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Antes que eu possa começar a atender, meu nome soa pelos autofalantes do hospital

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Antes que eu possa começar a atender, meu nome soa pelos autofalantes do hospital. Aparentemente, estou convocado para uma reunião em cima da hora. Quando chego ao auditório, vejo que está lotado. Miles está ao meu lado, olhando-me de lado completamente desconfortável. Todos os médicos que não estão no plantão da manhã encontram-se sentados em cadeiras vermelhas, na sala de reuniões. Inclusive eu. Até Kelsey, a mal-humorada chefe das enfermeiras, está assistindo a palestra de um canto isolado.

Toda a diretoria está aqui, inclusive Phill McTurner, diretor do hospital.

Esses tipos de reuniões, onde nos obrigam a ouvir pessoas que nem sequer atuam na área de medicina falarem por horas a fio, sempre antecedem notícias bombásticas. Mas algo me dizia que a novidade de hoje era que iriam desligar os aparelhos da paciente do quarto 602. A jovem noiva, Ana.

Consegui evitar que isso acontecesse por um longo tempo, mas desde que o hospital entrou em reforma e houve um grande corte de funcionários e remanejamento de pacientes tudo vem afunilando de um modo tão intenso que sinto que hoje terei que lutar com mãos de ferro.

Enquanto a palestrante continua falando lá na frente, passando os slides e fazendo piadas sem graça apenas para prender a atenção de meus colegas, eu só consigo pensar em Ana.

Estou preocupado com ela. Muito, muito preocupado.

Se o conselho administrativo convencer a diretoria, principalmente Phill McTurner, a dar baixa na jovem noiva eu estarei de mãos atadas. Não há nenhum familiar que reconheça Ana e tente lutar por ela. Nem sabemos de onde ela é, se de fato tem família... Tudo que há sobre ela esta em uma pasta de arquivos, mofando há anos em alguma gaveta por aí.

Mas essas poucas informações não são suficientes. Apenas sei que Ana dirigia uma range rover quando capotou no lago. Sei que estava sozinha quando se afogou. Sei que seu tipo de sangue é O- e que seu corpo reage mal a altas doses de medicamentos. Durante longos seis anos, isso é quase tudo que sei sobre ela.

Desconfio que no dia em que quase morreu, Ana estava prestes a se casar. O vestido de noiva e os sapatos caros me fazem apostar altas fichas nessa teoria.

Ela é tão misteriosa que apesar da polícia ter investigado todas as igrejas/cartórios/casas de festas de Boston nenhuma tinha um casamento marcado pro dia do acidente. Se minha paciente realmente ia se casar, onde ela pretendia o fazer? Quem era o noivo, que apesar de ver o rosto da amada estampando milhares de revistas e jornais, nunca a procurou?

E como alguém consegue permanecer uma incógnita durante seis anos? Eles não podiam desligar os aparelhos de Ana! Ela precisava acordar e dar as respostas que nunca encontramos!

— Doutor Benjamin Walsh e Doutor Miles Ward, por favor, me acompanhem até minha sala. — A voz severa de Phill ecoa e só então percebo que a palestra acabou e que todos já estão saindo. Miles, que está tentando falar comigo desde antes da palestra, agora parece estar se afastando ao máximo. Porém, o conheço bem demais e sei que ele está me evitando porque sabe de algo que não quer me contar.

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