Capítulo 1

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- Raposo, não pegue! Raposo, não pegue!

- Não acredito que você ainda vê isso, Lana - eu disse à minha irmã, assim que entrei em casa. - Isso é coisa de criança.

Coloquei minha bolsa no chão e me sentei na poltrona, em seguida tirando meus sapatos.

- E eu sou o que? Eu só tenho 9 anos, esqueceu?

- Mas seus amiguinhos não assistem mais Dora, A Aventureira!

- E por acaso os seus ainda assistem Backyardigans?

Droga. O único argumento plausível agora seria:

- Eles são meus amiguinhos!

Ela riu. Ah, cara, é que Dora Aventureira me traz muitas lembranças, né? Já faz dois anos, eu sei. Eu deveria ter ido procurá-lo, eu sei. Eu poderia ter mandado um "oi sumido rs", eu sei. Mas é difícil. E por que ele não me procurou? Bom, devido ao fato de meu celular ter sido esquecido por mim no banheiro da rodoviária e de eu ter que comprar um novo com um chip novo também, pode ser que ele tenha me procurado e eu não estou sabendo. Mas essa é uma pequena probabilidade. Porque internet tá aí, não é minha gente? Eu tenho tudo quanto é tipo de rede social e ele também. Isso mostra que ele não procurou. Sou orgulhosa e não procurei também.

Fui para o meu quarto ler os livros que havia pegado na biblioteca, quando a campainha tocou.

- Lyra, a campainha tá tocando! Atende que eu tô ocupada!

Passei pela sala e lá estava Lana, super ocupada arremessando pipocas até que uma caísse em sua boca. Abri a porta e era o carteiro, segurando uma caixa roxa. Ué, não compramos nada ultimamente. Assinei a folha e agradeci.

- O que é? - Minha irmã veio correndo.

- Não sei. Vamos ver.

Nós duas nos sentamos no tapete e Lana pegou uma tesoura para ajudar a abrir a caixa. Sem paciência alguma, ela começou a socar a caixa com a tesoura, fazendo vários furos nela.

- Shhh. - Abracei a caixa e a acariciei. - Eu sei, eu sei, minha irmã é retardada. Não se preocupe, eu tenho senso e vou abrir você corretamente, ok?

- Eu não sou retardada.

- Mas é claro que não, querida. - Dei dois tapinhas no ombro dela, o que a fez ficar com raiva.

- Abre logo isso aí!

Assim que eu abri a caixa, ela pegou o envelope que estava em cima de tudo.

- Uh, é pra nós três. - Com "nós três", ela se refere a mim, a ela e a nossa mãe. - Que diabos de nome é Zaffir?

- O que é isso? - Tomei o cartão da mão dela.

Era um convite... de casamento. Uh, titia laçou o Zaffir. Até que é bonito esse convite, para as coisas que ela usa. O envelope era lilás e o convite, branco. O escrito era em dourado é destacado, tudo muito chique. Curti. Só não curti o marido, né? Ainda odeio esse homem.

- Esse cara é bonito?

- Sabe o demônio? Então, são gêmeos.

Continuamos mexendo no que tinha. Uma carta para a minha mãe, duas caixas lilás pequenas e uma dourada um pouco maior. Uma para cada uma de nós. A minha e a da minha irmã tinham praticamente a mesma coisa: era uma caixa com maquiagens pequenas super fofas. A outra nós não abrimos.

Assim que minha mãe chegou do trabalho, minha irmã foi correndo contar a novidade.

- Mãe! Olha, mãe! Olha!

- Calma, Lana. Tenho que guardar as compras. Hoje vamos jantar pizza.

- Que surpresa! - eu disse, irônica.

Desde que meu pai foi embora de casa... Aliás, eu deveria chamá-lo de pai? Acho que ele não merece esse título... Então, desde que o cara do espermatozoide foi embora de casa, que foi quando minha irmã tinha 2 anos e meio, nós só comemos coisas rápidas de ficarem prontas, ou seja, congelados. Um estilo de vida que eu não venero muito, mas sempre foi assim, então pra minha mãe não tem o porquê mudá-lo.

- Mãe! Presta atenção, é coisa importante!

- Ok ok, pode falar, meu amor.

- Tia Josie vai casaaaaaaaaar! A gente recebeu o convite hoje!

- Quando será isso? No meio do ano?

- Mês que vem.

- É o que? A sua tia tá doida?

- Tem uma carta pra você.

Ela leu com uma cara inicialmente inexpressiva que, ao longo das palavras lidas, estava abrindo um sorriso. Assim que terminou, ligou para tia Josie e ficou meia hora conversando com ela. Eu e Lana só esperamos para saber mais informações.

- E aí? O que conversaram?

- Bom... Você, Lana, entrará com as alianças, se você aceitar, é claro.

- Aceito! Aceito aceito! Super aceito!

- E eu sou mais uma convidada - conclui. - Valeu tia... Na verdade, é culpa do Zaffir. Ele me odeia. Mãe, esse homem tem mágoas de mim, sendo que eu nunca fiz nada a ele...

- Você entrará atrás da Lana, Lyra. Carregando um buquê, ao lado de seu primo Dave.

Travei. Não vou. Nem cagando. Ah, mas eu nunca entrei na igreja... Ah, mas é com David né... Será que isso daria certo? Só irei vê-lo no casamento, depois adeus de novo.

- Hm, tá, é, pode ser.

- E tem mais. Iremos para lá duas semanas antes do casamento, para tudo sair certinho.

- O primo vai também?

- Ora, eu acho que sim, ele precisa ajustar o terno, não é?

Vamos recapitular aqui. Só irei vê-lo por duas semanas até o casamento. Você aguenta, Lyra. Você é segura de si. Não, eu não sou. Eu ainda tô apaixonadinha. Tá, mas e se ele ainda estiver apaixonado também? Duas semanas é bastante tempo pra reaproximar... Só vamos.

2 SemanasWhere stories live. Discover now