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O resto do dia passou muito devagar, parecia que os minutos tinham virado horas, ela não saia da minha cabeça. No trabalho eu havia desenhado os olhos dela no meu caderno, grandes, assustados e cansados. Eu não sabia que porra estava acontecendo comigo, eu mal a conhecia, só sabia que ela era barulhenta, e também que era casada. Devia me envergonhar de pensar tanto assim em uma mulher casada.
Mas seu jeito era tão intrigante, ela tinha uma energia tão intensa, eu ainda não sabia se boa ou ruim, mas era uma impressão forte.

— Ei cara, acorda. — Louis balançava a mão na minha cara. — O que deu em você? Não participou da aula, ficou aí olhando pro nada.

— Deixa de besteira, só estou cansado. — levantei e puxei ele comigo para fora da sala, ignorando o olhar do professor em nossa direção.

— Tá acontecendo algo sim, me diz, falta de inspiração? — Ah, se ele soubesse.

— Muita inspiração. Não dá nem pra aguentar. — e lá estava ela, outra vez invadindo minha mente, com seus grandes olhos azuis.

— Então, tá resolvido. — ele deu de ombros — Vá para casa e pinte como um miserável sem vida social.

Dei um tapa na sua cabeça, mas era exatamente isso que eu ia fazer.

Cheguei em casa e liguei às luzes, precisava de um banho, urgentemente.

Sempre gostei de ficar sozinho, pra mim a solução atiçava a criatividade, e eu era um artista então...

Comi o resto do almoço e lavei a louça, minha mãe ficaria orgulhosa se me visse agora, ou encheria o saco pedindo netos. De qualquer modo eu tinha que ir visita-la, já faz tanto tempo que não a via.

Alguém bateu na porta, me assustando, me levantei e fui abrir, imaginando se encontraria um certo par de olhos.
Ao invés disso, não encontrei nada, ah claro. Um dos males de se morar no último andar é que as crianças adoram pregar peças, principalmente quando só se tem dois apartamentos ocupados.

Olhei para a porta dela, e ela estava lá, aparentemente ela também havia sido vítima das pestes do segundo andar.
Ela vestia um vestido até os joelhos, uma meia calça preta por baixo e chinelos felpudos. Ela me viu e sorriu.

— Crianças. — eu disse, ela soltou uma risada baixa e então pareceu culpada, olhou para trás com a expressão séria.

Eu não entendia nada, mas continuei lá, observando as facetas dessa mulher que era tão misteriosa.
Um barulho na escada assustou nós dois, mas ela viu o que era primeiro.

Ela arregalou os olhos, olhou para mim e fez um sinal com a cabeça que eu não entendi, então continuei lá, esperando pra ver o que tinha feito o tal barulho.

Então, eu o vi, aquele que eu presumia ser seu marido, estava parado no corredor ofegando como um animal olhando na direção dela que parecia muito menor em relação a ele.

Gente, deu um probleminha ontem nos comentários, mas já foi resolvido (magicamente)
Continuem comentando, eles são o maior incentivo.
Vivs.

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