henry ao colégio, depois cumpria suas atribuições como xerife e após o almoço esperava o ônibus que trazia seu filho de volta. Assim que o ajudava com o dever de casa, ambos partiam numa exploração da cidade. Costumavam ir ao parque e se divertiam com um par de walkie-talkies, simulando missões ultrassecretas onde Emma era sempre a agente ferida que acabava salva pelo incrível P-392 (codinome adotado por Henry). 

Aos fins de semana, Henry ficava com Regina, então o sábado era um dia onde todo o trabalho que não pode ser cumprido durante a semana no departamento do xerife era finalizado. No domingo à noite, Henry voltava para casa e depois de contar o que fizera na mansão, ouvia uma história e adormecia. Ocasionalmente no meio da semana, Emma recebia ligações de Regina que questionava preocupada sobre Henry; perguntando se ele estava comendo bem, fazendo o dever de casa, se estava feliz, se sentia sua falta... A xerife passou a aproveitar essas conversas para ganhar a confiança da prefeita.

Essa cordialidade formada entre as duas foi a razão pela qual Regina a chamou para jantar numa noite de domingo.

Emma entrou em seu fusca prestes a ir até a mansão buscar Henry, quando recebeu uma ligação da prefeita convidando-a a ficar para o jantar. Sua surpresa a motivou a aceitar. A lasanha de Regina poderia muito bem ser considerada a oitava maravilha do mundo. Segundo ela, cozinhar se tratava de coisa de família, por isso jurou que além da lasanha, suas tortas e licores fariam qualquer um se encher com gosto. O jantar foi muito agradável para os três, e Henry não queria voltar para casa de Mary tão cedo, tanto que chantageou as duas mães em troca de mais uma hora no videogame.

Enquanto o garoto se divertia no Mario Kart, Regina convidou Emma para mais uma vez provar da cidra de maçã que tinha guardada em seu escritório. Sem querer, a prefeita deixou escapar sua insegurança perante a eleição que definiria um novo governante para a cidade, e que se daria no ano seguinte. Emma mais uma vez ficou surpresa, toda aquela ideia de Regina sendo uma mulher fria e impiedosa se desconstruiu ao longo das duas semanas anteriores, ela realmente não sabia mais o que esperar da morena.

As amáveis palavras de Emma em relação a confiança que depositava em Regina, a fizeram se sentir tão serena quanto as águas de um lago. Desde que havia sido salva do Wraith, a prefeita se intrigava cada vez mais com aquela mulher. Sentia por ela algo que definia como ódio, mas no fundo sabia que era diferente do que sentia por Mary, era denso mas ao mesmo tempo superficial, ou seja, confuso.

Naquela noite as duas perceberam que podiam chamar aquilo que tinham de amizade.

Na semanas que se seguiram, Regina passou a perguntar muito mais coisas em seus telefonemas, notou que soltava risadas impensadas nos diálogos que tinha com a xerife, e a sensação que isso lhe causava era a melhor possível. Emma sempre arranjava um jeito de ser engraçadinha pois adorava arrancar gargalhadas da prefeita, até o momento ela tinha sido a única além de Henry a conseguir isso nos últimos 30 anos, era algo para se orgulhar.

Seus corações foram preenchidos por uma leveza indescritível na semana passada.

Mas tudo mudou no último domingo...

David havia buscado Henry algumas horas mais cedo, a fim de levá-lo para ver os cavalos antes que Regina lhe matriculasse nas aulas de equitação. Para a surpresa da morena, Emma apareceu em sua porta naquela noite, e parecia estranhamente nervosa.

A xerife estava ali não por Henry, mas por Regina, mais precisamente por algo que nos últimos dias lhe tirava o sono.

Invadiu a casa da prefeita com um "Precisamos conversar!" apressado e seco. A outra mulher se limitou a fechar a porta atrás de si antes de olhar atentamente a loira e preparar-se para o que ela tinha a dizer.

Apesar da fala de Emma sugerir um diálogo, aquilo foi praticamente um monólogo, onde a moça tropeçou em palavras e quase não se fez entender. Mas aos poucos todas as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar e Regina então percebeu a razão pela qual aquilo não estava sendo fácil de se dizer. Sentira-se tonta de repente, como se tivesse perdido o chão abaixo de si. Estariam as paredes daquele comodo se aproximando e diminuindo a quantidade de oxigênio disponível?

"... e aumenta cada vez que te olho nos olhos." Sua visão se tornou turva e aquela voz parecia cada vez mais distante. Uma força interior lhe impediu de desmaiar ali mesmo. A morena inspirou profundamente, soltando o ar logo em seguida.

"Isso não está acontecendo!" repetia para si mesma.

Finalmente, se deu conta de que Emma lhe olhava como se esperasse uma resposta. Mas qual seria a coisa certa a se falar depois daquilo? Uma tensão percorria seu corpo, seus pensamentos eram os mais diversos, como escolher um deles para traduzir em palavras? Reprovou a si mesma por não conseguir reagir àquela situação. Sabia que a bagunça que agora tomava conta de sua mente dava forma a sua expressão facial. De todas as vozes em sua cabeça, a que se destacava proferia palavras carregadas de desprezo.

Antes que Regina pudesse dizer qualquer coisa, Emma atravessou o comodo, tão rápida quanto um raio, batendo furiosamente a porta de entrada da grande mansão, deixando para trás uma confusa mulher e suas lágrimas.

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