Capítulo 14

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CAMILA PDV

Eu sempre fui uma pessoa muito simpática. Pelo menos era o que minha mãe dizia sobre mim.

Dona Sinu costumava dizer que eu mudava constantemente de humor. De alegre à triste, grossa à simpática, amorosa à raivosa. E isso poderia ser dito como bipolaridade, mas minha mãe dizia que isso era minha alma reagindo às pessoas.

Eu era muito sensível às situações.

Por isso tive que aprender a controlar minhas expressões e minhas emoções. Não ser impulsiva, mas não ser lenta. Ser instintiva, mas não ser idiota. Não ser fechada, mas ser desconfiada.

Se eu não tivesse me adaptado provavelmente estaria morta. Ou vagando por aí...

Mas, mesmo com todo meu esforço, meu lado instintivo ainda falava mais alto às vezes. Como por exemplo, quando decidi ser bondosa com o casal na rodovia.

Eu tenho esse enorme carinho por grávidas. Quando minha mãe engravidou de Sofia eu tinha onze anos. Foi maravilhoso, mesmo com todas as adversidades da gestação. Eu e meu pai mimávamos tanto Dona Sinu que ela dizia que arriscaria engravidar mais uma vez apenas para receber tais carinhos.

Claro que ela não faria essa loucura.

Eu olhava barriga sinuosa de minha mãe e adorava manter a minha mão em cima da pele apenas para sentir os chutes da minha irmãzinha. Quando soube que seria uma menina eu fiquei radiante, pois teria alguém para dividir meu segredos íntimos e além claro, precisar ser responsável por educá-la do jeito que só uma irmã pode fazer.

Eu já amava Sofia Cabello antes mesmo de vê-la.

E quando eu vi a barriga daquela mulher da rodovia meu lado materno se aflorou fortemente. Se ela precisasse de comida, eu daria a minha. Se ela precisasse de uma cama, eu oferecia a minha.

A gestação é um presente, não um castigo.

E até esse sentimento doce esse mundo tirou de mim.

Mostrou-me que esse presente poderia ser uma armadilha. Uma mulher atraindo pessoas para mãos de monstros como aqueles dois irmãos. Eu não sabia a relação da mulher e seu real marido com os irmãos e nem me interessava em saber, mas ela deveria ter um senso de julgamento.

Por quê?

Diante de tudo que aconteceu senti-me indefesa e precisava de um toque carinhoso.

Essa a justificativa que eu repetia em eterno looping em minha mente. Senti-me indefesa e precisava de um toque carinhoso, por isso entreguei-me novamente à Lauren na noite passada.

Eu esperava pelo menos um pouco de compreensão por parte dela. Não esperava que ela fosse o tipo de garota que, no dia seguinte, esperava algo além de uma conversa casual. Não esperava que Lauren fosse sentimental. Até porque ela raramente demonstrava sentimentos além de raiva e um pouquinho de empatia.

Mas... ao mesmo tempo em que eu queria acreditar em tais mentiras, o meu lado racional tentava me corrigir. Eu não deixei Lauren falar, eu não deixei que ela se explicasse. Se isso fora uma estratégia de defesa? Certamente. Como eu disse, minha alma era sensível demais e, para sobreviver, eu havia me adaptado. E, por mais que minhas ações fossem confusas, contraditórias e até perigosas... eram as únicas maneiras que havia encontrado, sem apoio psicológico de um profissional de tal área, para sobreviver à anarquia da sociedade atual.

E, aparentemente depois de tudo o que aconteceu, meu emocional estava abalado demais.

***

Into The DeadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora