11. ESSÊNCIA

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Produzir ideias tem um preço, ser diferente tem um preço, nem sempre fácil de pagar, mas necessário para saldar o débito com o nosso próprio Eu.

- Augusto Cury

- Deem espaço, por favor! - ralhou a srta. Peregrine, depois que levamos Alex para dentro de um dos quartos do orfanato. O garoto já estava perdendo sua tonalidade de oliva, faltava pouco tempo para ele desmaiar. Os olhos pesados expressavam isso.

- O que houve, srta. Peregrine? - Emma nos empurrou assim que viu o garoto sendo arrastado pelo chão (os Bruntley ainda não conseguiam carregá-lo) - Pela Ave, Alex está sangrando! E por que Millard está visível?

- Emma, essa não é a melhor hora para perguntas. - a frase nem chegou a ser dita completamente. Emma rugiu como um leão faminto e fez um movimento brusco com as mãos.

Eu sabia qual era seu plano: nos intimidar com uma chama formada pelas suas mãos, mas nada adiantou. Como resultado, apenas uma linha de fumaça curvilínea foi originada da ponta de seus dedos. A menina abriu a boca, espantada, sem entender absolutamente nada. A verdade era que, enquanto Cassie ficasse perto de qualquer um de nós, nossas habilidades não funcionariam regularmente. Essa era sua habilidade: uma espécie de dasativador peculiar.

- O que está acontecendo? - questionou ela, olhando perdidamente para as mãos que deveriam estar quentes. Emma começou a apalpar os próprios braços, como se o ar estivesse gélido - Por que está tão frio aqui?

- Não está. - a srta. Peregrine esticou o pescoço para perto de Emma, levando a mão até a testa da garota. Instantaneamente, Alma a puxou, como quem tocasse em fogo. Em seguida, lançou um olhar ameaçador para cada um de nós - Você está congelando, srta. Bloom! Alguém tem algo a dizer?

Olhamos para baixo, sem saber o que fazer. O que diríamos, que Cassie descobriu sua peculiaridade no pior momento possível? Que ela estava sugando nossas habilidades? A realidade nem sempre é agradável como alguns pensam. Cassandra deu um passo corajoso para frente, adquirindo uma postura rígida, que nem a de nossa mentora.

- Foi minha culpa. - falou com insegurança - Eu descobri minha peculiaridade. Consigo desligar as habilidades de quem eu quiser, mas ainda não tenho controle sobre isso. O motivo de Alex ter caído? Também fui eu.

- Não s-seja tola, Cassie. - Alex procurou defender a menina, deixando tosses ríspidas saírem de sua boca. Cassie, de repente, parecia não conseguir segurar as lágrimas - Não é sua culpa.

- É... - tentei consolá-la, unindo minhas mãos às suas. Elas estavam tão geladas quanto as de Emma, muito provavelmente - Você é uma de nós, Cas. Sabemos que esse tipo de coisa deveria acontecer.

Ela não parou de chorar, de nada adiantou. Quando mais lágrimas fizeram presença em seu rosto, a sensação de enjoo me atacou novamente, dessa vez com mais intensidade. Ela estava fazendo aquilo de novo!

- É mentira! - berrou, largando meus dedos visíveis e indo em direção à porta - Eu sou um monstro. Olhe tudo o que eu fiz! Não mereço esse lugar. Não mereço viver com vocês.

Então ela se foi, deixando o ambiente muito mais tenso. Senti um formigamento no estômago, onde antes residiam as pinicantes e inexistentes agulhas. Eu estava voltando a ser invisível novamente.

- Não temos tempo para resolver esse problema, sr. Nullings. - srta. Perergine murmurou, com passos pesados - Srta. Bruntley, pegue meu kit de costura. Srta. Bloom, quero que traga meu baú de primeiros socorros. Vou precisar anestesiar o sr. Mubarak.

MIRROR ;; millard n. ( ✓ )Where stories live. Discover now